O Capítulo Intitulada “Aula Particular”
Por: Andresa Santos • 25/11/2019 • Projeto de pesquisa • 1.976 Palavras (8 Páginas) • 208 Visualizações
Já no capítulo VI intitulada “Aula Particular”, Maria passa por uma situação de impotência a partir da sua submissão na casa da avó, a menina está muito atrasada nos estudos e então é colocado em aulas particulares com Dona Eunice, uma professora bastante impaciente, opressora e que ainda tem um cachorro que sempre fica embaixo da mesa enquanto ela ministra aula e isso deixa a aluna assustada, pois a menina tem medo do cachorro mordê-la a qualquer movimento que faz na cadeira, dificultando mais ainda no aprendizado. Segundo Pauli (2001) “O aprendizado de Maria no circo, as instruções que a mãe lhe proporciona não são valorizados pelos demais personagens”, principalmente para a avó da menina que quer apagar tudo o que lhe foi ensinado, nada de corda ou de saber como foi a vida no circo, sobre sua experiência ou algo que aproxime a neta e também a professora opressiva que ensina sem considerar o conhecimento prévio da aluna, sua experiência de vida que é muito valido na vida da criança.
No capitulo VII que se chama “Marcia e Marcelo” é onde Maria começa a sua viagem pelo seu subconsciente, cansada de tanta cobrança da vó, da professora e longe do ambiente que lhe é familiar, a menina resolve fazer o que ela mais sabe que é andar na corda bamba, esticando a corda da janela do prédio a uma antena do outro lado que a leva para um andaime perto da janela que ela quer observar uma janela em forma de arco e é muito curiosa para ver de perto, mas se assusta ao olhar e ver um homem, sendo que não esperava encontrar ninguém. Porém, ele não a ver, nem a mulher que chega depois. Esses são seus pais se conhecendo. Então, começa a regressão da garota para o passando antes dela nascer, a sua vida intrauterina, assim, a corda pode simbolizar o cordão umbilical e o andaime o útero, pois é onde tudo se inicia.
Depois de observar a primeira conversa de seus pais, ela se depara com um enorme corredor com portas coloridas, no começo lhe causa espanto, mas ela entra no corredor que pode simbolizar essa viagem que ela fará por dentro de si mesmo. O que lhe chamou atenção foi uma porta vermelha, mas ela não abria, forçou a maçaneta, no entanto não teve resultados, depois tentou a porta branca em que dava para um quarto enorme com prata, espelho e cristal pra todo lado. Esse é o quarto da sua avó, no momento em que Marcelo pede para casar com Márcia.
Em seguida Maria sai correndo para saber mais dos pais e sua vida antes dela nascer, então entra na primeira porta que encontra, e é uma porta amarela. Então a obra entra no capitulo chamado “O barco”. Neste episodio, a menina ver seu nascimento que acontece em uma barco, no mar. Assim ela renasce ao passar por esse processo de regressão, voltando a origem para poder superar os seus traumas.
Posteriormente a garota passa uns dias sem voltar, depois resolve atravessar a corda com o arco e volta a tentar abrir a porta vermelha, pois ouvia a voz de Marcia e Marcelo mas não conseguia abrir de maneira alguma. Dessa forma, foi até a porta cinzenta, onde havia barulho de gente batendo palma, assobio, barulho de elefante, leão. O som vinha da porta cinzenta, onde lhe revelava o camarim do circo e uma menina de quatro anos brincando sozinha, essa era Maria. Marcia e Marcelo estavam se apresentando quando a avó Maria Cecilia chega para levar a neta consigo, agradando com brinquedos e presentes. Nessa porta percebe-se o egoísmo da avó que rouba a neta pelo fato dela ter sido abandonada pelo quarto marido e como está sem companhia a rouba para si. Esse fato do roubo impressionou muito Maria, como pode roubar ela assim de tudo que ama: o pai, a mão, o circo.
Depois disso, a menina não quis mais abrir portas, mas tinha uma que estava só encostada, sem cor, então sentada no corredor ela deu um empurrão com o dedo e entrou. Era sua festa de aniversario de sete anos. Ela estava sentada em uma ponta da mesa e a avó na outra, nos lados tinha apenas brinquedos. Maria está cercada de bens materiais, uma mesa repleta de comida, brinquedos, mas nenhum amigo e tampouco as pessoas que ela ama. Dona Maria Cecília tenta agrada-la com mais brinquedos, doces e bolo, mas nada anima a sua neta. Pensando nisso, ela compra um presente um tanto inusitado, a garota ganha uma velha de contar histórias, que é uma senhora que contaria qualquer história que Maria quisesse ouvir.
Esse capitulo do “presente de aniversario” deixa a menina um tanto triste, ela ainda questiona: “Mas, Vó, gente se compra?” Bojunga (2008). Mesmo para uma criança de 7 que ficou acostumada a ter tanta riqueza acha estranho ganhar uma pessoa de presente. Isso remete a miséria humana em que uma pessoa se vende em troca de comida. A velha conta as histórias do marido de Dona Maria Cecilia, mas acaba morrendo engasgada com tanta comida e isso deixou a menina muito pensativa.
O dia seguinte estava chuvoso e Maria resolve andar na corda com guarda chuva igual a japonesa do circo. Nessa passagem que é intitulado “Tempo de Chuva”, ela rever momentos harmoniosos ao lado de seus pais, lhe revelando quando ela trabalha no circo, aprende a usar a corda e faz o número do show com Marcio e Marcela e recebe muitos aplausos. Ela rever isso tudo sempre acompanhado de muita chuva, Segundo Pauli (2001) esse momento pode significar: “[...] como se estivesse purificando, lavando esses anos de sofrimento devido à separação. Portanto, dois elementos que lembram a cor azul são constantes: chuva e água, símbolos de purificação”. Assim, as cores do cenário e da porta, que ela observa são símbolos que a narrativa usa para lembrar que a menina se purificou, lavou os anos que sofreu com a saudade dos pais, da perda das pessoas que mais amava, Maria teve que lembrar para poder ver que teve momentos felizes ao lado das pessoas que amava e que foi retirada disso tão cedo, mas a chuva e o azul remetem a essa purificação e nesse momento ela se encontra consigo mesmo resgatando as doces lembranças que tinha ao lado da sua família.
Mas ainda faltava uma porta, a mais difícil por sinal, ela começa a lembrar do todo o resto e correu para o corredor com curiosidade de abrir a porta vermelha, mas ao abrir se depara com Marcio, Marcela, Foguinho e Barbuda discutindo, a mãe dela quer apresentar na corda sem a rede de proteção embaixo, pois assim eles ganhariam mais dinheiro para pagar o que gastaram para encontrar a filha.
No momento da cena ela tenta ir embora da sala, empurra a porta e pede para sair, mas já era tarde porque estava trancada, ela ouve aplausos e resolve olhar, pois a mãe tem tanta graça e um arco tão grande e colorido de flores que acaba olhando, no entanto Marcia se desiquilibra da corda, o pai tenta segura-la, mas é inútil, a menina se vira sacode a maçaneta que agora está aberta e vai embora do corredor, chega sem guardar sapatilha nem nada só quer dormir, quem sabe quando acordar não vai doer tanto assim. Maria passou pelo seu maior trauma novamente, mas foi preciso rever a morte de seus pais, por mais dolorido que fosse, pois isso faz parte dela e para conseguir resgatar sua identidade e edificar seu futuro, era preciso enfrentar seu trauma.
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