The price of salt - Carol

TEMA

Análise do silêncio como elemento produtor de sentido na narrativa do livro Carol (1952), de Patricia Highsmith, buscando entender seu impacto tanto na estruturação do discurso da obra como na representação da temática homossexual nesse mesmo contexto, sob a ótica da análise de discurso de linha francesa (AD).

3 JUSTIFICATIVA

Como pontua Adrienne Rich (apud ROBINSON, 2015), ser lésbica nos Estados Unidos em meados dos anos 50 foi difícil e perigoso. O discurso dominante era – e ainda é – o da heterossexualidade compulsória às mulheres, bem como a exigência a um encaixe ao padrão de uma essência feminina particular. Sendo um período de pós-guerra, era esperado das mulheres que se casassem para constituir uma família, vinculadas ao cuidado do lar, o que, na maior parte das vezes, acabava na submissão econômica, intelectual e emocional dessas, perante seus maridos.

Ao mesmo tempo, revistas de grande circulação ensinavam como lidar de modo educado com as “aberrações” e milhares de trabalhadores do governo foram demitidos em massa por serem gays, num episódio conhecido como Lavender Scare (JOHNSON, 2006). Essa ideologia dominante cria um lugar social ao sujeito lésbica:

(...) The social position or “place” of lesbians (and sexual minority women in general) in any society is significantly affected by the social constructions of sexuality and gender in that context. We draw from Adrienne Rich’s theory of compulsory heterosexuality […] Rich explains that compulsory heterosexuality is an ideology and a political institution—and a cornerstone in the denial of lesbian existence, control of female sexuality, and the oppression of women.1 (ROBINSON, 2015, online, sem numeração)

Nesse contexto, o livro The Price of Salt, publicado pela primeira vez em 1952, escrito por Patricia Highsmith, causou relativa comoção ao tratar a lesbianidade como tema central em sua narrativa; um assunto que, se não proibido, era invisibilizado pela estrutura social da época. A narrativa tem seu fio condutor na realidade da década de 50 e acaba por expressar o contexto de silenciamento pelos quais passam as personagens.

Este projeto de pesquisa tem o objetivo de investigar o uso do silêncio no livro The Price of Salt (Carol, em sua versão mais recente em português) como meio de subverter o discurso da ideologia dominante e o lugar do sujeito lésbica, na sociedade. Para tal, escolhemos abordar esse assunto sob a perspectiva da Análise de Discurso Francesa, a fim de compreender os processos de significação e polissemia, reconhecendo a importância de pensar os processos discursivos na produção dos sentidos em face às ideologias vigentes.

4 OBJETIVOS

4.1 OBJETIVO GERAL

Identificar a ocorrência do uso do silêncio na construção de unidade de sentido no livro Carol (versão em português), demonstrando seu impacto tanto na estruturação do discurso como na representação da temática homossexual no contexto da obra, sob a ótica da análise de discurso de linha francesa.

4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

– Utilizar os conceitos de silêncio fundador e política do silêncio (ORLANDI, 2007) para produzir um recorte entre o que se diz, o que não se diz e o que não se poderia dizer no discurso do livro;

– Analisar o papel do silêncio, no contexto da obra, na representação do discurso de temática homossexual;

– Discutir a relação entre contexto histórico em que se passa a narrativa e o uso do silêncio para demarcar o que não poderia ser, mas acaba sendo dito;

– Analisar a ocorrência de mecanismos de vozes sociais que buscam significação no discurso, através do uso do silêncio, em oposição a uma ideologia dominante.

5 HIPÓTESES

A primeira hipótese é a de que existem marcas discursivas de silêncio no livro Carol; por isso, pretende-se identificar e analisar os efeitos de sentido produzidos por elas. A segunda hipótese é de que a incompletude, a noção de falta, nesse discurso, acaba produzindo diversos sentidos, os quais são estruturantes, visto que sem tais sentidos o discurso da obra não construiria a significação que produz.

6 REFERENCIAL TEÓRICO

Eni Pucinelli Orlandi, em seu livro As Formas de Silêncio, conceituou três formas principais de silêncio, quais sejam, respectivamente, (1) o silêncio fundador, (2) o silenciamento e o silêncio local (3). Enquanto o silêncio fundador permeia todo o discurso, o silenciamento é uma política do silêncio para, quando algo é dito, outro algo seja silenciado. O que se diz, se diz para evitar que outra coisa seja dita. Nesse sentido, a autora defende que:

(...)Com efeito, a política do silêncio se define pelo fato de que ao dizer algo apagamos necessariamente outros sentidos possíveis, mas indesejáveis, em uma situação discursiva dada. A diferença entre o silêncio fundador e a política do silêncio produz um recorte entre o que se diz e o que não se diz, enquanto o silêncio fundador não estabelece nenhuma divisão: ele significa em (por) si mesmo. (ORLANDI, 2007, p.74)

O silêncio local, também chamado de censura, está inscrito na política do silêncio. O silêncio local funciona como uma forma de impedir que as pessoas digam determinados dizeres. Esse processo de evitar que as pessoas digam certas coisas é chamado, na perspectiva da AD, como interdição. Nessa abordagem, censura é considerada em sua materialidade linguística e histórica, isto é, discursivamente.

Por fim, para discutir a relação entre o contexto histórico ocidental em que se passa a narrativa e o uso do silêncio para demarcar o que não poderia ser, mas acaba sendo dito, problematizando a relação dos sentidos produzidos, será trazido brevemente o conceito de sujeito do psicanalista Jacques Lacan, cujos estudos servem de base à teoria da AD. Além disso, também será usada a conceitualização histórica retirada de Odd Girls and Twilight Lovers: A History of Lesbian Life in Twentieth-Century America, de autoria de Lillian Faderman (2012), cujo conceito tem importância secundária, no entanto, também é importante à análise da obra como um todo.

7 METODOLOGIA

Iniciaremos nosso projeto, realizando uma pesquisa bibliográfica para delimitar