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Linguistica

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Por:   •  21/3/2015  •  7.274 Palavras (30 Páginas)  •  312 Visualizações

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Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa

(ILTEC)

Diversidade

Linguística

na Escola Portuguesa

www.iltec.pt www.dgidc.min-edu.pt www.gulbenkian.pt

Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa 1

Crioulo de Cabo Verde

1. Aspectos Sociolinguísticos

1.1. O Crioulo em Cabo Verde

O Cabo-verdiano é uma língua crioula de base portuguesa que se formou algumas décadas após

o início da ocupação do arquipélago de Cabo Verde, nomeadamente das ilhas de Santiago e do

Fogo, em 1462. Chama-se crioulo por duas razões, uma de carácter histórico e outra de carácter

linguístico. No século XVI, usava-se a palavra crioulo (originalmente, “pequena cria”) para

designar os escravos que se criavam nas terras descobertas e ocupadas pelos portugueses. O

termo estendeu-se, depois, a todos os “naturais” dessas terras, nelas nascidos, e, finalmente,

passou a designar também as línguas por eles faladas.

Diz-se, ainda, que uma língua é um crioulo quando surge em condições sociolinguísticas muito

especiais que obrigam à coexistência, numa comunidade relativamente estável, de falantes de

línguas maternas diferentes que não se entendem mutuamente mas que, para sobreviverem,

necessitam urgentemente de comunicar. Nestas condições, a língua adoptada pela comunidade

é, por razões sociais, a do grupo dominante que em geral é muito inferior, em número, ao dos

falantes das outras línguas maternas.

Inicia-se, assim, um processo espontâneo e colectivo de aquisição da língua dominante, língua

essa que, no entanto, não constitui um modelo facilmente acessível (nem adquirível), dada a

fraca e distante presença dos seus falantes nativos. Apesar de tudo, a urgência obriga a que os

“aprendizes” continuem a tentar comunicar, socorrendo-se de várias estratégias: apropriam-se

do léxico a que têm acesso; procedem a inovações no modo de o estruturar e organizar

sintagmaticamente e, em simultâneo, recorrem às unidades e estruturas próprias das suas línguas

maternas.

Surge, assim, entre os adultos, uma forma de linguagem muito variável e instável (mas já bem

diferenciada das línguas originais) que as gerações seguintes se encarregam de regularizar,

adoptando de forma sistemática algumas das variantes em competição. Temos, então, um

crioulo.

Dizemos que o Cabo-verdiano é um crioulo de base lexical portuguesa porque, neste caso, a

língua dominante que esteve na origem da formação do Crioulo e que lhe “forneceu” a maioria

do seu léxico foi o Português. Se a língua dominante fosse outra, diríamos, por exemplo, ter-se

formado um crioulo de base inglesa ou de base francesa…

Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa 2

Como o Cabo-verdiano, muitos outros crioulosde base portuguesa se formaram no mundo em

resultado do contacto entre povos e línguas desencadeado pelos descobrimentos. É o caso do

Crioulo forro de S. Tomé, do Crioulo da Guiné-Bissau, do Crioulo de Korlai, na Índia, ou do

Papia Kristang, na Malásia, para dar apenas alguns exemplos.

Cabo Verde era um arquipélago deserto, constituído por dez ilhas, das quais apenas nove foram

povoadas, embora em épocas diferentes. Ao sul,em Sotavento, temos as ilhas de Maio,

Santiago, Fogo e Brava. Mais a norte, são as ilhas de Barlavento: Boa Vista, Sal, S. Nicolau,

Santa Luzia (deserta), S. Vicente e Santo Antão.

Primeiro, como dissemos, deu-se o povoamento de Santiago (a ilha maior, onde actualmente

está sediada a capital, cidade da Praia); logo de seguida do Fogo e depois da Brava. Santo Antão

e S. Nicolau, em Barlavento, foram povoadas com gente vinda de Santiago e do Fogo logo no

século XVII, ao passo que só houve um verdadeiro povoamento de S. Vicente a partir dos finais

do século XVIII. A distância temporal entre a primeira e a última fase do povoamento do

arquipélago e o modo como este foi feito nas diferentes ilhas em questão fizeram com que

existisse uma variação dialectal acentuada, nomeadamente entre as ilhas de Santiago e de S.

Vicente.

Desde a sua formação até aos nossos dias o Crioulo Cabo-verdiano manteve-se em contacto

quase exclusivo com a língua portuguesa. Privados das relações com as suas terras de origem,

no continente africano, mais precisamente na região em que se localizam agora o Senegal e a

Guiné-Bissau, os escravos africanos acabaram pordeixar morrer as suas línguas maternas. Deste

modo, em Cabo Verde existem apenas duas línguas nacionais: o Crioulo e o Português. Até

hoje, só o Português ganhou o estatuto de língua oficial, embora se anuncie para breve um novo

estatuto para o Crioulo: o de “língua

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