A TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
Por: Furtado Costa • 15/11/2017 • Artigo • 2.393 Palavras (10 Páginas) • 258 Visualizações
CAPÍTULO I
Contextualizando a escola pública
A escola é um espaço social em que se dá a educação formal e não pode ser entendida “fora da compreensão de algo mais abrangente que ela – a sociedade mesma na qual se acha” (FREIRE, 1984). Ainda segundo Freire, não se pode falar da escola sem se referir ao contexto histórico-social, econômico e político da sociedade em que ela está inserida, além disso, há que se refletir como esta instituição vem se constituindo: a quem serve e a favor de que serve a escola?
Foi a partir da Idade Média que a educação passou a ser realizada em espaços específicos, antes a prática educativa era realizada no dia-a-dia da comunidade e:
[...] consistia na aquisição de instrumentos de trabalho e na interiorização de valores e comportamentos enquanto o meio ambiente em seu conjunto era um contexto permanente de formação. (HARPER et al, 1984, p. 23).
Mas a escola na Idade Média era reservada aos mais ricos, aos nobres. Os pobres continuavam a aprender na prática, no seu dia-a-dia. Com a ascensão da burguesia, a escola também passou a servir esta classe. E essa instituição rendia culto à moral e à religião, ao culto da palavra e ao saber abstrato, ou seja, estava de acordo com a cultura vivenciada pela elite e harmonizava-se com a origem dos alunos que a frequentavam, para o quais “educar-se era sinônimo de aprender a pensar e comporta-se como GRANDES SENHORES” (HARPER et al, 1984, p. 23).
Com a revolução industrial, as crianças provenientes das classes operárias passaram a frequentar a escola primária e recebiam a educação mínima necessária a sua integração na sociedade industrial, enquanto que as crianças advindas da elite seguiam um percurso educacional mais aprofundado, até alcançarem a universidade.
Aos poucos a sociedade operária industrial foi exigindo a mesma igualdade de oportunidades e reivindicando o ensino público gratuito e obrigatório para todos, ou seja, a educação passa a ser vista como um instrumento de democratização e uma forma de oferecer a emancipação das classes menos favorecidas.
Hoje sabemos que não é bem assim, haja vista que continuamos tendo uma escola para os ricos e outra para os pobres, pelo menos na realidade brasileira, que conhecemos. Prova disso é que o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) no ano de 2015 que pode ser lido na reportagem da Veja.com: “O resultado divulgado na manhã desta terça-feira pelo Inep, órgão responsável pelas avaliações oficiais, ligado ao Ministério da Educação (MEC), reafirma o predomínio das particulares [...]” (VIEIRA, s.d). E a mesma reportagem continua informando que no grupo das dez melhores escolas cujos alunos melhor se saíram bem no exame, todas são particulares, além disso, afirma: “Outro fator que aproxima os colégios que encabeçam a lista é o elevado nível socioeconômico dos alunos”.
Feitas as considerações acima, e já situando a educação no Brasil, cuja literatura abrange e investiga, sobretudo, o período do estado Novo para nossa época, e isto não quer dizer que não haja estudos sobre os primórdios da educação no Brasil do Império, por exemplo. Mas o fato é que no âmbito do nosso trabalho não julgamos necessário realizar todo o percurso do processo educacional brasileiro, cujo objetivo maior é tecer considerações acerca da contribuição do Serviço Social para a educação pública, por isso, selecionado e fazendo recortes, faremos uma síntese desse percurso a partir da década de 30.
1.1 Um resumo do processo histórico da educação no Brasil:
Como visto anteriormente, a educação, como processo, “é anterior ao aparecimento da escola” (GADOTTI, 1987, p.39), depois é que se institucionalizou como sistema escolar, passando, assim, a orientar e controlar o desenvolvimento humano. E essa orientação e controle são realizados de forma a consolidar a estrutura de classes existente, ou seja, como diz Gadotti (1987, p. 40) citando Brandão (1981):
“[...] do ponto de vista de quem a controla, muitas vezes definir a educação e legislar sobre ela implica justamente ocultar a parcialidade destes interesses, ou seja, a realidade de que eles servem a grupos, a classes sociais determinadas, e não tanto ‘a todos’, à Nação’, ‘aos brasileiros’.
A educação, no Brasil, é elitista. O Estado legisla, prescreve que todos têm iguais oportunidades de acesso à escola, mas, na prática, esta prescrição legitima a própria desigualdade, pois o estado não leva em conta que as condições que levam a esse acesso são desiguais. Os menos favorecidos economicamente, os mais pobres, não conseguem acompanhar o ritmo daqueles que vivem em um meio abastado e acabam ficando no meio do caminho do processo educacional devido a evasão, a repetência, pois:
É coisa sabida que as condições de vida, o local de residência, o tipo de família, o meio ambiente, o tempo de que dispõem os pais para se ocupar das crianças e ajudá-las nos deveres escolares desempenham um papel decisivo nos resultados obtidos pelos alunos nas escolas. (HARPER et al, 1984, p. 73).
A democratização do acesso à educação pública para todos não leva em conta as diferenças nas condições materiais da vida, as diferentes experiências adquiridas fora da escola, garante quantidade, mas não a qualidade. E o que acontece é que esse processo educacional acaba ligado à ideologia dos dons e do mérito, que seleciona e gera a exclusão dos economicamente menos favorecidos, por isso se dizer que:
[...] a escola – pelos seus mecanismos de seleção e de exclusão – reflete e reforça a hierarquização da sociedade: de um lado, em suas universidades e institutos tecnológicos, ela forma especialistas superqualificados [...] de cuja competência vai depender o destino dos outros e o ‘progresso’ de todos; de outro lado a escola produzirá também o seu ‘refugo’. Isto é, pessoas que, tendo fracassado em seus estudos e tendo sido convencidas de que o fracasso se deve a sua própria inferioridade, não terão outra alternativa senão ocupar os empregos menos interessantes e também, ‘naturalmente’, pior remunerados. (HARPER et al, 1984, p. 95).
Desse modo, podemos dizer que, ao selecionar excluir, a educação brasileira é elitista, e como não pode ser compreendida fora do contexto sócio-político e econômico do país, a afirmação de que que ela funciona como reflexo dos interesses da classe social que está no poder não é descabida.
O Brasil começa a se distanciar do modelo de economia agrária e ingressa na era da Industrialização a partir da I Guerra Mundial (1914-1918). As modificações do sistema econômico, de uma economia agrária, voltada para a exportação do café, para uma economia industrializada, afetou o campo e fez com que a população rural migrasse para as cidades. Além disso, gerou a formação de uma nova classe: a burguesia industrial.
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