Os Textos Multimoais

No mundo contemporâneo, vive-se uma fase de transformações sociais motivadas pelo desenvolvimento tecnológico que tem reconfigurado muitas atividades da vida moderna. Hodiernamente é mais comum a exposição da sociedade às novas tecnologias (celulares, caixa eletrônico, internet, etc.) que pedem um maior domínio de práticas como a leitura e a escrita, além uma maior interação entre discurso verbal (prática de leitura da escrita) e discurso visual (prática de leitura da imagem).

Essa grande influência tecnológica proporciona também a utilização de linguagens variadas no processamento textual. Assim, necessita-se fazer uma maior interpretação quanto as palavras, imagens, cores, gestos entre outros, que se integram na construção do seu sentido. As diversas formas de utilização da modalidade visual juntamente com as práticas de escrita chamam a atenção para o surgimento de uma nova modalidade de textos: os textos multimodais, isto é, textos que utilizam duas ou mais modalidades semióticas em sua composição. (Kress e Van Leeuwen, 1996), além de que, estes podem ser explorados como uma importante ferramenta no ensino de língua materna.  A linguagem do mundo atual privilegia modalidades diferentes da escrita.

 [..] O visual é hoje mais proeminente como forma de comunicação.[...] Não só a linguagem escrita está menos no centro dessa nova paisagem, e menos central como um meio de comunicação, a mudança está produzindo textos que são altamente multimodais. Um efeito dessa mudança está relacionado ao fato de que hoje é impossível ler textos de maneira eficiente considerando somente a linguagem escrita: ela existe como um elemento de representação, num texto que é sempre multimodal, e deve ser lido em conjunto com todos ou outros modos semióticos. (KRESS ET AL, 1997, p. 257).

Os textos multimodais exigem um conceito novo de letramento que tenha um foco maior na linguagem visual, mesmo que a interpretação seja complexa por possuir diferentes códigos sígnicos. Para Kress, Leite-Garcia e van Leeuwen, a multimodalidade não é algo novo, e todo texto se constrói em cima de vários modos de representação e de comunicação. Mesmo o próprio escritor realiza diversas escolhas e decisões quanto à organização do sistema linguístico, tais como a fonte da letra que usará, espaçamento, cores, distribuição espacial etc.

Portanto, todo ato comunicativo é feito por normas e regras que operam no momento de produção do signo, influenciado pelas motivações e interesses de pessoas em um contexto social específico Dessa forma, as imagens desempenham funções ilustrativas, decorativas e informativas (desenhos, fotos, pinturas) e técnicocientíficas (mapas, diagramas, gráficos), segundo a área de interesse a que se prestam – humanístico ou tecnológico (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006).

As habilidades de leitura parecem, de início, comuns e simples, contudo, como a visão é um dos sentidos que é responsável pela informação, elas indicam a complexidade da inteligência visual. Da mesma maneira, Kress e van Leeuwen (1996) falam sobre a necessidade do letramento visual, elaborando uma perspectiva teórico-analítica da multimodalidade. Segundo Kress e van Leeuwen (1996,2006), no decorrer no século XX, outros recursos semióticos passaram a se relacionar com a linguagem verbal, de modo que hoje em dia é bastante comum a produção de textos multimodais nas diversas práticas comunicativas. Para os eles, as estruturas visuais possuem significados tanto quanto as estruturas linguísticas, ainda que de uma forma diferente. Kress e van Leeuwen (Ibid.) defendem que as estruturas visuais comparam-se às estruturas linguísticas, já que aquelas também expressam interpretações particulares da experiência, além de se constituírem como formas de interação social. Desse modo, as escolhas de composição de uma imagem também são escolhas de significado.