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FILME: GAROTO INTERROMPIDO (Tema: Transtorno Afetivo Bipolar)

Por:   •  15/11/2019  •  Ensaio  •  3.255 Palavras (14 Páginas)  •  1.236 Visualizações

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FILME: GAROTO INTERROMPIDO (Tema: Transtorno Afetivo Bipolar)

Garoto interrompido é um documentário enormemente sensível, hiperdelicado, narra a história da vida e morte de Evan Scott Perry, que na noite de 2 de outubro de 2005 se suicidou pulando da janela do seu quarto, deixando seus familiares e amigos em um luto cheio de frustrações, dores e saudades. O documentário foi elaborado com um vasto acervo da vida pessoal do personagem, elaborado por seus pais, Dana Pery (diretora do documentário) e Hurt Perry que também trabalha na indústria de filmes, com grande tato e coragem para relatar a morte de um filho em uma circunstancia com tanto tabu e dor. Apresenta a luta de Evan contra o Transtorno Afetivo Bipolar – TAB (antigamente definido por Psicose Maniaco-Depressiva), o relato de seus familiares, amigos e pessoas de seu convívio em relação ao comportamento de Evan, e tem como objetivo também a conscientização sobre a doença mental e o suicídio entre crianças, não reconhecido até poucos anos atrás.

Encontrar forças para continuar, como explicitado pela mãe, é a única alternativa que lhe sobra, entender o inexplicável ato e dividir com os outros tudo isto é um grande exercício de sentimento e coragem.

Os relatos de pessoas no documentário, tem uma explicação plausível relacionada ao comportamento e sintomas de uma criança com transtorno bipolar:

1 - Dana Perry a mãe de Evan, declara que o dia em que Evan nasceu foi o dia mais feliz da sua vida, significa que Evan foi desejado e que tinha um relacionamento saudavel com o bebe na gravidez. O pai, apesar de viajar muito a trabalho, era muito presente também, o que significa que Evan teria uma boa mentalização e padrão de apego seguro, porque os pais formaram com sucesso um vinculo seguro com Evan.

Dana não entende o que poderia ter acontecido para deixar seu filho tão infeliz a ponto de não querer mais existir, nunca saberá o que Evan pensava quando se matou e acredita que talvez ele tenha percebido que seu problema mental era tão forte que ele não poderia vencer. 

O documentário mostra cenas de Evan aos 4 anos de idade e a mãe relatando que parecia haver dois Evans: um com ataque de fúria, um lado escuro, assustador, uma alma muito sombria, impossível de fazer contato com ele, e o outro lado era uma menino vibrante,doce, sensível, cheio de vida...era muito carinhoso com o Michael (irmão caçula). Esse relato de Dana mostra que o TAB de Evan, de acordo com a literatura, inclui períodos de intensa euforia e excitação alternados com período de depressão. 

No jardim da infância, começaram as obsessões de Evan sobre morte e suicídio de forma muito casual e aos 7 anos verbalizava que queria se matar, dizendo exatamente o que faria: pular pela janela, pularia de um prédio, ou se cortaria e nessa ocasião, ele falou em se enforcar. Uma vez, cansada de explicar a todos o que ouvia em casa, o fotografou “tentando” o suicídio, porque queria provar o que acontecia. Na fase depressiva, o paciente normalmente pensa em morte e suicídio, então o risco de tentativas de suicídio é grande.

Evan tinha comportamento de adolescente desde muito pequeno e seu humor, corpo, rosto (sem expressão), voz, postura e comunicação mudavam constantemente.

Em 1997, em psicoterapia, acompanhamento psiquiátrico, diagnosticado com depressão e medicado com o antidepressivo Prozac (fluoxetina), tentou o suicídio na escola, e três semanas depois, novamente no telhado da escola. Foi levado para o Pronto Socorro e posteriormente internado em um clínica Four Winds. Acreditava que estar morto era bom porque “todo mundo se reúne e fala bem de você”.

Na clínica, iniciou o tratamento o medicamento Lítio, que age no Sistema Nervoso Central, com ação estabilizadora do humor, reagiu muito bem, mas a escola não o aceitou de volta. Relata que Evan era um adolescente de 15 anos bonito, com amigos, popular entre as meninas, mas não muito interessado nelas. Falou que não queria mais usar o litio poque ficava com a boca seca, cansado, ele não queria mais e o médico psiquiatra diminuiu a dose ao longo de 6 semanas. Ele Ficou deprimido, mal humorado, as aulas começaram e ficou ansioso com as lições e pediu para que a mãe cuidasse dele, marcou uma consulta na proxima semana, para aumentar a dose de litio, mas “não deu tempo”.

Na noite do suicídio, discutiram na hora do jantar sobre as lições da escola, na presença do pai e dos irmãos, ele subiu para o quarto, foi para o computador como se fosse fazer lições/estudar, redigiu uma carta e se matou.

“Não existe opção. Não existe. E tenho uma família. Tenho pessoas que amo e que me amam e a única opção é viver um dia pós o outro. E... o que não me sai da cabeça é que não consigo acreditar. Eu não acredito. Não acredito que estou aqui, não acredito, que dei à luz esse menino, que o criei, e o enterrei. Eu não acredito. É uma sensação de descrença. Não sei se um dia, vou achar que aconteceu mesmo. Não acredito que aconteceu. Diga-me que é um sonho. Não acredito. E não acredito que os dias continuem a passar e que o mundo continue a girar sem ele”.

Depois do seu enterro, foi plantada uma árvore como homenagem a Evan e quatorze meses depois da morte de Evan, os pais, que tem uma fazenda e uma serraria, ofereceram como forma de agradecimento a Wellspring, vigas para o celeiro deles, uma delas com o nome de Evan gravado. 

2 - Beatrice Perry, avó paterna, mãe do tio de Evan que tinha o mesmo transtorno e que também se matou, diz: “uma coisa que se faz ou eu faço, pelo menos sem perceber... é evitar coisas que são realmente muito dolorosas de lembrar, e apenas bloqueá-las”. Outra frase: “Eu não gosto de pensar que não percebi o que acontecia, mas acho que não mesmo, porque eu não aceitava o fato de que algo tão assustador, poderia acontecer, principalmente porque Scott não parecia infeliz”. “Isso mostra que existe muito mais a saber sobre as pessoas que você a ama do que você é capaz de descobrir”.

Beatrice apresenta também a negação, ao ser questionada:

- O que houve no dia em que Scott Morreu?

- Eu não sei. Eu não tenho a mínima idéia. Não faço idéia.

- Mas você o encontrou?

- O que?

- Você...

- Eu o encontrei? Eu não me lembro disso. Mais uma vez, acho que prefiro não me lembrar. Não me lembro mesmo. Não sei dizer. Não sei dizer. Não há palavras para dizer a outra pessoa... quanto uma parte de você foi destruida. Não há mesmo. Não sei dizer. Mas posso dizer que você nunca se recupera disso. A verdade é que a vida continua, mas não como você queria, não como você tinha planejado. Mas você não se recupera. Acho que não.

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