O Pensamento Reflexivo E Sua Práxis No Cotidiano Escolar: Uma Aproximação Entre Dewey E Lipman
Trabalho Universitário: O Pensamento Reflexivo E Sua Práxis No Cotidiano Escolar: Uma Aproximação Entre Dewey E Lipman. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Doara • 17/6/2013 • 2.501 Palavras (11 Páginas) • 670 Visualizações
O Pensamento Reflexivo e sua Práxis no Cotidiano Escolar: uma aproximação entre Dewey e Lipman
Norberto Mazai
“Uma vida que não for refletida não merece ser vivida”
(Sócrates)
O presente texto procura evidenciar, ainda que sucintamente, o possível contributo das idéias de John Dewey ao pensamento de Matthew Lipman, em especial ao que veio se constituir a chamada “Educação para o Pensar”. Para tanto, tomamos como referencial teórico central as seguintes obras: “Como Pensamos” (1933) de Dewey e “O Pensar na Educação” (2001) de Lipman, por entendermos que as idéias contidas nas referidas obras são importantes para se pensar na possível aproximação entre os dois pensadores, bem como, na validade de ambos para todos aqueles que de uma forma ou de outra estão preocupados com uma proposta educacional relevante para o nosso país.
Palavras – chave: Dewey, Lipman, pensamento reflexivo.
Introdução
Falar sobre o pensamento reflexivo no cotidiano escolar se constitui, atualmente, em um viés dos pensares e fazeres educacionais que se tornou mais urgente e necessário nos tempos de transição que se vivencia na sociedade contemporânea, pois, faz-se necessário pessoas cada vez mais capazes de pensar de modo reflexivo a realidade na sua diversidade e complexidade, para a construção de uma prática educativa fundamentada, contrária àquela guiada pelo impulso, tradição e/ou autoridade.
Todavia, o texto não tem pretensões de ineditismo, mas augura propiciar algumas reflexões e considerações que poderão servir de estímulo e provocação para um maior aprofundamento das idéias dos autores em questão e de sua suposta aproximação.
A Reflexão
A reflexão é, na atualidade, segundo afirma Garcia (In Nóvoa,1992) o conceito mais utilizado por investigadores, formadores de professores e educadores diversos, para se referirem as novas tendências no campo educacional. Mas o que vem a ser reflexividade?
Reflexividade é uma característica singular nos seres racionais conscientes. A reflexividade é uma auto-análise sobre nossas próprias ações, que pode ser feita comigo mesmo ou com outros. O dicionário Houaiss menciona: reflexivo é o que reflete ou reflexiona, que procede com reflexão, que cogita, que se volta sobre si mesmo. O termo original latino seria “reflectere”, ou seja, recurvar, dobrar, ver, voltar para trás. Supõe a inevitabilidade de utilizar o conhecimento à medida que vai sendo construído, para enriquecer e modificar não somente a realidade e suas representações, mas também as próprias intenções e o próprio processo de conhecer.
Já para Saviani (2000) refletir é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar numa busca constante de significado.
Para Gómez (In Nóvoa, 1992) a reflexão implica a imersão consciente do homem no mundo da sua experiência, um mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afectivas, interesses sociais e cenários políticos. A reflexão não é um conhecimento puro, mas sim um conhecimento contaminado pelas contigências que rodeiam e impregnam a própria experiência vital.
O Pensamento Reflexivo
Vivemos em mundo globalizado de constantes transformações, são momentos de grandes incertezas que se traduzem de maneira multifacetada na vida humana em geral e, de modo especial, nas instituições educacionais. Tempo de transformações muito rápidas, tempo que deixa as suas marcas em cada um de nós na sua marcha de globalização, de tantas desigualdades e distâncias sociais.
É neste contexto que estamos aprendendo a cada momento, somos invadidos por uma cultura da informação sempre mais veloz, abundante e de fácil acesso. Ou seja, somos envolvidos no ledo engano de estar aprendendo cada vez mais, num ritmo desenfreado que agita o pensamento e o estimula de várias maneiras através de infinitos estímulos apenas informativos, que embora contenham informações diversas e importantes não necessariamente conduzem ao entendimento crítico do real.
O pensamento reflexivo vai além da simples reflexão que possamos empreender na ação e sobre a ação. Disto surge a importância e relevância de estabelecermos a distinção entre a postura reflexiva e a reflexão episódica no nosso cotidiano, de um modo geral, e, mais especificamente, na práxis pedagógica, através da qual o humano se constrói enquanto humano na interação com o meio físico e social no qual se encontra inserido; pois, é na tríplice relação com a natureza, consigo mesmo e com os outros, que o ser humano se faz e se constrói. É essa capacidade de fazer-se, de deliberar sobre a ação que o distingue dos animais. Reside aí, a sua grandeza e miséria. É na capacidade de discernimento e inteligibilidade que está posta a diferença fundamental entre o humano e o puramente animal. Contrariamente ao animal, o homem não só existe, mas se sabe existido, não só age, mas é capaz de planejar a ação, refletir sobre o passado, transcender o momento presente projetando o futuro; não estando assim, engessado ao imediato. Portanto, a reflexão torna-se indispensável ao humano, mas se essa reflexão sobre a ação não for criteriosa, regular, isto é, se a vigilância não for constante, os resultados da mesma podem ser comprometidos, de tal forma, a inviabilizar a ação ou torná-la contraproducente ao sujeito.
A reflexão espontânea somente fixa-se no objeto pensado, terminando praticamente aí o seu processo de conhecimento. Adquire-se conhecimentos, aprende-se coisas, saberes, mecanismos e comportamentos, mas não de uma maneira sistemática a tornarmo-nos sujeitos da ação. Neste caso, somos meros repetidores de idéias já prontas e estabelecidas, onde não é necessário pensar reflexivamente, e, sim, responder e corresponder ao que é dado pronto e acabado. Essa postura não transforma o professor em um profissional reflexivo e tão pouco, capacita ao aluno autonomia, ou seja, não se gera uma comunidade de investigação reflexiva que desenvolva habilidades cognitivas, capazes do estabelecimento de um diálogo perene.
Uma prática reflexiva pressupõe uma postura, uma forma de identidade, um habitus, que difere da reflexão espontânea, na medida que não para de refletir a partir do momento em que consegue certos resultados, e, sim, continua progredindo, reexamina constantemente seus
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