OS MODELOS DE LETRAMENTOS E AS PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO
Por: Fernandau2u2 • 25/6/2022 • Trabalho acadêmico • 959 Palavras (4 Páginas) • 271 Visualizações
KLEIMAN, Angela. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola
A autora busca o conceito de letramento e tenta diferenciá-lo da prática da alfabetização. Afirma que a temática do letramento é relativamente nova e teve origem nos meios acadêmicos.
Por meio da difusão dos estudos sobre o letramento é que poderemos frear a contínua segregação de grupos sociais que desconhecem a escrita ou não a usam frequentemente nas suas práticas sociais.
No texto, destaca-se que a relação direta das grandes mudanças sociais, políticas, cognitivas e econômicas está ligada com a propagação da escrita, reforçando a consolidada ideia de supremacia ligada à escrita.
A dicotomia letramento e alfabetização está presente em todo o texto.
Para definir letramento, a autora apoia-se em Heath (1982,1983) e Rojo (1995) e o delimita como “uma prática discursiva de determinado grupo social, que está relacionada ao papel da escrita para tornar significativa essa interação oral, mas que não envolve, necessariamente, as atividades específicas de ler ou de escrever”.
Para explicar o termo alfabetização, limita-o a um tipo de prática de letramento, tratando-o como um mero processo de aquisição de códigos (alfabético, numérico), de competência individual.
Neste contexto, entende-se que alguém letrado não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. Já o alfabetizado aprendeu tão somente a ler e a escrever.
O motivo da não sinonimização entre os termos, letramento e alfabetização, fundamenta-se na premissa de que uma pessoa pode ser considerada letrada ainda que não domine a leitura e a escrita, ou seja, mesmo não estando alfabetizada, faz uso da escrita como prática social.
Fica demonstrado que a autora não despreza a alfabetização em prol do letramento, pois ambos são processos interdependentes e indissociáveis e devem ser trabalhados juntos.
São apresentadas duas perspectivas de letramento: um denominado modelo autônomo e outro ideológico, baseada nos estudos de Street (1984).
No primeiro, ressalta-se a leitura como uma competência individual, meramente decodificadora de caracteres linguísticos. Neste ponto, a autora demonstra preocupação pois indubitavelmente é esse primeiro modelo que é adotado na escola, reconhecida historicamente como a mais importante agência de letramento. Informa, também, que ele reproduz práticas que privilegiam o aprendizado das classes majoritárias e apresenta impacto negativo nas minoritárias, por desprezar as práticas de letramento extraescolares.
A autora defende o modelo ideológico, já que este apresenta objetivos mais amplos, pois a escrita tem significado e função social, por isso é indicado que se repense o fazer pedagógico. Entende a leitura como prática social e considera a diversidade cultural como ponto positivo a ser respeitado.
Apresenta exemplos comprobatórios, de que esse modelo foi pensado para oportunizar o letramento às classes minoritárias, por dar voz às práticas de letramento extraescolares.
As características do modelo autônomo de letramento são apresentadas. Dentre elas, destacam-se as relações escrita x desenvolvimento cognitivo, oralidade x escrita e a valorização da escrita, prestigiando os grupos sociais que possuem sua cultura baseada nesta última. Ao relacionar o letramento à cognição, a autora fez uso de comparação de grupos letrados e não letrados, porém alerta que tal comparação pode fornecer argumentos para o preconceito.
A oralidade e escrita devem ser inseridas em um único contexto, afastando-se da ideia de polarização que as coloca em lados opostos, já que tanto uma como a outra provém de práticas coletivas.
É analisado ainda o poder transformador da escrita, ao afirmar que por meio dela o indivíduo pode ser considerado cognitivamente superior a outro, reforçando a ideia de segregação e preconceito, dando à escrita uma perigosa supremacia.
A expressão “mito do letramento”, do conceito de Graff (1979), que se trata de uma visão na qual a ascensão social se faz por meio da escrita. Tal conceito é desmitificado, pois não há dados que comprovem realmente que alguém pode ser socialmente superior a outro só por fazer uso social da escrita. Por vezes, o próprio indivíduo atribui a si mesmo a culpa por fazer parte de um grupo economicamente minoritário. Esta consequência é gerada pelo modelo autônomo de letramento, que não traz culpa do fracasso para o próprio processo e sim para o indivíduo que não alcançou as expectativas de um modelo fragmentado e sem significado.
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