A PEDAGOGIA DA HOSPITALIDADE COMO METODOLOGIA DE ANÁLISE DO CAMPO DE ATUAÇÃO E PESQUISA DA PEDAGOGIA SOCIAL
Por: Déborah Pereira • 25/11/2019 • Artigo • 5.382 Palavras (22 Páginas) • 217 Visualizações
A PEDAGOGIA DA HOSPITALIDADE COMO METODOLOGIA DE ANÁLISE DO CAMPO DE ATUAÇÃO E PESQUISA DA PEDAGOGIA SOCIAL.
Débora Simeão Ortman Pereira (UERJ/FFP) - ortmanffp18@gmail.com
Arthur Vianna Ferreira (UERJ/FFP) - arthuruerjffp@gmail.com
Introdução
Esse presente trabalho tem como objetivo apresentar a Pedagogia da Hospitalidade, como uma das diversas maneiras de se analisar a prática da Pedagogia Social. Sobre o campo teórico da Pedagogia social e sobre seu desenvolvimento no mundo e no Brasil. Autores como Ferreira (2018), Machado (2009), Silva, Moura e Neto (2009), apresentam fundamentações sobre a Pedagogia social e debatem a importância do reconhecimento de tais práticas socioeducativas existentes nos múltiplos grupos sociais que compõem a sociedade.
A partir, das informações apresentadas sobre a Pedagogia Social, e entendendo suas exigências para a sua prática no campo social, tomamos como método de análise a Pedagogia da Hospitalidade. A Professora da Universidade Pontifica Católica, Isabel Baptista, destaca a importância da Pedagogia da Hospitalidade dentro das práticas socioeducativas, e chama a atenção, não somente para o reconhecimento da pluralidade da diversidade existente no campo social, mas também para a percepção que temos sobre o outro, no campo da Alteridade. Dessa forma, entendendo o objetivo da Pedagogia Social de propor metodologias educativas específicas, para grupos em vulnerabilidades sociais, a autora apresenta características dessa pedagogia da Hospitalidade, que são essenciais para a prática socioeducativas no campo social, valorizando não somente as múltiplas vivências, mas também buscando práticas que contribuam para uma vivência democrática.
A partir de toda a explicitação feita sobre a Pedagogia da Hospitalidade e sua relação, nas práticas da Pedagogia Social, este trabalho, analisa a relação da Pedagogia Social e da Pedagogia Escolar, reconhecendo a Importância da cada uma para a resolução de conflitos. Nesse trabalho, tomamos como objeto: A relação das práticas Educacionais escolares e não escolares, reconhecendo a riqueza Pedagógica de cada prática, dessa forma, tendo ambas como cooperantes e não concorrentes; A autonomia do Educador nesse processo, reconhecendo que a ação educativa se dá na especificidade humana, onde o Educador tem o papel fundamental nesse processo e a Identidade Social da Escola, que é formada a partir da abertura e dos diálogos com outros grupos e indivíduos que constituem aquele espaço. Reconhecendo assim, a escola como um lugar antropológico, onde as múltiplas vivências e realidades coexistem democraticamente.
Pedagogia Social
A Pedagogia Social surge da necessidade de propor metodologias educativas específicas para grupos em vulnerabilidades sociais. Sua práxis busca apaziguar os impactos causados pela desigualdade social, tendo como finalidade integrar esses indivíduos menos favorecidos ao convívio social, reconhecendo que o processo educativo acontece no decorrer desse convívio.
Em seu campo teórico, diversos autores debatem a importância do reconhecimento de tais práticas socioeducativas existentes nos múltiplos grupos sociais que compõem a sociedade. Por certo é que as práticas educacionais habituais se formam em uma essencial ferramenta de transformação social e de autossuficiência dos indivíduos.
O Professor do Departamento de Educação da UEPG, Érico Ribas Machado, mostra que há diferentes perspectivas que fundamentam teoricamente e metodologicamente a Pedagogia Social. Para alcançar a compreensão desse campo, é fundamental conhecer suas origens e o contexto social, onde foi cunhada terminologia, dessa forma, é possível compreender todo processo de estruturação da Pedagogia social.
Machado (2009) ao contextualizar o processo histórico, onde a Pedagogia Social vai surgir, destaca os processos sociais e educacionais característicos do final do século XIX e início do Século XX. Essa contextualização se dá especificamente no continente europeu, enfatizando os contextos sociais da Alemanha, que é considerada o berço da Pedagogia social e Espanha, que teve influência direta da Alemanha em seus processos educativos:
A educação do século XIX esteve intimamente ligada aos acontecimentos políticos e sociais de sua época. Segundo Luzuriaga (1986), a Revolução Industrial influenciou fortemente na concentração de grandes massas de população e a necessidade de cuidar de sua educação. Concomitantemente, a Revolução Política chega com o triunfo do parlamentarismo e a necessidade de educar o povo soberano. Todo o século XIX, de acordo com o autor, caracterizou-se por um contínuo esforço em efetivar a educação, do ponto de vista nacional. Intensificaram-se lutas dos partidos políticos, tanto conservadores como progressistas, reacionários e liberais, por apoderar-se da educação e da escola, para reger suas finalidades (MACHADO, 2009, p. 29).
Segundo Machado (2009), Luzuriaga vai afirmar que a educação se adapta às condições históricas dos diversos países que no século XIX estabelecem seus sistemas nacionais. Machado ressalta que a Alemanha é considerada o berço da Pedagogia Social, tanto no sentido de elaboração das terminologias e sua fundamentação, como também na organização e reconhecimento social. Sobre isso, ele afirma:
Cabanas (1997) descreve que os pesquisadores alemães vinculam a aparição da Pedagogia Social, enquanto prática, ao surgimento da sociedade industrial, no sentido de que esse processo de industrialização da sociedade provocou um acúmulo de problemas que atingiu grupos humanos. As imigrações, greves, aglomerações urbanas, bairros periféricos, são considerados problemas que desestruturam a vida humana e que a educação social atua a partir desses problemas. O autor complementa que ela pode ser considerada um fenômeno recente, ela surge a partir dos problemas já relatados (MACHADO, 2009, p. 44).
Sobre o processo de desenvolvimento da Pedagogia Social, Arthur Ferreira, Professor da UERJ/FFP, mostra que embora, tal pedagogia tenha recebido a adjetivação de “social” no início do século XXI, a preocupação trazida por esse campo teórico sobre o social na Pedagogia não é algo contemporâneo:
A Pedagogia Social, como um campo teórico a ser aprofundado atualmente, foi organizada na Alemanha do final do século XIX. Paul Natorp (1854-1924) foi um dos primeiros teóricos da educação a cunhar o termo So cialpädagogik que se traduz como “Pedagogia Social” utilizado para designar essa teoria. De fato, Natorp (cf. OTTO, 2009, p. 29) utiliza esse termo em um contexto social alemão específico. No início do século XIX os trabalhadores alemães sofriam com as mudanças sociais e econômicas do país que não garantiam as políticas de bem-estar social e as estruturas sociais mínimas para atender as demandas da população operária e suas famílias. (FERREIRA, 2018, p. 32).
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