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Oque Se Entende Por Arte

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Por:   •  5/3/2014  •  2.899 Palavras (12 Páginas)  •  662 Visualizações

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O que se entende por arte

Se perguntarmos hoje a um homem de cultura mediana o que ele entende por arte, é provável que na sua resposta apareçam imagens de grandes clássicos da Renascença, um Leonardo da Vinci, um Rafael, um Michelangelo: arte lembra-lhe objetos consagrados pelo tempo, e que se destinam a provocar sentimentos vários e, entre estes, um, difícil de precisar: o sentimento do belo.

Mas é necessário convir, o nosso interrogado é sempre um homem do seu tempo, alguém que nasceu e cresceu entre os mil e um engenhos da civilização industrial, e que tende a ver em todas as coisas possibilidades de consumo e fruição.

Constatar , porém, o uso social da pintura e da música, ou a sua função de mercadoria, não deve impedir-nos de ver antropologicamente a questão maior da natureza e das funções da arte. É preciso refletir sobre este dado incontornável: a arte tem representado, desde a Pré História, uma atividade fundamental do ser humano. Atividade que, ao produzir objetos e suscitar certos estados psíquicos no receptor, não esgota absolutamente o seu sentido nessas operações.

Três vias da reflexão estética

Um dos mais penetrantes pensadores italianos do nosso tempo, Luigi Pareyson, ao retomar a discussão dos temas centrais da Estética, considera como decisivos do processo artístico três momentos que podem dar-se simultaneamente: o fazer, o conhecer e o exprimir.

Capitulo 1

Arte é construção

Momento Técnico: A arte é um fazer. A arte é um conjunto de atos pelos quais se muda a forma, se transforma a matéria oferecida pela natureza e pela cultura.

A arte é uma produção; logo, supõe trabalho. Movimento que arranca o ser do não ser, a forma do amorfo, o ato da potência, o cosmo do caos. Techné chamavam-na os gregos: modo exato de perfazer uma tarefa, antecedentede todas as técnicas dos nossos dias.

A palavra latina ars, matriz do português arte, está na raiz do verbo articular, que denota a ação de fazer junturas entre as partes de um todo. Porque eram operações estruturantes, podiam receber o mesmo nome de arte não só as atividades que visavam a comover a alma ( a música, a poesia, o teatro), quanto os ofícios de artesanato, a cerâmica, a tecelagem, ourivesaria, que aliavam o útil ao belo. Aliás, a distinção entre as primeiras e os últimos, que se impôs durante o Império Romano, tinha um claro sentido econômico social.

O conceito de arte como produção de um ser novo, que se acrescenta aos fenômenos da natureza, conheceu alguns momentos fortes na cultura ocidental. E tomou feições radicais na poética do Barroco, quando se deu ênfase à artificialidade da arte, ou seja, à distinção nítida entre oque é dado por Deus aos homens e o que estes forjam com seu talento.

Arte e Jogo: A idéia de arte como jogo foi proposta na Critica do juízo de Kant em termos de atividade “desinteressada” embora não arbitrária, enquanto sujeita aos limites da natureza humana. Assim é esteticamente verdadeiro que o sol mergulha nas águas do mar na hora do poente, embora, à luz da ciência, essa imagem venha ser uma ilusão dos sentidos.

Como em todo jogo, também na arte a liberdade de formar atenderia a leis de necessidade interna; leis adequadas ao cumprimento de um objetivo universal: no caso da arte, a Beleza, ou Harmonia. Mas a natureza, obra de um jogo sobre-humano, transcende os limites da razão. O que não acontece com o poema, cujo efeito de beleza nasce da unidade profunda das representações à qual não está alheio o trabalho da inteligência.

Como jogo, a obra de arte conhece um momento de invenção que libera as potencialidades da memória, da percepção, da fantasia: é a alegria pura da descoberta, que pode suceder as buscas intensas ou sobrevir num repente de inspiração: heureca! E como o jogo, a invenção de novos conjuntos requer uma atenção rigorosa às leis particulares de sintaxe que correspondem ao novo esquema imaginário a ser realizado.

A liberdade e as técnicas: A técnica produziu,ao longo da história de cada arte, um conjunto de regras úteis ao projeto e à execução da obra. Desde a antiguidade formou-se uma tradição normativa. Essa tradição, quando aplicada à Arquitetura e às Artes Plásticas, recorreu muitas vezes às figuras e aos procedimentos da Geometria. Certos princípios da simetria e de unidade do ponto de vista persistiram, até hoje, como uma espécie de abc de todo aprendizado sistemático da Pintura e da Arquitetura.

Para as artes sonoras e temporais ( a Música, a Poesia oral), os elementos de base também são codificáveis em números. O ritmo pode ser binário, ternário, quartenário. Em números se dizem os metros, os compassos e a duração de cada figura. Os intervalos entre as notas da melodia contam-se em terças, quintas , sétimas, etc. Os versos do poema são pentassílabos ( redondilhos menores), heptassílabos, decassílabos, dodecassílabos.

Na realidade, formaram-se na vida simbólica de todos os povos certos padrões estilísticos resistentes durante séculos, e que receberam da sua regularidade interna e do seu enraizamento comunitário uma força de reprodução extraordinária. A pintura corporal, o desenho geométrico dos tecidos, as linhas das mascaras, os trançados de palha, as técnicas ceramísticas, as danças e cantos que exercem funções rituais da maior importância na vida tribal, repetem esquemas ou cânones formais que, mutatis mutandis, lembram a permanência dos chamados modelos clássicos na arte culta do Ocidente.

A história da Estética ensina, porém, a dialetizar o discurso formalista, mesmo porque a confiança absoluta nos recursos técnicos e na combinatória artesanal, enquanto reais produtores da obra de arte, está longe de ser partilhada por todos os teóricos ou pelos próprios artistas.

As convenções e os gêneros: Quando a retórica precisou enfrentar a poesia cavaleiresca medieval, lírica, e narrativa, imaginária e realista a um só tempo, os rotuladores viram-se em palpos de aranha: era um gênero impuro, era o romance que abria caminho em uma nova sociedade de leitores, deixando perplexos os mestres que só juravam pela cartilha aristotélica. Um crítico mais bilioso( Salvati) fulminou o intruso cha mando – o “ genero heróico mal composto”

Pessoalmente acho inverossímil que uma grande obra literária, a Divina Comédia, Os irmãos Karamázovi, ou Ulisses, possa compreender-se como um carrossel de gêneros, uma aglutinação de estilos, só porque nela se verifique o concurso de tons e modos de expressão diferentes.

Talvez

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