Lirica Medieval
Pesquisas Acadêmicas: Lirica Medieval. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Delsena • 24/11/2013 • 1.820 Palavras (8 Páginas) • 840 Visualizações
Universidade Federal do Pará – UFPA
Instituto de Letras e Comunicação – ILC
Faculdade de Letras – FALE
Disciplina: Literatura Portuguesa Medieval
Docente: Prof. Dr. Fernando Maués
Discentes: Emerson Sena Mª 12119001001
Turma: 11910 – Matutino
Alguns teóricos têm seus estudos voltados para a temática a “lírica Medieval”. Porém nem todos colocam de maneira igualitária aquilo que se é trabalhado, pois expor de maneira disposta o lirismo trovadoresco é indispensável, visto que, após anos de história podemos encontrar algumas evidências de tal lírica em alguns movimentos literários recentes. É o que podemos dizer do Concretismo de Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, pois, assim como a lírica trovadoresca, o movimento explorava a musicalidade do poema em um aproveitamento morfossintático e semântico da língua.
Se formos tomar esta perspectiva de trabalhar a lírica trovadoresca de forma organizada podemos afirmar que Lênia Márcia Mongelli, em Fremosos cantares, aborda perfeitamente esta temática, pois com uma linguagem bem produzida a autora destaca pontos que são importantes para a compreensão do que foi a lírica medieval, mas especificamente a produção galego-portuguesa.
O primeiro ponto importante a se destacar ao falar da lírica medieval é que essa produção literária se deu em uma época em que o feudalismo se fazia presente, que as relações entre homens se davam através da suserania e vassalagem, e que a mulher era vista como algo semelhante a virgem Maria – pensamento herdado da instituição doutrinária ideologicamente daquela época, em que a mesma era vista como matriarca da família. Assim, ficam marcadas nas cantigas (poesias recitadas pelos jograis com acompanhamento de instrumentos musicais), mais especificamente as cantigas de amor, manifestações sentimentais do homem medieval. Logo, é importante também ressaltar que as produções literárias daquela época sofriam forte influencia do momento histórico-cultural em que se vivia, um exemplo disso foi a existência das kharjas, poemas curtos com ou dois versos em língua moçárabe – língua falada por uma pequena população cristã sobre o domínio árabe.
Como toda produção literária, as cantigas, tanto provençais quanto galego-portuguesas, tiveram suas fontes manuscritas chamadas cancioneiros. Estes restaram em grande quantidade para a produção provençal, que se deram em torno de 95 Cancioneiros, com mais ou menos 2.542 cantigas (sendo 256, em alguns desses Cancioneiros, acompanhadas de respectiva melodia), todas compostas por 350 poetas (MONGELLI, 2009). Por outro lado, com forte influência provençal, têm-se às cantigas galego-portuguesas que, diferentemente das provençais, aparece registrada em um material mais escasso, com apenas três cancioneiros tendo 1.664 cantigas (com apenas 13 incluído pauta musical), compostas por 150 trovadores e jograis.
Os cancioneiros galego-portugueses são distribuídos em Cancioneiro da ajuda (I) – elaborado nos fins do século XIII –, Cancioneiro da Biblioteca Nacional (II) e Cancioneiro da Vaticana (III) – escritos por volta do século XIV. O primeiro cancioneiro traz consigo apenas o gênero das cantigas de amor. O segundo e o terceiro cancioneiro abrangem as cantigas de amor, amigo, escárnio e maldizer. Porém, de todos os cancioneiros, o II é considerado, por muitos autores, o mais completo, pois inclui todas as cantigas que há no Cancioneiro da Vaticana e quase todas do Cancioneiro da Ajuda – com exceção de 64 cantigas –, possuindo também o tratado poético em seu interior, chamado de Arte de trovar.
Destarte, partindo agora para os gêneros das cantigas, que no qual a arte de trovar considera como se fossem três (cantigas de amor, amigo e a de escárnio e maldizer), podemos dizer que as cantigas de amor se diferenciam primeiramente das cantigas de amigo por estas possuírem um eu lírico feminino, enquanto as de amor possuem um eu lírico masculino assim, vale ressaltar que as cantigas de amor possuem o “amor cortes” – um amor que correspondia apenas a uma parte da corte, revelando uma postura medieval, pois os homens além de terem ensinamentos para as guerras, vão ter que se refinar para obter seus desejos carnais. Já as cantigas de escárnio e maldizer, podemos afirmar que ambas possuem o teor de satirizar, mas que se diferenciam quando aplicadas a ironia, pois as cantigas de escárnio possuem uma revelação mais direta, tornando a ironia um elemento completamente presente neste tipo de cantiga, enquanto as cantigas de maldizer se fazem em um âmbito mais direto, excluindo assim a ironia na produção das mesmas.
Caraterizadas primeiramente por um eu lírico masculino, as cantigas de amor galego-portuguesas sofrem forte influencia do cansó provençal. Porém, na comparação entre ambas podemos perceber que as cantigas de amor galego-portuguesas são caracterizadas por uma repetitiva pieguice (o morrer pela amada), pois denotam uma concentração do sentimento que o trovador tem por sua senhora, diferente do que ocorre na lírica provençal, em que o sentimento é “menos sincero”, na opinião de Dom Dinis, que contrapõe nitidamente este conceito na cantiga de escárnio “Proençaes soen mui bem trobar”, no qual podemos ver uma comparação entre a emoção que os trovadores provençais sentiam e a “gram coita” (a dor, o sofrimento) que os galego-portugueses demonstram em seus poemas, ansiosos pela “dama inatingível” (MONGELLI, 2009). Este caráter repetitivo das cantigas de amor galego-portuguesas é encarado, de certa forma, como a pura impressão forte de sentimentalismo amoroso, pois segundo M. Rodrigues Lapa, em Lições de Literatura Portuguesa (1952), a poesia galego-portuguesa é mais amorosa do que a poesia provençal:
O caráter repetitivo do nosso lirismo explica-se por razões de ordem psicológica e artística. Em primeiro lugar, a nossa poesia amorosa é mais do coração que a poesia provençal. Nesta, como vimos, a inteligência e a imaginação suprem muitas vezes a falta de emoção. Por isso, a poesia se alonga, num recreio dos sentidos, através de seis e sete estrofes e mis ainda. (Lapa, 1952, p. 122)
Outro ponto importante a se destacar é que as cantigas de amor, como dito acima, sofrem fortes influências histórico-culturais, e uma delas é que neste tipo de cantiga o sentimento é considerado inatingível, ou seja, é um sentimento em que não há correspondência, devido problemas como diferença entre classes sociais, resultando em uma dor infindável,
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