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OS CONHECIMENTOS E PROPÓSITOS PSIQUIÁTRICOS DE MACHADO DE ASSIS

Por:   •  7/3/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.328 Palavras (10 Páginas)  •  126 Visualizações

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3. CONHECIMENTOS E PROPÓSITOS PSIQUIÁTRICOS DE MACHADO DE ASSIS

Neste presente capítulo será levada em conta a análise do conto “O Alienista”, feita por José Leme Lopes, autor do livro “A Psiquiatria de Machado de Assis”. Já no seu prefácio, ao contrário de Daniel Martins de Barros, José Leme Lopes diz ser dispensável continuar a relacionar arte e psicopatologia para interpretação e análise existencial das criações artísticas. E prosseguindo na sua afirmação, destaca novas formas que surgiram para realizar tais interpretações “Com os avanços da moderna psicologia, novos instrumentos surgiram para a compreensão fenomenológica, para a interpretação psicanalítica e para análise das criações artísticas” (José Leme Lopes p. 9, 1981), com esse intuito, cita o exemplo das personagens que são, por extensão, a representação da personalidade do autor.  Adverte, porém, que esse tipo de investigação depara-se com alguns obstáculos, é o caso onde a criação artística é o produto de uma mistura profunda de experiências, de tendências, e mesmo de posições pessoais, sobretudo filosóficas e estéticas, onde torna-se   “difícil separar o que está especificamente em relação com a psicologia e/ ou psicopatologia do autor, do que é criação artística ou recriação literária” (José Leme Lopes p. 10, 1981).  Todavia, levanta a possibilidade de tomar os textos literários e deles “extrair, independentemente de qualquer relacionamento direto com o autor, sua vida, e mesmo sua doença, preciosos elementos de valor psicológico e psicopatológico” (idem).

Em sua releitura, José Leme Lopes aplica aos textos machadianos a metodologia de análise psicológica e psicopatológica de toda variação humana, independente da ligação pessoal do escritor com o conto. Direciona-se a avaliar os conhecimentos de psiquiatria que teria Machado, uma vez que, eles são revelados em “O Alienista” e fazem supor que seu criador teria obtido informações precisas sobre as obras dos grandes alienistas. Direciona-se, também a determinar o interesse de Machado de Assis pela Loucura.

Notas de seu caderno íntimo fazem crer que, ao lado das crises do grande mal, sofria de crises psíquicas, cuja natureza exata não nos é dada afirmar, mas que se assemelham aos estados oniróides, nos quais, sob a turvação da consciência, a realidade interna e externa se alteram, o cenário toma um aspecto fantástico e a personalidade sofre mutações. A possibilidade de Machado de Assis haver experimentado essas incursões, nos limites do humano, o teria levado a interessar-se pela Loucura e a enxertar na sua ficção os giras e os dementes, que a tornam tão fascinante (José Leme Lopes p. 13, 1981).

Verificamos, pois que Machado de Assis não incluiu apenas suas experiências nas fronteiras da desrazão, mas penetrou planejadamente no campo da Psiquiatria. Ele, assim como seu personagem Dr Bacamarte, conhecia os franceses e os alemães, cuja nomenclatura e conceitos misturou artisticamente, colocando sua concepção irônica e cética.

José Lopes salienta o interesse de Machado pela doença mental. Sobressai até então uma afirmação singular que pode servir como corrente para a interpretação do conto (uma vez que a maioria dos teóricos que estudam o referido texto prendem-se ao Dr. Simão Bacamarte), diz José Leme Lopes “A alienação é mais importante que o alienista” (José Leme Lopes p. 24, 1981). O teórico guia-se, assim, pela pesquisa das nomenclaturas e terminologias usadas no texto, com relação aos doentes mentais e às doenças mentais. Nota-se, por exemplo, a preferência pelas expressões “loucura e loucos” genéricos para toda variedade de doenças mentais, da mesma forma que ocorre no Código Civil. Outra observação feita é a preferência pelas expressões “dementes e demência” sem que isso implique definitivamente na restrição das funções intelectuais. Evidencia-se, contudo, o fato de não existir na estória referência aos deficientes mentais, como os carentes dos cuidados do Alienista. José Lemes Lopes chega a uma posição para sua pesquisa “Na verdade, na estória em estudo, o tema central é a loucura, no sentido que a atual terminologia usa para doença mental ou psicose” (José Leme Lopes p. 25, 1981), isto é, existe a perturbação da personalidade que se manifesta essencialmente por comportamentos anti-sociais, sem culpabilidade aparente, onde podemos considerar como comportamentos anti-sociais, de acordo com o site Wikipédia.org como:

Os comportamentos anti-sociais,  são caracterizados pelo desprezo ou transgressão das normas da sociedade, frequentemente associados a um comportamento ilegal. Ter comportamentos anti-sociais em algum momento não indica necessariamente um transtorno de personalidade anti-social (também conhecido como psicopatia ou sociopatia). Indivíduos anti-sociais frequentemente ignoram a possibilidade de estar afetando negativamente outras pessoas, por falta de empatia com o sofrimento de outrem. Exemplos de comportamentos anti-sociais incluem desde de crimes sérios como homicídio, piromania, furto, vandalismo quanto infrações mais leves como críticas cruéis, sadismo, desrepeitar privacidade e falar palavrões (wikipedia.org/ comportamentosanti-sociais).

Após esses exemplos, o autor volta a reforçar a necessidade de saber quais as informações psiquiátricas dispunha Machado de Assis. Principalmente quando ele classifica os doentes “em furiosos e mansos, ao relatar as subclasses e ao relacionar, na segunda fase da atividade científico-doutrinária de Simão Bacamarte, os modestos, os tolerantes, os verídicos, os símplices, os leais, os magnânimos, os sagazes e os sinceros” destacando-se, todavia, a sátira de Machado de Assis arbitrariedade classificatória da medicina em sua época. Além de usar regras e modelos da psiquiatria clínico-descritiva de Pinel, Esquirol e Morel (grandes nomes da Psiquiatria séculos XVIII e XIX), por exemplo, a “mania das pedras”, “a mania suntuária”, a “demência dos touros” e a “mania de grandezas”, enfim Machado também sofreu influência dos clássicos da região França, Bélgica e Itália.

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