Significado e Significante em Saussure
Por: Legrand76 • 18/12/2018 • Artigo • 6.132 Palavras (25 Páginas) • 323 Visualizações
Reflexão sobre a natureza do signo linguístico em Ferdinand de Saussure: vista d’olhos sobre o princípio da arbitrariedade semiótica entre significante e signicado
Reflection on the nature of the linguistic sign in Ferdinand de Saussure: taking a look on the principle of the semiotic arbitrariness between signified and signifier
RIBEIRO DE FREITAS, Adriano Luiz [1]
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo revisitar as noções de signo linguístico de acordo com o proposto pelo Curso de Linguística Geral, bem como analisar brevemente as características do mesmo e traçar a análise e reflexão críticas a respeito do princípio semiológico da arbitrariedade do signo. Assim, a discussão é empreendida a partir do texto saussuriano e as visões contributivas da linguística da enunciação de Benveniste, ao afirmar a ligação necessária do signo e as coisas do mundo real e que a ligação significado/significante não é arbitrária, bem como a crítica encontrada em Bouquet a respeito do tema do arbitrário na relação significante/significado.
Palavras-chave: arbitrariedade, significante, significado, signo
ABSTRACT
This article aims to review the notions about the linguistic sign according to proposals of Course in General Linguistics, as well as to shotly analyze its the characteristics and outline a critical analysis and reflection on the semiological principle of the arbitrariness of the linguistic sign. Thus, the discussion is undertaken from the Saussurean text and the contributory views of Benveniste's enunciation linguistics who states that the connection beteween the linguistic sign and the things of the real world is necessary and the relation signified and signifier is not arbitray. Also the criticism in Bouquet according semiotic arbitrariness between signified and signifier.
Key-words : arbitrariness, signified, signifier, sign
1. Introdução
O presente estudo tem por objetivo revistar o conceito de signo linguístico proposto por Ferdinand de Saussure, sua definição e sua natureza composicional na relação entre significado em significante, bem como sugerir uma reflexão crítica acerca do princípio semiótico da arbitrariedade, levando em conta as diferentes perspectivas epistemológicas atuais. Assim, com este propósito, empreendemos um estudo onomasiológico que “na óptica de J. Hjelmslev [...] parte da consideração da substância do conteúdo (conceito) [geral] para chegar à forma do conteúdo (signos linguísticos que correspondem ao recorte do campo conceitual)” (HJELMSLEV apud DUBOIS, 2014, p. 411), ou seja, partimos da ideia geral do signo saussuriano para, então, determo-nos ao princípio relacional de arbitrariedade entre significante e significado. É a relação de pars pro toto, em que o ponto de partida é mais amplo, enquanto o de chegada, o objetivo, é o restrito. Para tanto, tal percurso de análise e sugestão críticas não pretendem, de modo algum, esgotar o assunto ou mesmo contradizer a validade da relação de arbitrariedade do signo, mas, ao contrário, delinear uma reflexão sobre sua construção semiológica. Trata-se, aqui, de um estudo exegético que aventa para questões filosóficas e linguísticas, assim como para pontos pouco evidentes, em nossa opinião, na obra saussuriana no que se refere ao arbitrário do signo na sua relação constitutiva entre significado e significante como, por exemplo, o caso das onomatopeias apresenta do Curso de Linguística Geral (CLG).
Também, com o intuito de problematizar a discussão, trazemos as ideias de Émile Benveniste e Simon Bouquet a respeito da característica de constituição dual do signo. Consideramos que o pensamento de Benveniste sobre o que ele chama de “relação necessária” entre significado e significante e, além disso, a menção natural que o signo faz ao mundo real das coisas, isto, que a relação de arbitrariedade é aquela entre o signo e a coisa do mundo das substâncias, bem como a crítica tecida por Simon Bouquet à construção do próprio CLG e quanto à natureza arbitrária do signo, trazem valor à nossa discussão e podem, de maneira irrefutável, contribuir para a consolidação de “como” e “o que” entendemos do signo linguístico a partir da ideia primordial de Saussure. Não se ambiciona, com o presente estudo, aniquilar ou desmantelar a noção saussuriana, mas, pelo contrário, a partir das reflexões propostas, fazer um movimento de “vista d’olhos” sobre a realidade epistemológica da construção desta unidade da língua, chamada signo linguístico a partir de Saussure, e oferecer novos pontos de vista para os conceitos tão caros à linguística de ontem e de hoje, ao repensá-las num gesto de interpretação que almeja “reponderar” e não “desfazer” o objeto de estudo em questão. Deste modo, temos por certo que quanto mais nos “debruçamos” sobre determinada temática e dela depreendemos outros e possíveis olhares, mais podemos acrescentar para seu conhecimento e entendimento científicos. É objetivo nosso contribuir à reflexão científica e, por conseguinte, inferir questionamentos corolários à noção original de signo na obra de Saussure.
2. A natureza e os princípios básicos do signo linguístico
No início do XX, o linguista Ferdinand de Saussure inaugura a Linguística Moderna, momento em que, com a proposta de um pensamento inovador, define a língua como objeto da Linguística e, por consequência, concede a esta ciência a perspectiva de um saber no campo da humanidades. Saussure delimita o seu campo de estudo como sendo aquele da língua e não da fala (lembremo-nos, aqui, da dicotomia entre “langue” – língua e “parole” – fala, proposta pelo linguista). Não se nega a existência da segunda (da fala), apenas se promove uma escolha epistemológica de estudo. Ao linguista cabe deter-se à língua e ao signos linguísticos como escopo de estudo, já que o “signo assim apresentado [entidade psíquica de duas faces] não pode ser concebido pela definição clássica de representante de uma ideia e ainda menos de uma coisa; esta relação que não é negada (o locutor fala do mundo), não concerne ao linguista”. (NORMAND, Ademais, surge destes estudos o termo Semiologia, que é a teoria geral dos signos linguísticos. No CLG, deparamo-nos com uma introdução que “termina com uma série de definições sobre o signo, abrindo para a perspectiva geral da semiologia, ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social” (NORMAND, 2009, p. 61). Para o pensador e linguista, existe a linguagem que se compõe por língua e fala. No entanto, o objeto de estudo da Linguística é definido como sendo a língua, que é o linguagem menos a fala. Conforme o texto atribuído a Saussure, quanto se refere à língua;
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