Teoria do Medalhão - Machado de Assis
Por: Marianne Pieper Uhlig • 25/10/2017 • Resenha • 537 Palavras (3 Páginas) • 428 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS
DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS
Prof.ª FABÍOLA SIMÃO PADILHA TREFZGER
VILLAÇA, Alcides. Janjão e Maquiavel: a Teoria do medalhão. In: GUIDIN, Márcia Lígia; GRANJA, Lúcia; RICIERI, Francine Weiss (Org.). Machado de Assis: ensaios da crítica contemporânea. São Paulo: Editora UNESP, 2008, p. 31-54.
Aluna: Marianne Pieper Uhlig
O texto “Janjão e Maquiavel: a Teoria do medalhão”, de Alcides Villaça propõe uma discussão sobre “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis. Em seu texto, Villaça busca “tratar do modo pelo qual se vai constituindo essa ‘teoria’ e dos desvãos que abre para nossa necessidade ética de escolha” (p. 32).
A princípio, o significado do que é ser “medalhão” parece estar bem delineado, mas segundo Villaça, tanto Janjão quanto os leitores do conto teriam dificuldades para visualizar a figura do “medalhão”. Para Villaça, o texto de Machado pode ser considerado um manual de instruções, através de um monólogo do pai de Janjão, de como se tornar um “medalhão”.
Levando em consideração essas instruções do pai de Janjão, se tornar medalhão não dependeria apenas da sorte, mas de um grande esforço por parte do indivíduo, seguindo um árduo regime até alcançar o posto de “medalhão”. Villaça aponta em seu texto que a “moderação é a marca do medalhão autêntico” (p. 38), já que essa moderação conteria os impulsos da adolescência.
Porém essa moderação não seria apenas das atitudes do “medalhão”, mas também na forma de pensar do próprio indivíduo. Segundo Villaça, é uma “disciplina pela qual se abafa a força das ‘ideias próprias’, dando livre curso às ideias proveitosas, que são, não por acaso, as já dominantes”. Assim sendo, um “medalhão” seria uma pessoa rasa, que transitaria entre os pensamentos dominantes, sempre tentando agradar o outro, no intuito de ser bem visto diante da sociedade.
Essa moderação por parte do indivíduo não serviria de nada sem publicidade, que ocorreria não apenas dos grandes feitos realizados pelo “medalhão”, mas também das realizações cotidianas. Essa publicidade, para Villaça, levaria a consolidação do indivíduo como “medalhão”.
Todos esses aspectos da disciplina, cautela e publicidade de nada serviriam sem o reflexo da sociedade. Público e “medalhão” funcionariam com o espelho, onde um alimentaria o outro. Segundo Villaça, “o espelhamento se dá, portanto, quando tipo concreto e valor genérico confluem: o medalhão empresta seu corpo à ideologia, que lhe retribui a solidez centralizando-o como figura ‘de peso’” (p.42).
Villaça aponta para o tema da ironia, presente durante todo o conto machadiano. Na história, o pai de Janjão menciona o tipo de humor que um “medalhão” deve praticar, o humor irônico. Também se faz presente durante toda a história, o tom de fala irônico do próprio pai, que para Villaça seria, uma crítica de Machado, através da voz do pai, do papel exercido pelo “medalhão”.
Vale ressaltar ainda nesse discurso do pai, a ironia do próprio não ter sido um “medalhão” durante sua vida. O pai deposita em Janjão as expectativas de que este seja melhor do que aquele já foi. O fato de o pai instruir Janjão ao oficio de ser medalhão sem nunca ter exercido essa função se relaciona à Maquiavel, no sentido que Maquiavel, em “O Príncipe” escreve sobre as atitudes e ofícios de ser rei, sem nunca ter sido de fato rei.
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