Metologia
Por: arianecosta • 27/9/2016 • Trabalho acadêmico • 2.716 Palavras (11 Páginas) • 276 Visualizações
O ciúme em “Dom Casmurro” de Machado de Assis e “Otelo, o Mouro de Veneza” de William Shakespeare.
RESUMO: o presente artigo vem tratar de uma temática bastante discutida na vida dos seres humanos e que toma bastante ênfase na convivência a dois: o ciúme. Aqui será abordado o sentimento como forma de provocação, de mudar o comportamento das personagens e de tomar conta de todo o enredo sem que este seja percebido e o seu real êxito, no decorrer da história. Na obra Dom Casmurro o ciúme se encontra quase como tema principal, já que toda a construção da narrativa se volta para o ciúme que o personagem Bentinho tem de sua esposa com seu melhor amigo. Em Otelo o ciúme acarretado é provocado de tal forma que leva Otelo a matar e cometer suicídio. Então percebe-se nas duas obras a discussão sobre os sentimentos humanos mais profundos e a capacidade que este tem de acarretar mudanças que tomem rumos significativos no desenlace das duas obras.
INTRODUÇÃO: Machado de Assis, além de ser considerado um dos maiores escritores da língua portuguesa, é conhecido por ter escrito, em suas obras, de maneira específica e características próprias. Na obra “Dom Casmurro”, na qual faremos uma análise breve, dando ênfase para o sentimento que circunda toda a trama e a sua semelhança com a tragédia shakespeariana “Otelo”, o ciúme que é um sentimento presente nas duas obras.
Já o escritor dramaturgo inglês Willian Shakespeare, é conhecido no mundo todo por sua vasta produção e sua colaboração para a literatura mundial. Eis aí um ponto semelhante entre ambos. Principalmente no que se refere à produção das duas obras, pois uma contém traços da outra, podendo-se dizer que uma de maneira bem específica foi influenciada pela outra.
No romance “Dom Casmurro”, encontra-se a presença de intertextualidade com a tragédia de Willian Shakespeare, “Otelo, O Mouro de Veneza”. Onde os dois personagens principais, são vítimas do seu ciúme e acabam assim desconfiando de suas esposas. O ciúme nas duas obras é um dos fatores que estão presentes em toda a história, fazendo com que o desfecho, nas duas, seja determinado devido à força que este sentimento possui e toma as personagens Otelo e Bentinho.
Machado de Assis e Dom Casmurro
Para Antônio Cândido (1995), coube a Machado de Assis dar aos seus romances uma densidade e uma qualidade estética insuperáveis em nossa literatura, que abriram caminhos para muitos outros escritores que vieram após ele, como, por exemplo, Mário de Andrade, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Clarice Lispector. É considerado o ícone da literatura brasileira, sendo objeto de estudo inclusive fora do Brasil.
Nesta obra do realismo Machado vem tratar de um dos assuntos que se fazem presentes como característica realista, no caso, o adultério que é tratado na literatura como maneira e forma de criticar a sociedade da época. Mas adotando o estilo machadiano, mesmo criticando e colocando em pauta o adultério de Capitu, não se deixa desvendar, ou seja, o mesmo não dá a entender diretamente que ocorreu, de fato, adultério. Machado deixa o leitor por si só, definir e concluir se houve ou não traição.
Machado de Assis, sendo autor se coloca como narrador onisciente, Dom Casmurro, para assim poder usar de seu poder de persuasão ao narrar a sua própria história, ou seja, é como se o autor não quisesse assumir posição diante dos fatos ocorridos. Neste caso Bentinho conduziria o leitor a tirar suas próprias conclusões. Na obra, Capitu não se defende, ou seja, não é posto em evidência a sua declaração, seu ponto de vista, já que as atitudes da personagem são manipuladas pelo narrador. Que através de seu amor árduo por Capitu desde adolescente vem criar por si só um sentimento de dúvida quanto à idoneidade de Capitu.
Um sentimento cruel e desconhecido, o puro ciúme, leitor da minhas entranhas.Tal foi o que me mordeu, ao repetir comigo as palavras de José Dias: “Algum peralta da vizinhança”. Em verdade, nunca pensara em tal desastre. Vivia tão nela, dela e para ela [...] Se ela vivia alegre é que já namorava outro, acompanhá-lo-ia com os olhos na rua, falar-lhe-ia à janela, às ave-marias, trocariam flores (ASSIS, 1997, p. 124-125).
Neste trecho da obra de Machado Bentinho vem mostrar ao leitor o sentimento árduo que é desencadeado devido a uma dúvida que lhe é colocada através das palavras de José Dias. Fica bem claro o notável sentimento que lhe corroe a alma e dando a partir daí medo de que porventura Capitu venha lhe trair. Tanto é que depois o próprio Bentinho cria uma traição por parte de Capitu com seu melhor amigo Escobar.
O ciúme tratado na obra vem ser colocado através de intertextualidade com a obra de Shakespeare, o Bento Santiago seria o Otelo da tragédia shekespeariana, sendo que os dois personagens deixam-se levar pela desconfiança e pelo ciúme. Enfatizando ainda mais a dúvida colocada sobre o enredo da obra machadiana. Sendo toda a obra tratada através da visão de Dom Casmurro, cria-se uma dúvida ao leitor, se realmente ouve a traição, já que toda essa dúvida foi criada a partir de uma fala de José Dias para Bentinho, no cap. LXII “Uma ponta de Iago”:
—Tem andado alegre, como sempre; é uma tontinha. Aquilo enquanto não
pegar algum peralta da vizinhança, que case com ela...
Estou que empalideci; pelo menos, senti correr um frio pelo corpo todo. A
notícia de que ela vivia alegre, quando eu chorava todas as noites, produziu-me aquele efeito, acompanhado de um bater de coração, tão violento, que ainda agora cuido ouvi-lo. Há alguma exageração nisto; mas o discurso humano é assim mesmo, um composto de partes excessivas e partes diminutas, que se compensam, ajustando-se. (ASSIS, 2004, p. 102)
Nesse trecho da obra Bentinho começa a ser corroído pelo ciúme, a desconfiar de Capitu, é bem notável a interação textual da obra com a tragédia shekespeariana, na qual Iago também acende uma chama de ciúme em Otelo.
Argutamente, Eduardo Lourenço suscita que Machado, por se transportar “para o espírito do narrador” faz com que não saibamos nunca se ele é vítima absoluta da infidelidade de Capitu ou o super Otelo que projeta na realidade a forma do seu ciúme vertiginoso e sem cura”, considerando-o verdadeiro precursor da era suspeita. (2001, p. 198). Machado seria definido como o principal suspeito o sujeito ativo e passivo do seu drama, segundo Carlos Nejar. Teria ele apenas se utilizado da ideia de fazer com que o leitor se detivesse na dúvida, uma das características de Machado.
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