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Muito Longe de Casa

Por:   •  11/5/2017  •  Resenha  •  1.465 Palavras (6 Páginas)  •  1.495 Visualizações

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Título: Muito Longe de Casa

        Autor: Ishmael Beah

        Sinopse: As crianças se tornaram presença constante nas guerras de nossos dias. Nos mais de cinquenta conflitos em curso na atualidade, estima-se que haja cerca de 300 mil crianças envolvidas diretamente. Ishmael Beah era uma delas. Em Muito longe de casa, Beah conta uma história pungente: aos doze anos de idade, fugiu do ataque de rebeldes e vagou por uma terra arrasada pela violência. Aos treze, foi recrutado pelo exército do governo de Serra Leoa e descobriu que era capaz de atrocidades inimagináveis. Este é um relato raro e hipnotizante,contado com força literária e uma honestidade de cortar o coração.

        Resumo: Fluída e impressionante, a leitura prende, prende muito. Ishmael conta com muita clareza tudo o que ele viveu, desde o dia em que a guerra civil estourou, com a invasão dos rebeldes em Mattru Jong, onde ele e alguns amigos haviam ido para se apresentarem em um festival de talento. E foram as fitas de Rap,que Ishmael levou em seu bolso durante toda a jornada, que os salvou uma e outra vez quando, diante do clima de desconfiança que tomou conta de todo o país, ele e seus amigos foram presos por aldeões que os queriam matar.

        A primeira parte do livro é uma longa caminhada, em que eles vão se afastando de sua aldeia por conta da perseguição dos rebeldes. Os amigos ficam por três meses em uma aldeia, onde auxiliam os habitantes locais na preparação dos campos e no plantio das sementes. Tarefa inútil uma vez que, justamente a poucos dias da colheita, a aldeia é invadida. Na fuga, os amigos se separam e Ischmael se vê pela primeira vez completamente sozinho.

        Ishmael passa a caminhar só e depois de se perder, passa mais de um mês em uma densa floresta, dormindo nos galhos trançados de duas árvores. Na confluência de duas trilhas, ele encontra um grupo de 6 meninos, alguns dos quais ele conhecia de seu colégio. E é com eles que Ishmael, com doze anos, segue o caminho. Caminhos e perigos, porque na Serra Leoa sem lei do início dos anos 90, um grupo de 7 adolescentes representava um perigo que a recepção desconfiada que tinham nas aldeias por onde passavam não lhes deixava esquecer.

        Mortos de medo, param em uma determinada ocasião por conta de um ribombar que não conheciam. Sem ver nada que os ameaçasse, saem do esconderijo apenas para descobrir que estavam diante do mar, nessa que é uma das mais singelas passagens do livro. Seguem caminhando pela praia, mas são aprisionados por pescadores que, desconfiados do perigo que representavam, os queriam matar. Quando finalmente foram liberados, não puderam levar consigo os tênis que calçavam, de modo que a caminhada na areia quente causou profundas feridas em seus pés.

        Foi assim que chegaram a uma cabana onde se instalaram. Eram visitados todos os dias por um pescador que lhes trazia água, comida e bálsamos para as feridas, mas, como toda a calmaria na vida de Ishmael, esta também durou pouco. Mais precisamente até o dia em que os moradores da aldeia descobriram sua presença. Foram capturados e levados até o chefe, que os mataria se não fossem outra vez tê-losas salvado as fitas de RAP. Ishmael dançou e cantou para o chefe, que finalmente os mandou soltar, não porque fosse especialmente fã de RAP (estilo musical que ele na verdade desconhecia), mas porque a música e a dança lhe fez entender o que apenas uma mirada poderia lhe ter dito: que Ishmael e seus amigos eram apenas crianças. Na Serra Leoa em que governo e rebeldes se digladiavam sem trégua ou escrúpulos, não existia mais lugar para a infância.

        Livraram-se de mais um perigo, mas não do perigo. Seguiram caminhando, ainda que sem destino. E as tragédias também, porque quando se pensa que nada mais poderia acontecer, o amigo Saidu,companheiro de jornada e testemunha da violação de suas 3 irmãs, amanhece morto em uma varanda em que os meninos passaram a noite em uma aldeia onde Ishmael ouviu pela primeira vez sobre seus pais.

        E foi com o coração dividido entre a tristeza pela perda do amigo e a esperança de rever seus familiares, que ele caminhou o mais rápido que pôde na direção da aldeia. Ele e seus amigos andaram dois dias quase que sem descansar, até encontrarem um homem chamado Gasemu que Ishmael conhecia e que lhe confirmou que seus pais estavam ali e ficariam muito felizes ao vê-lo.

        Estavam muito próximos à aldeia. Para atingi-la, faltava vencer apenas o último trecho, um rio, depois uma colina no alto da qual pararam para descansar... E foi na descida que, perversidade maior, escutaram tiros e viram a aldeia arder. Os rebeldes haviam atacado naquele exato momento e o que encontraram ao chegar foi apenas cinzas e corpos.

        Perplexo e inconformado, Ishmael tem um ataque de fúria. Mas como naquele mundo subvertido não havia tempo para lutos, nem que fosse da morte de seus próprios pais, ele e seus amigos são obrigados a internarem-se na mata, alcançados por tiros do mesmo grupo rebelde que incendiara a aldeia.

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