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Viagens da minha terra garrett

Por:   •  5/5/2015  •  Artigo  •  3.386 Palavras (14 Páginas)  •  314 Visualizações

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GARRETT: Viagens na Minha Terra                                    anotações de aula

Informações biográficas: nasceu no Porto, em 1799, e aí viveu sua infância até 1804, quando a família se mudou para a Quinta do castelo, na margem sul do Douro. As invasões francesas, na primeira década do século XIX (1809), obrigaram a família, pertencente à burguesia próspera e letrada, a refugiar-se na  sua propriedade da Ilha Terceira, nos Açores. Ingressou, em 18l6, na Faculdade de Direito de Coimbra, depois de receber a influência eclesiástica do tio e educador. Aderiu aos ideais do liberalismo que então ganhavam terreno, apoiando em 1820, a revolução liberal. Datam desse período as suas primeiras publicações.

Terminou o curso de Direito em 1821, passando a ocupar alguns cargos públicos na administração liberal; mas, 1823, o golpe da Vila-Francada levou-o, juntamente com a mulher, Luísa Midosi,  a procurar refúgio na Inglaterra e depois na França. No exílio, o contato com a cultura e literatura inglesas determinaram a sua atividade literária posterior.  Datam desta época os poemas CAMÒES (1825) e D.BRANCA (1826), considerados como os marcos introdutórios do Romantismo em Portugal. Regressa à terra natal em 1826, destacando-se nas atividades jornalísticas. Contudo, em 1828, com a restauração do absolutismo, foi obrigado a regressar a Inglaterra, de onde voltaria, em 1832, para contribuir novamente na implantação do novo regime constitucional. Foi cônsul  e responsável por negócios de Portugal na Bélgica (1834-1836). A sua carreira na política e na vida pública nacional foi interrompida pela subida  de Costa Cabral ao poder. Alguns anos após é reabilitado para a vida pública, tendo se tornado par do reino, em 1851, mesmo ano em que fundou o jornal A Regeneração. Foi ainda nomeado Ministro do Negócios Estrangeiros em 1852, e, dois anos mais tarde, D.Pedro V lhe  atribuiu o título de visconde. A sua personalidade exuberante ficou marcada na história política e cultural do país. Como escritor, a sua formação foi basicamente arcádica, evoluindo para modelos românticos a partir da sua permanência na Inglaterra. O ideal de participação cívica refletiu-se em sua criação literária, particularmente através dos dramas históricos e dos poemas da fase arcádica. Este ideal cívico também está presente nas Viagens na Minha Terra (1846) , obra fundamental da prosa novelística portuguesa. Nesta obra  confrontam-se, no contexto histórico da época,  o liberalismo e o conservadorismo políticos e, no contexto literário, os valores clássicos e românticos, regionalistas e universalistas. Esta obra, de caráter pedagógico evidente, denuncia, numa viagem simultaneamente no tempo (ao passado, de que se recuperam acontecimentos exemplares do espírito nacionalista e se contestam outros) e no espaço nacional, uma atitude crítica  relativamente ao presente. Defendendo que o contato com as fontes nacionais populares era essencial à vitalidade da literatura, Almeida Garrett levou a cabo uma regeneração da língua portuguesa, conferindo-lhe uma naturalidade de que esta carecia e aproximando-a da oralidade popular.

(Breve História da Literatura Portuguesa, vol.I, Texto Editorial.Lisboa, 1999)

A obra VIAGENS NA MINHA TERRA é resultado de uma viagem do autor a Santarém, a convite do político e amigo Passos Manuel. A obra começou a ser

publicada em 1843, em capítulos, na Revista Universal Lisbonense., Só em  1846 foi publicada em seu conjunto. Nela, ao longo de 49 capítulos,  o autor faz um relato caprichoso, entremeado de divagações de toda ordem ( moral, ciência, política, sociedade e comportamento social, religião, literatura e artes em geral) e, também, descrições paisagísticas. Intercalada a estes relatos da viagem, encontra-se uma NOVELA em que é contada, também de modo intercalado, a história de uma família, sobre a qual se abateu o infortúnio . Assim, o enredo não é linear, pois nela as duas histórias se desenvolvem simultaneamente, uma se interrompendo para dar vez à outra e vice-versa; a história da viagem feita por Garrett  de Lisboa a Santarém e, dentro dela, a história de CARLOS e JOANINHA ( a menina dos rouxinóis), que “teria sido contada a Garrett por um companheiro de viagem”.

Fortuna crítica:

                

“As Viagens na Minha Terra estão para a prosa portuguesa assim como as Folhas Caídas estão para a poesia: ambas despiram  a vestimenta pesadona e afetada que sufocava a poesia e a prosa praticadas até então. Um ar jornalístico, de naturalidade e espontaneidade coloquial, substitui o empertigamento e a preconcepção estilística tradicional. Nisso, Garrett foi mestre de românticos e realistas , dentre os quais Eça de Queirós e Machado de Assis. (...) Prosa liberal, desataviada, numa palavra, romântica, ou seja, composta pela imaginação e pela idealização, uma prosa enxuta, direta e palpitante, prosa emocional, oposta à prosa intelectual, vigente até o século XVIII...” (Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa Através dos Textos, Editora Cultrix)

”Como tem sido insistentemente afirmado, as Viagens na Minha Terra são uma obra  única na Literatura portuguesa, quer pela estrutura, quer  pelo estilo. E esta obra híbrida e complexa (a que tanto convencionalmente se tem chamado romance) – misto de narrativa de viagens, de crônica jornalística, de autobiografia, de comentário político, de novela sentimental – concilia em si as facetas dominantes da personalidade de Garrett,  os seus interesses e preocupações; e nela convergem e se realizam, em superior equilíbrio estético, as vivências do autor e a sua experiência literária, numa afirmação original de individualismo, que caracterizaas suas obras de maturidade, e a que não    é alheia a influência  de  Goethe.

Estilisticamente, a grande inovação da obra consiste, como veremos, na criação de uma nova linguagem literária, (...) que deriva não só da prática jornalística do autor, mas também do seu conhecimento aprofundado da língua portuguesa, quer da língua vernácula, que estudou através da leitura dos clássicos portugueses, quer da língua popular, para a qual o atraiu o seu nacionalismo estético.  E este romance  exprime também, de maneira atraente e original, a personalidade do autor, num exibicionismo, simultaneamente  coquette  e irônico, calculado e inconsciente, como se, sob a aparente espontaneidade da linguagem e a dispersão temática, também aparentemente involuntária, o autor fosse movido por uma mais profunda intenção: justificar-se aos olhos do leitor e, talvez, aos seus próprios olhos.”  (Maria Ema Tarracha Ferreira,introdução , in Viagens na Minha Terra, Editora Ulisséia)

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