Semântica do discurso: Uma crítica à afirmação do óbvio
Por: Juliana Fernandes • 16/8/2018 • Pesquisas Acadêmicas • 2.138 Palavras (9 Páginas) • 269 Visualizações
PÊCHEUX, Michel. Semântica do discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. Trad. Eni Pulcinelli Orlandi . Campinas: UNICAMP, 1988.
Fichamento elaborado pela acadêmica Juliana Fernandes Curso de Letras-UFMS/CPTL PIBIC.
Partindo da concepção de que a análise do discurso enfatiza nos estudos linguísticos questões relacionadas à história do poder e da ideologia, condições fundamentais para o acontecimento dos processos discursivos, Michel Pêcheux salienta a concepção discursiva da semântica. Trazendo em sua obra uma reflexão crítica com base nos conhecimentos científicos e as práticas políticas com relação às “práticas linguísticas” inscritas em determinados contextos socioeconômicos.
No primeiro capitulo do livro, o autor discorre sobre a relação entre “teoria do conhecimento”, retórica e a relação de determinação. Destacando a relação de determinação e explicação nas palavras de Chomsky, essa relação está baseada em uma análise de significação e referência. As sentenças explicativas são opostas as determinativas, esta ultima seria o jogo de relação entre compreensão e extensão ao passo que a explicação relação entre “teoria do conhecimento” e retórica. A explicação intervém com a incidência do pensamento sobre a ordem das essências.
Segundo o autor, a lógica “teoria do conhecimento” é a base para o bom uso da retórica, reconduz o sujeito à verdade do mundo das essências. Desse modo a “arte de falar” é constitutivamente pedagógica. Pêcheux traz a concepção de M. Foucault de ”língua materna como aquela que adquirimos na infância, e língua a aprender como regras gramaticais não utilizadas nem compreendidas” (PÊCHEUX, p 45, 1988). A medida que a boa retórica está a serviço da pedagogia, a retórica das figuras é considerada como sistema de erros, falar implica em seguir a regra e a retórica seria a concepção que o falante mantém com o discurso.
Tomando como referência a filosofia do século XVIII, o linguista francês salienta que as questões da teoria da linguagem encontram em transição “deslocamento”, em outras palavras, analisa o conceito de Leibnz a distinção de verdade da razão (verdades necessárias) e as verdades de fato (verdades contingentes). Esse deslocamento segundo o autor, consiste em reduzir as relações explicativas a relações determinativas, a “razão suficiente” da qual a razão analítica remete o super cálculo inacessível ao homem, que tem a necessidade de fatos contingentes.
De acordo com Pêcheux a questão da origem das línguas foi preocupação para o movimento filosófico do século XVIII, e nos conduz ao problema “moderno” da enunciação. As ciências antropológicas sensualista com a tese das varias línguas que estão relacionadas à nossas idéias, e estas vem de nossas necessidades e sentimentos. O autor salienta que é necessário levar em consideração que nossa linguagem está associada ao pensamento, fator biológico.
A teoria do conhecimento no que diz respeito à linguagem e linguística são dominadas pela categoria da subjetividade, com influencia do Filosofo Kant e seus sucessores. Pêcheux cometa que Kant introduz juízos analíticos e juízos sintéticos, o primeiro consistindo em verdade de natureza definida, ou redutível por cálculo a uma identidade, ao passo que juízo sintético corresponde ato do sujeito que coloca uma ligação entre conceito e algo exterior a ele. Essa noção entre necessário, contingente e ato do sujeito e se liga a subjetividade resultam na base do pensamento moderno.
Segundo o autor, a posição filosófica cujo pensamento e a linguagem provêm primeiramente da experiência e depois da dedução, não pode ser limitada apenas aos efeitos espontâneos que produz na prática do linguista. Esta posição filosófica, na visão de Pêcheux é uma forma de filosofia autônoma que traz a “solução ao problema” entre “ teoria do conhecimento” e retorica. O problema teórico entre os dois espaços foi abordado pela filosofia clássica que buscou soluções que permitiram impor uma unidade a esses dois espaços heterogêneos, anulando a separação entre eles.
No segundo capítulo Filosofia e linguagem à teoria do discurso, o autor discorre a respeito de língua e ideologia, independente de existir ideologias, ciências e filosofias da linguagem, os homens falam e as línguas existem. Seu estudo científico é possível e parcialmente realizado hoje em dia, ou seja, o caráter materialista da linguística como prática cientifica seu domino (semântica lógica e a retórica). Porém a ciência da linguagem é constantemente solicitada para fora do seu domino e isso não se dá por acaso isso acontece devido ao constante debate sobre as questões semânticas.
Segundo Pêcheux essas questões da semântica nesse contexto se manifestam na pratica lingüística como um ressurgimento daquilo que ela teve de se separar para se tornar o que é. Nesse contexto o autor fala que alguns pensaram na filosofia (materialista-leninista) como solução para essas questões lingüísticas. Essa concepção reside em ao mesmo tempo, num erro filosófico político de que a filosofia materialista ao impor seus resultados pode fazer o trabalho desta ciência. Nesse sentido pode ser dizer que era o idealismo e não para o materialismo que explorava a lingüística simulando e “recalcando” essa ciência.
A perspectiva idealista traz a linguagem uma superestrutura dada de acordo com formação social. Segundo o autor A língua é a base dos processos científicos diferenciados, processos ideológicos como simulação dos processos científicos. O sistema lingüístico como estruturas fonológicas, morfológicas e sintáticas que expressam uma autonomia relativa, leis internas (objeto) que desenvolvem os processos discursivos. O linguista Frances discorre que o processo discursivo ocorre em meio a uma relação ideológica de classes, como meio de comunicação entre os homens.
Nesse sentido o autor menciona, quando se faz uma afirmação pressupõe-se que os nomes empregados, sejam eles simples ou compostos possuem uma significação. Nas palavras de Pêcheux segundo a Concepção Fregeana, objeto seria tudo o que não corresponde a uma função, um nome próprio em que a expressão não contém um lugar vazio, em outras palavras a significação do nome corresponde a algo ou objeto, efeito sustentação responsável por realizar as articulações entre as proposições constituintes.
Na terceira parte do livro o autor trata da relação do discurso com a ideologia, procurando esclarecer as bases da teoria materialista do discurso introduzidas pelas condições ideológicas na reprodução e transformação das relações de produção. O autor ao abordar os pontos gerais da ideologia, nos remete a proposição de que ideologia não é o único elemento dentro do qual se efetuaria a reprodução das relações de produção de uma formação social. O caráter intrinsecamente contraditório de que todo modo de produção está baseado na divisão em classes.
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