A diversidade cultural na educação
Por: Fran Carniel • 3/7/2017 • Ensaio • 2.067 Palavras (9 Páginas) • 323 Visualizações
DIVERSIDADE CULTURAL NA EDUCAÇÃO
As sociedades mudam, se reestruturam, se moldam. Nenhum grupo social é, de fato, igual ao outro e isso pode ser notado ao longo dos anos. Cada cultura gera sua particularidade e essas singularidades podem se mesclar e também se isolar. Dentro desse contexto, a educação[1] se torna o facilitador do conhecimento de outras culturas, as suas nuances, seus caminhos, suas discussões, suas especificidades. Logo, cabe ao educador ensinar que o diferente deve ser conhecido, estudado e respeitado, buscando combater preconceitos arraigados no nosso cotidiano.
Antropologia e educação
As ciências humanas e sociais de forma geral, tem estudado sobre a relação entre os indivíduos em sociedade. Como cada um se comporta e como suas características sociais se misturam. As observações podem ser ponderadas, por exemplo, pela Antropologia, que na medida em que o mundo se transformava, foi se moldando e estabelecendo novas formas de estudar cada local. De acordo com sua construção histórica, o objetivo da Antropologia mudou. Se no início o estudo era voltado para reconhecer e sistematizar diferenças, no final do século XX o seu objetivo já era outro: engajar politicamente a sociedade estudada.
No campo educativo, o século XX veio com a ideia de buscar uma funcionalidade entre a escola e a sociedade, pretendendo normalizar os sistemas educativos para se adequar aos desejos de uma escola ideal, visando à formação dos indivíduos a partir de valores morais intrínsecos. Dessa forma, A antropóloga Neusa Gusmão explica que “o centro de sua razão estava [...] na relação indivíduo-sociedade” (Gusmão, 2008, p. 51) que seria questionada como campo científico nas décadas de 1950/1960, desencadeando críticas sobre a compreensão de sujeitos sociais, suas particulares e culturas diferentes, surgindo outras perspectivas de conhecimento.
Posteriormente, em meados da década de 1990, ocorre uma revisão do conhecimento científico e a busca por novas alternativas suscitou o movimento “crise dos paradigmas”. Dentro desse contexto, a educação começou a trabalhar abordagens como multiculturalismo, um campo que propõe explicar a diversidade social, na teoria e na prática. Segundo Gusmão, “as relações entre a educação e a antropologia, em particular aquela que emergiu ao final dos anos 1980/1990, marcada pela institucionalização e pela generalização de um novo campo disciplinas: os estudos culturais” (GUSMÃO, 2008, p.51).
Desse modo, percebe-se que a educação foi desafiada a responder às diversidades sociais humanas que se impunham, e se impõe, como realidade e como direito no alvorecer do século XXI. No pano de fundo da história, a educação e sua prática, ainda em busca de homogeneização e dos universais humanos, determinaram-se como um efetivo processo de ensino centrado em modelos pedagógico e cultural diversos, porém que não venceram a contento a natureza etnocêntrica e homogênea presente na instituição escolar.
O desafio da educação no Brasil no século XXI
A educação brasileira no início do século XX permeava entre o conservadorismo católico e o modelo tradicional de educação, em que o professor era o centro do conhecimento e o aluno apenas receptor das informações, não podendo questiona-las. Pautada por ideais europeus, quem de fato tinha uma educação de qualidade eram aqueles que tinha condições financeiras de estudar em colégios tradicionais ou então, fora do território nacional. Desse modo, a grande massa brasileiro tinha acesso restrito ao âmbito educacional, que só mudou – em partes – após a Lei de Diretrizes e Bases de 1961.
O Estado nesse momento desenhava o percurso da educação, direcionando como deveria ser ministrado o conteúdo e quais os pontos deveriam ser priorizados. Nesse momento, princípios patrióticos eram demasiadamente ensinados para que a população fosse encaixada nos moldes sociais desejado. Na década de 1960, o mundo estava em transformação e no Brasil, era instaurado um regime civil-militar, onde a censura e a violência aparentavam ser os objetivos[2] primordiais do Estado.
Com o fim da ditadura civil-militar em 1985, o Brasil mudou e consequentemente, a educação também. Os anos de 1990 e 2000 trouxeram no campo educacional transformações enriquecedoras atreladas as mudanças da antropologia. Conceitos antes proibidos de serem passados em sala de aula, entraram na pauta oficial. A educação se propôs a questionar diversos assuntos, os alunos podiam questionar e formar seu senso crítico. A luta pela educação crítica de Paulo Freire estava finalmente sendo incorporada em âmbito nacional.
Nessa conjuntura, Raquel Rua Baptista Bakke relata sobre a implantação da lei 10.639/03 “que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ‘História e Cultura Afro-Brasileira’” (LEI 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003) enfatizando a construção do ensino sobre as religiões afro-brasileiras. A lei veio para quebrar uma serie de preconceitos que a formação brasileira havia enraizado.
No caso do Brasil, a ideia de raça é central para a construção da Nação. Não é por acaso que o mito fundador de nossa nação é chamado de "mito das três raças." Prevaleceu, entre nós uma forma mestiça de imaginar a nação, como se fôssemos resultantes biológica e culturalmente do encontro entre o português colonizador, do negro africano escravizado e do, ora bom, ora mau "selvagem", indígena autóctone. (BAKKE, 2011, p. 20).
Com as concepções moduladas sobre a cultura afro-descente de maneira rasa, a lei buscou atingir a educação mostrando a diversidade cultural afro no Brasil e quebrando preconceitos estabelecidos. Procurou enfatizar suas influências na história brasileira e suas particularidades, isso graças a luta dos movimentos negros.
A questão que se coloca a partir disso é: a Lei impôs a aplicação de um conteúdo que aborda a construção da identidade afro-brasileira, no pós legislativo, ou seja, na implantação da Lei percebe-se a construção de uma abordagem que prioza o conceito de Africanicidade nessa construção de identidade. (BAKKE, 2011, p. 206).
Mas como trabalhar isso em sala de aula? Retomaremos esse tópico mais para a frente.
Evidente que todos os progressos educacionais foram realizados de forma lenta e questionada, refletindo até os dias atuais. A tradição ainda está em voga e a preceitos religiosos, por exemplo, ainda são vistos. Podemos observar projetos de lei que refutam a liberdade educacional. O “Escola Sem Partido” por exemplo, priva o professor de ensinar livremente, alegando que o profissional usufrui de seus ideais ideológicos para “doutrinar” os seus alunos, como se o aluno fosse folhas em branco passiveis de concordaram com tudo que os educadores dizem. Se caso for aprovado, a educação dará passos largos, para trás.
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