O Lobo

Tila saiu da floresta e andou um bocadinho por cima da neve, que cobria os campos à beira desta. Não conseguia encontrar o cestinho que levara, na tarde anterior, para apanhar cogumelos. Julgava tê-lo deixado em baixo do carvalho grande, mas lá não estava.

Olhando para um lado e para o outro, a sua atenção ficou prendida num mato. Algo estava a rebolir em baixo das plantas, num brejo. Aproximou-se. Cobertos pelas urzes cobertas pela neve, havia uns cãozinhos que ela julgou de pastor alemão. Acocorou-se junto deles ficando toda queda a contemplá-los. Concentrada , escutou a voz do irmão mais velho, a chamar por ela e, depois , viu-o na beira da carvalheira. Fez-lhe sinais com a mão para que se acerca-se indicando-lhe com o dedo sobre a boca que se mantivesse calado.

Os dous irmãos olharam para os cães pequeninos que reboliam algo. Apenas o que o frio lhes deixava. Tila pediu ao irmão para lhe ajudar a levá-los até à casa deles. Pedro não tinha vontade de se complicar nas trapalhadas da irmã, mas a menina conseguia sempre que ele fizesse a sua vontade. Convenceu-o com uma olhada dela, dessas que Pedro não podia rejeitar.

Entre os dois irmãos , pegaram nos cãozinhos e levaram-nos para a casa. Não disseram nada aos pais e deixaram-nos na corte velha das vacas, num caixote que preencheram com palha, para que não apanhassem frio.

Depois do jantar a Tila foi-lhes levar uma cunca com sopas de pão em leite. A menina estava fascinada pelos animalinhos. Logo que comeram e sentiram calor fizeram-se muito mais beijoqueiros. Quase queriam sair do caixote em que estavam. As palhas em que os abrigaram saltitavam para todo o lado. Ficou um pedacinho a tentar jogar com eles. Mas os cachorrinhos não eram demasiado amistosos para a menina. Pareciam bastante independentes. Gostavam de jogar o um com o outro, más não com a rapariguinha.

Da casa chegou uma voz. Era a mamai que a reclamava para se irem deitar:

- Vamos , Vamos , que amanhã tens de ir à escola e há que madrugar!!

O Pedro já estava no seu quarto , havia um bom tempo, fazendo os trabalhos da escola.

Tila obedeceu. Preparou a mochila com os livros e os cadernos e foi para a cama.

No meio da noite, sentiu ruídos que a fizeram acordar. Ela nunca ouvira antes o uivar dos lobos, por isso não reconheceu os sons. Mesmo assim, ergueu-se da cama e foi ver pela janela.

Voltou escutar : Auuuu! Auuuuu!

O Irmão aproximou-se por trás dela, pegou-lhe nos ombros e abalou-a , para lhe meter medo:

Auuuu! Auuuu! Sou um lobo e vou-te comer! Agnhu!

- Olha lá , aqueles cães tão grandes!

Um par de animais , estavam parados, na volta do caminho , e uivavam com um som que metia medo.

-Auuuu! Auuuu!

Enquanto estavam a olhar para eles, não deram por um vulto rápido que saía das cortes das vacas levando algo na boca

Foi apenas um instante.

Puderam