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A importancia dos jogios para o desenvolvimento

Por:   •  3/9/2017  •  Trabalho acadêmico  •  6.599 Palavras (27 Páginas)  •  351 Visualizações

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CAPÍTULO I

CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA E NOVA VISÃO PARA O JOGAR / BRINCAR

        A concepção de infância é algo determinado histórica, social e culturalmente. Philippe Ariès relata as diversas transformações ocorridas, com o passar dos séculos, no olhar e na compreensão que se tem a cerca da infância. Sua pesquisa com base em pinturas, antigos diários de família, igrejas, túmulos etc. mostra que, na sociedade medieval, o alto índice de mortalidade infantil era considerado “normal”, e a criança que conseguia sobreviver era imediatamente inserida no mundo adulto. Com isso, não havia uma consciência da particularidade infantil, a qual diferencia a criança do adulto, assim como não se fazia presente uma distinção das brincadeiras e dos jogos reservados às crianças e aos adultos.

        Com as descobertas científicas e a redução da mortalidade infantil, surgem dois sentimentos de infância antagônicos até hoje imbricados no comportamento do adulto em relação à criança. O primeiro, surgido no meio familiar, considerava a criança ingênua, inocente e graciosa – brinquedos encantadores que os adultos tinham prazer em oferecer como um mimo (paparicação). O segundo, proveniente dos eclesiásticos ou dos homens da lei preocupados com a disciplina e a racionalidade dos costumes, via as crianças como frágeis criaturas de Deus, com a necessidade de serem preservadas e disciplinadas (moralização). Tanto na ingenuidade como na fragilidade, a criança era vista como um ser sem história, sem voz nem vez. Sob essa ótica, tudo que dela provinha era desvalorizado. As brincadeiras e os jogos, além de serem atividades tanto indiscriminadas para adultos como para crianças, eram considerados passatempos prazerosos em grandes conseqüências.

        Os primeiros estudos sobre desenvolvimento infantil, no século XVIII, vêm lançar novos olhares para essa criança, que ainda não é contextualizada e única, mas, pelo menos, já é diferenciada do adulto e suas especificidades são reconhecidas. Começa, então, a existir a valorização de seus interesses e suas necessidades. Daí em diante, a concepção de criança e o papel da brincadeira no desenvolvimento infantil são estudados sob vários pontos de vista.

        Com Kramer, na tendência romântica que concebe a pré-escola como um jardim de infância e a criança como sementinha – tendo Froebel (1782-1852) como um de seus precursores -, o caráter lúdico das atividades infantis já era valorizado, além de ser fator determinante da aprendizagem. Em Piaget, surge a idéia interacionista de desenvolvimento como resultado da combinação entre o organismo e o meio, e sua interação tem como conseqüência o processo da assimilação e o da acomodação.

Ainda nessa perspectiva, mas ampliando um olhar sobre a criança nos âmbitos social, histórico e cultural, Vygotsky também dedica especial atenção ao ato de brincar:

No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse maior do que é na realidade. Como foco de uma lente de aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.

        

Para Vygotsky, os fatores sociais e culturais interferem no desenvolvimento do sujeito, transformando sua relação com a realidade e sua consciência sobre ela.

Nos dias atuais, define-se criança como alguém que tem, além de especificidades infantis, uma história, uma família, vive em determinado tempo e em um espaço físico e social, produz e é produzida pela cultura, e é cidadã. Ela se constrói nas relações com os outros e com o mundo. Dessa maneira, o jogo e a brincadeira assumem papel relevante em seu crescimento.

Com esse entendimento, o desenvolvimento da criança não pode ser linear, mas dinâmico, com idas e vindas, em um movimento dialético que confere ao processo uma “cor” muito mais forte que ao produto. A criança não é padrão; seu progresso, então, também não o pode ser.

Dentro de uma perspectiva histórica, as funções da Educação Infantil passaram por diferentes momentos e, hoje, alguns deles ainda subsistem em uma espécie de inconsciente coletivo em algumas instituições. Com um rápido olhar, algumas podem ser identificadas na postura dos professores, nas atividades das crianças, nos objetivos e nas propostas. Segundo Abramovay e Kramer, são elas: guardiã, puramente assistencialista; preparatória, ainda com a idéia de educação compensatória; objetivo em si mesma, sem compromisso com a qualidade; e pedagógica, que toma os conhecimentos da criança como ponto de partida, ampliando-os.

No Brasil, a Lei nº 9.394 – Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional -, promulgada em 20 de dezembro de 1996, ao situar a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica, confere cunho legal ao brincar quando determina como um dos princípios que norteiam o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil o “direito das crianças a brincar, como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil”. Um pouco antes disso, em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já declarava, no Capítulo II, art. 16, brincar, praticar esportes e divertir-se como aspectos que compreendem o direito à liberdade.

CAPÍTULO II

DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

        Piaget, Vygotsky e Wallon elaboraram teorias sobre o desenvolvimento cognitivo das crianças que ora convergem, ora se distanciam, mas que permitem, nessa dialética, a construção de um olhar mais abrangente sobre o papel das brincadeiras no processo.

        Segundo Piaget, o desenvolvimento psíquico é comparável ao orgânico. Assim como o corpo, que vai crescendo e amadurecendo até atingir um nível estável, a vida mental evolui na direção de um equilíbrio final. É, portanto, uma construção contínua em direção a um equilíbrio progressivo. Para ele, inteligência é adaptação, e seu progresso se dá em estágios que têm estruturas próprias e vão se modificando mediante o ajuste a novas situações, por meio de dois movimentos: assimilação e acomodação. A assimilação corresponde à integração, pelas ações, dos elementos externos ao ser vivo e à acomodação às modificações internas que tornam isso possível. Sendo assim, tudo começa pela ação, e a organização é adquirida pelas atividades. Nas palavras do autor:

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