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Pretensão artística

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Por:   •  13/6/2014  •  Tese  •  2.920 Palavras (12 Páginas)  •  236 Visualizações

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Fernando Pessoa – Ortónimo

O fingimento artístico

Na perspetiva de Fernando Pessoa, a arte poética resulta da intelectualização das sensações, o que remete para a temática do fingimento poético. Isto significa que, para este poeta, um poema é um produto intelectual e, por isso, não acontece no momento da emoção, mas no momento da sua recordação. Assim, ao não ser um resultado direto da emoção, mas uma construção mental da mesma, a elaboração de um poema define-se como um “fingimento”. Tal significa que o ato poético apenas pode comunicar uma dor fingida, inventada, pois a dor real (sentida) continua apenas com o sujeito, que, através da sua racionalização, a exprime através de palavras, construindo o poema. A dialética sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sentir/pensar percebe-se também com nitidez ao recorrer ao intersecionismo como tentativa para encontrar a unidade entre a experiencia sensível e a inteligência.

Fingir é inventar, modelar, construir, elaborando mentalmente conceitos que ex-primem as emoções ou que quer comunicar – processo criativo desenvolvido pelo poeta.

Em suma, a criação poética constrói-se através da conciliação e permanente inte-ração da oposição razão/sentimento.

A dor de pensar

Fernando pessoa sente-se condenado a ser lúcido, a ter de pensar, isto é, considera que o pensamento provoca a dor, teoria que alicerça a temática da “dor de pensar”. Na sequencia da mesma, o poeta inveja aqueles que são inconscientes e que não se despertam para a atividade de pensar, como uma “pobre ceifeira”, que “canta como se tivesse mais razões para cantar que a vida”, ou como “gato que brinca na rua” e apenas segue o seu instinto.

Assim, o poeta inveja a felicidade alheia, porque esta é inatingível para ele, uma vez que é baseada em princípios que sente nunca poder alcançar – a inconsciência, a irracionalidade –, uma vez que o pensamento é uma atividade que se apodera de maneira persistente e implacável de pessoa, provocando o sofrimento e condicionando a sua felicidade. Impedido de ser feliz, devido à lucidez, procura a realização do paradoxo de ter uma consciência inconsciente. O poeta deseja ser inconsciente, mas não abdica da sua consciência, pois ao apelar à ceifeira: “poder ser tu, sendo eu!/ Ter a tua alegre inconsciência/ E a consciência disso!”, manifesta a sua vontade de conciliar ideias inconciliáveis.

Em suma, a “dor de pensar” que o autor diz sentir, provém de uma intelectualiza-ção das sensações à qual o poeta não pode escapar, como ser consciente e lúcido que é.

A nostalgia da infância

Do mundo perdido da infância, Pessoa sente nostalgia. Um profundo desencanto e angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da sua efemeridade, isto é, o tempo é para ele um fator de desagregação na medida em que tudo é breve, tudo é efémero. O tempo apaga tudo. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado.

Frequentemente, para Fernando Pessoa, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão. Por isso, o constante descrença perante a vida real e de sonho. Daí, também, uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade.

Síntese das temáticas:

• Teoria do fingimento poético; sentir/pensar; consciência/inconsciência;

• Intelectualização dos sentimentos  teoria do fingimento

• Nostalgia da infância – único momento possível de felicidade plena; evocação da in-fância como símbolo de uma felicidade mítica, imaginaria e perdida (tempo onírico).

• Fragmentação do “eu”; despersonalização; sensação de estranheza, alheamento e desconhecimento em relação a si próprio; indefinição da sua identidade.

• Interseção da realidade objetiva com a realidade mentalmente construída; dicotomia sonho/realidade  incapacidade de conciliar o que deseja ou idealiza com o que realiza;

• Dor de pensar  adesão à teoria de que a lucidez, racionalidade e consciência são um entrave à felicidade plena.

• O tédio, a angustia existencial, a solidão interior, a melancolia.

• Teoria do fingimento artístico  dialética sinceridade/fingimento; o fingimento artístico não impede a sinceridade, apenas implica exprimir intelectualmente as emoções ou o que se quer representar; o poema é um produto intelectual resultante das emoções vividas;

• criar poesia  conversão das emoções vividas para as emoções fingidas/pensadas.

• Problemática da efemeridade do tempo  o tempo é um fator de desagregação na medida em que tudo é breve, tudo é efémero. O tempo apaga tudo.

• Supremacia da razão sobre as emoções no ato de criação poética  processo de intelectualização das emoções.

• Submissão relativamente ao ato de pensar  sente-se condenada a ser consciente, lúcido, a ter de pensar.

• Necessidade de evasão da realidade  refúgio no sonho, na música, na noite (que o permitem ascender a uma realidade onírica, a única capaz de lhe proporcionar felici-dade.

Fernando pessoa – Heterónimo

Alberto Caeiro

Alberto Caeiro é considerado o mestre de Fernando pessoa e dos outros heterónimos. Em toda a sua poesia, faz-se notar uma abundante predominância de descrições da natureza.

Caeiro privilegia a atividade sensorial em detrimento da atividade reflexiva, isto é, considera as sensações primordiais para a perceção real e objetiva da realidade imediata, que é o seu principal interesse. Assim, o poeta procura ver o real objetivo, sem atribui as coisas que observa quaisquer conceitos ou sentimentos humanos – é antimetafísico. Citando versos de O guardador de rebanhos, o autor considera que “O Mundo não se fez para pensarmos nele/(Pensar é estar doente dos olhos)
/Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…”. Revela, assim, a sua descrença

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