Poema Reinvenção de Cecilia Meireles
Por: Elaine Miyuki Mukita • 18/11/2015 • Trabalho acadêmico • 947 Palavras (4 Páginas) • 2.204 Visualizações
CECÍLIA MEIRELES (1901-1964)
Nascida no Rio de Janeiro, em sete de novembro de 1901, ficou órfã, com três anos de idade, e foi criada por sua avó materna. Desde pequena, conviveu com dramas pessoais, sendo a única sobrevivente de quatro irmãos e tendo que enfrentar o suicídio de seu primeiro marido, o pintor português Fernando Correia Dias, com quem se casou aos 21 anos, e teve três filhas. Depois do suicídio de Dias, em 1935, Cecília casou-se novamente.
Em 1919, ainda no início de sua carreira, participa de correntes literárias voltadas para a linguagem religiosa, chamada “Espiritualista”. Seu primeiro livro foi lançado em 1919: “Espectros”. Sua maturidade profissional deu-se no Simbolismo, com os livros “Viagem” e “Vaga Música”.
Como a própria autora diz: “..Essas e outras mortes ocorridas na família, acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno que, para outros, constituem aprendizagem dolorosa e, por vezes, cheia de violência. Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade”.
No poema Reinvenção, logo notamos uma das características marcantes da autora: a facilidade em escrever temas que procuram questionar e compreender o mundo. Ela, que tem uma sensibilidade rara em expressar suas próprias experiências de vida em seus textos, sempre surpreende com suas obras cheias de lirismo. Poetisa brasileira da segunda geração modernista, mas com influências da poesia medieval, romântica, parnasiana e simbolista, como o uso de formas fixas, especialmente o soneto, técnicas tradicionais de versificação, temas filosóficos e linguagem elevada, realizou obras “singulares” no contexto histórico em que foram desenvolvidas.
Imagem 1 – Cecília Meireles
[pic 1]
Fonte: Google Imagens, 2013.
REINVENÇÃO
A vida só é possível
reinventada.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... - mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só - na treva,
fico: recebida e dada.
Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
(MEIRELES, Cecília. Flor de poemas. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1972, p. 94.)
Esse poema está notoriamente ligado Simbolismo, graças ao emprego de uma breve musicalidade e também pela subjetividade, além de expressar uma postura resignada diante da efemeridade dos bens da vida.
O poema retrata em suas primeiras linhas um mundo isolado, que a autora criou para viver a fantasia, a magia de cada momento por ela idealizado. Um mundo só dela, que ela o reinventa a cada dia, sempre com a ilusão de que tudo será diferente; usa a Sinestesia para expressar seu mundo percebido pelos sentidos diversos.
“Ah! Tudo bolhas/ que vêm de fundas piscinas/ de ilusionismo... – mais nada.”, nessa parte do poema, ela compara bolhas com sonhos, imagens, pensamentos, sentimentos vindo do fundo da alma ou dos pensamentos no qual ela se expressa por piscinas de ilusionismo.
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... - mais nada.
Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
No trecho abaixo, Cecília Meireles espera a libertação através de suas fantasias, mas quando a realidade chega, vem com ela à decepção, baseada numa mentira que ela mesma criou.
Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.
No seu mundo, ela percebe que sempre está e estará só, até sentindo-se bem, mas sozinha, conformada com a VIDA e vivendo ainda na ilusão.
Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só - na treva,
fico: recebida e dada.
No trecho “Só – na treva,/ fico: recebida e dada.”, a poetisa compara “treva” com os pensamentos mais profundos e obscuros que vem da alma o refugio da imaginação e criação, os sentimentos e sonhos que em sua mente faz que ela se entregue, conformada, resolvida e até inanimada, sem alma.
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