Marília de Dirceu
Por: mattaddison • 7/12/2015 • Resenha • 3.500 Palavras (14 Páginas) • 562 Visualizações
RESUMO
O presente artigo foi elaborado a partir da análise da obra “Marília de Dirceu” de Tomás Antônio Gonzaga, a lírica amorosa mais consagrada na literatura de língua portuguesa. O estudo se deu através da identificação de fatores intrínsecos e extrínsecos, tendo como principais objetivos discutir, informar e reafirmar as inúmeras temáticas existentes no poema em questão. A obra, considerada autobiográfica, possui fortes traços da personalidade de Gonzaga e se baseia em experiências concretas vivenciadas pelo autor.
INTRODUÇÃO
O trabalho aqui apresentado visa analisar a obra “Marília de Dirceu” observando seus aspectos intrínsecos e extrínsecos. A obra apresenta características Árcades, marcadas pela valorização da vida bucólica e dos elementos da natureza, levando em conta a época na qual foi escrita; porém apresenta também “aspectos” associados ao romantismo. Nossa análise propõe predizer algumas temáticas existentes dentro da obra que aludem aspectos também externos que contornam “Marília de Dirceu”. Tomás Antônio Gonzaga poeta português, inicia seus estudos aos 7 anos quando é mandado para a Bahia, estuda no Colégio dos Jesuítas, já com 17 anos ele viaja para Portugal. É nomeado ouvidor de Vila Rica em 1779, em casa de Dr. Bernardo da Silva conhece Maria Dorotéia, dezessete anos em Flor. Constrói a partir das palavras uma versão literária para seu drama real.
Marília de Dirceu retrata através da poesia um amor confesso de um pastor à uma pastora, personagem que dão vida no ambiente de campo árcade, a serenidade da paisagem, o bucolismo, o Carpe Diem, o amor puro, marcado por uma idealização, que deixa claro a essência da obra que se mistura a um emocionalismo pré-romântico.
Gonzaga enfrentava dificuldades no momento em que a escrevia, o que nos dá a ideia de uma projeção do seu sofrer, nos personagens, sendo este resultado do seu amor por Maria Dorotéia. Com uma linguagem simples característica da escrita Árcade, Gonzaga mostra de forma clara sua forma de escrever poesia que ao mesmo tempo é culta e também popular. A obra divide-se em duas partes, existindo uma terceira, mas que muitos críticos contestam que seja autentica. Na primeira parte das liras, a qual foi produzida antes de sua prisão, o momento vivido por ele durante a escrita da mesma, ocorre predomínio de composições convencionais onde ele declara e celebra seu amor por Marília, sendo que em algumas partes ele mal consegue disfarçar a confissão de amor de um homem maduro por uma garota, ele se vale de versos leves, tratados com facilidade.
“Foi um acaso feliz para a nossa literatura esta conjunção de um poeta de meia idade com a menina de dezessete anos. O quarentão é amoroso refinado, capaz de sentir poesia onde o adolescente só o vê o embaraço cotidiano; e a proximidade da velhice intensifica, em relação à moça em flor, um encantamento que mais se apura pela fuga do tempo e a previsão da morte”[1]
A segunda parte foi escrita na prisão onde seus versos exprimem a solidão de Dirceu, a saudade de Marília, nesse momento se revela a sua melhor poesia, também pode-se perceber características pré-românticas, o sentimento de injustiça, da solidão, a falta de Marília, o temor do futuro e a perspectiva de morte, que rompem constantemente o equilíbrio neoclássica. O tom confessional e o pessimismo prenunciam e emocionalismo romântico, marcado pela observação das condições do estado de alma, das emoções, da liberdade, desabafos sentimentais, a manifestação do poder de Deus através da natureza acolhedora ao homem, a temática voltada para o amor, para a saudade, o subjetivismo. Nestes seus versos são empregados verbos no passado que retratam as lembranças do poeta. Entretanto ainda com esse ar romântico a obra traz com clareza características como o pastoralismo, otimismo, simplicidade, o ideal burguês de vida que marca o arcadismo.
DESENVOLVIMENTO
Dando início ao texto de “Marília de Dirceu”, Tomás Antônio Gonzaga logo na primeira lira trata de apresentar Marília ao leitor, cuja imagem é esculpida por palavras que exprimem a veneração e aclamações de Dirceu pela mulher. A partir dessas palavras ou adjetivações, observamos a presença estilística de Gonzaga, onde o bucólico, o árcade e o neoclassicismo perpassam pelos seus versos a fim de construir todo o corpo do texto. Ao nos inteirar sobre a métrica da obra nota-se que:
“Em Marília de Dirceu, há refinada simplicidade neoclássica: uma dicção aparentemente direta e espontânea, cheia de imagens graciosas e de alegorias mitológicas; um ritmo agradável, suavizando pelos versos curtos, pela alternância de decassílabos e hexassílabos, pelo uso do refrão e dos versos brancos.
A estrutura métrica das liras é a versificação pouco variada e, a par dos versos de quatro silabas, melhor ditos células métricas, vem a redondilha menor, com acentuação na 2ª e 5 ª sílabas; o heróico quebrado, sempre em combinação; a redondilha maior, o decassílabo’’[2]
Na mesma lira, a cada oitava, o autor insere um dístico que evoca a beleza de Marília:
“Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!” (p.13, Lira I)
A obra é divida em três partes que marcam possivelmente, três fases da vida do autor. Onde em cada parte ele insere em sua poesia, histórias de uma vida que existe e um amor que pulsa. Histórias que aludem e nos leva a crer que sua amada Marília, vem a ser Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, uma jovem de mais ou menos dezessete anos a quem Tomás Antônio Gonzaga era apaixonado.
E seria Tomás Antônio Gonzaga o próprio Dirceu? Há uma forte presença do “eu” dentro da obra, presença que questiona, desmascara a preocupação com a idade, a efemeridade da vida e até mesmo a sua posição social:
“Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos ainda não está cortado
Os pastores, que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado.” (p.13, Lira I)
Outras temáticas vindas das idéias árcades bastante exploradas nos poemas, são o carpe diem (em latim; colha o dia) e o fugere urbem (em latim; fugir da cidade) inspirados nas frases do escritor latino Horácio, onde a vida pastoril é vista como a ideal, quiçá a melhor. Rechaçando o modo de vida na cidade, a própria burguesia e até mesmo aquilo que é inútil e supérfluo, outra idéia encontrada no arcadismo o “inutilia truncat” (em latim; cortar o inútil), vale ressaltar também a ótica mística do autor perante a vida em diversos versos das liras:
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