RELATÓRIO DE PESQUISA E APRESENTAÇÃO
Por: Leandro Henrique • 20/9/2015 • Relatório de pesquisa • 1.524 Palavras (7 Páginas) • 189 Visualizações
Disciplina: LET06257 LABORATÓRIO DE PRÁTICAS CULTURAIS: TEXTOS LITERÁRIOS NÃO-CANÔNICOS - 2015/1
Docente: Fernanda Cristina da Encarnação dos Santos
Discente: Leandro Henrique Lopes Moreira
RELATÓRIO DE PESQUISA E APRESENTAÇÃO
O presente trabalho consiste no compartilhamento, junto à classe da disciplina do Laboratório de Práticas Culturais: Textos literários não-canônicos do primeiro semestre do ano de 2015, da obra de um dos muitos talentosos e desconhecidos poetas brasileiros: Patativa do Assaré.
Nascido na cidade de Assaré, interior do estado do Ceará, em cinco de março de mil novecentos e nove, Antônio Gonçalves da Silva nasceu, se criou e expôs sua poesia a quem pôde e se consagrou como um dos (muitos) expoentes da cultura nordestina e brasileira, mas que, infelizmente, não recebem o merecido reconhecimento.
Dedicou sua vida a produção de cultura. Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista. Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai morreu quando tinha oito anos de idade. A partir deste momento começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família. Foi estudar numa escola local com doze anos de idade, porém ficou poucos meses nos bancos escolares. Nesta época, começou a escrever seus próprios versos e pequenos textos.
Mesmo sem formação acadêmica fez uso de expressões lingüísticas que, apesar de sua aparente simplicidade, transmitiram (e ainda transmitem) com fidelidade a dura realidade da vida marginalizada pela qual regiões de um país com dimensões continentais como o Brasil ainda estão submetidas.
Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha vinte anos de idade. A assimilação feita por seus conterrâneos foi baseada na forma bela e, ao mesmo tempo, triste com o qual o pássaro canta. Chegou a se apresentar nas cidades vizinhas e aos poucos fez com que “O Patativa” da cidade de Assaré se tornasse conhecido. Escreveu seu primeiro livro de poesias em 1956, intitulado “Inspiração Nordestina” onde retratou aspectos culturais importantes do homem simples do Nordeste. Após este livro, escreveu outros que também fizeram muito sucesso. Ganhou vários prêmios e títulos por suas obras.
Antônio Gonçalves da Silva morreu aos 93 anos, no dia oito de julho de dois mil e dois em sua cidade natal. Patativa é considerado o gênio da literatura cearense, por ser um poeta dotado de habilidades especiais. Sempre teve consciência do seu dom e do seu valor como poeta. Em entrevista à rede de TV local, certa vez disse: “poeta que tenha criatividade como o Patativa tem, são poucos, viu? É raro”. De fato, ele sempre soube de sua habilidade em fazer poesia e sempre teve intenção de divulgar e transmitir para a posteridade.
Viveu como lavrador e ao ser perguntado como conseguia, sem estudos e trabalhando pesado na roça, respondia:
“Eu fui um agricultor, mas a agricultura não interrompia minha criatividade. Eu nasci privilegiado pelo Supremo Dominador de Todas as Coisas, que é Deus. Ao mesmo tempo em que eu manejava a ferramenta agrícola lá na roça, aqui, mentalmente, eu ia fazendo poema, era tudo ao mesmo tempo. Em qualquer sentido que eu quisesse, principalmente sobre nossa vida, nossa terra, nossa gente”.
Patativa compôs um poema que pode servir como pista para sabermos quem ele foi, como foi criado, o que vivenciou e como via a vida:
O POETA DA ROÇA
Sou filho das matas, cantor da mão grosa
Trabalho na roça, de inverno e de estio
A minha chopana é tapada de barro
Só fumo cigarro de paia de milho.
Sou poeta das brenha, não faço o papel
De algum menestrel, ou errante cantor
Que vive vagando, com sua viola
Cantando, pachola, à procura de amor
Não tenho sabença, pois nunca estudei
Apenas eu seio o meu nome assinar
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre
E o filho do pobre não pode estudar.
Meu verso rasteiro, singelo e sem graça
Não entra na praça, no rico salão
Meu verso só entra no campo da roça e dos eito
E às vezes, recordando feliz mocidade
Canto uma saudade que mora em meu peito.
No ano de mil novecentos e sessenta e quatro, um de seus mais conhecidos poemas foi gravado por Luiz Gonzaga, após negociações que envolveram a divulgação da autoria junto do propósito do próprio Patativa, que era de levar à posteridade sua poesia. Segue a letra de “A triste partida”:
A TRISTE PARTIDA (Patativa do Assaré)
Meu Deus, meu Deus
Setembro passou
Outubro e Novembro
Já estamos em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
(meu Deus, meu Deus)
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai
A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
(meu Deus, meu Deus)
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermelho
Nasceu muito além
(meu Deus, meu Deus)
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois barra não tem
Ai, ai, ai, ai
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
(meu Deus, meu Deus)
Então o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai
Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Senhor São José
(meu Deus, meu Deus)
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai
Agora pensando
Ele segue outra trilha
Chamando a família
Começa a dizer
(meu Deus, meu Deus)
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai
Nós vamos a São Paulo
Que a coisa está feia
Por terras alheias
Nós vamos vagar
(meu Deus, meu Deus)
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Pro mesmo cantinho
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