O Revisitando o Construtivismo
Por: Marcela Campos • 29/4/2017 • Seminário • 1.605 Palavras (7 Páginas) • 244 Visualizações
Revisitando o Construtivismo
O construtivismo começou ser introduzido no Brasil na década de 1970, como reação ao ensino tradicional baseado na hierarquia, autoridade e habilidade do indivíduo de apenas receber e decorar. Tinha a intenção de tornar o ensino mais lúdico, mais atraente e mais adequado à realidade da criança. Este método acabou servindo de base para as Leis de Diretrizes e Bases da Educação. Estudos, porém, demonstram que se trata de uma teoria totalmente defasada, que tem contribuído para o fim da educação, declínio nos índices de aprendizagem e desvalorização dos professores, tirando deles o papel de educador, transformando-os em meros tutores, sem nenhuma ou pouca autoridade sobre seus conteúdos e métodos de aprendizagem. Que ainda hoje sirva de base para a LDB de 1996 é algo que precisa ser revisto com urgência.
A educação brasileira tem convivido com o Construtivismo piagetiano desde a década de 1970, momento em que sua disseminação começou a intensificar-se entre nós. E, pela segunda vez, esta tem sido a principal abordagem teórica eleita para fundamentar as diretrizes e medidas oficiais na área educacional.
De fato, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que começou a vigorar em 1971 (LDB 5692/71) em grande parte assentava-se na teoria piagetiana dos estádios de desenvolvimento intelectual, ao propor como categorias curriculares Atividades, Áreas de Estudos e Disciplinas, destinadas, respectivamente, às séries iniciais, às séries intermediárias e às séries finais do antigo 1o grau juntamente com o colegial [...]. (Chakur, 2015, p. 9)
Neurocientistas, neuropsicopedagogos, matemáticos, fonoaudiólogos, psicólogos, entre outros pesquisadores de várias partes do mundo, têm se posicionado criticamente contra o construtivismo, apresentando dados que comprovam o retrocesso que ele representou para a educação. Tanto que vários países, como a França, aboliram essa teoria das suas políticas educacionais. Se verificarmos os dez países que ficaram em primeiro lugar na classificação do PISA, notaremos que nenhum deles segue o método construtivista. Já o Brasil, desde 2000, só vem caindo na avaliação, o que indica o crescente número de analfabetos funcionais no país. Esses que chegam às universidades sem saber sequer interpretar textos ou mesmo separar sílabas.
Em entrevista ao jornal O GLOBO, em 2014, José Morais, professor emérito da Universidade Livre de Bruxelas, que estuda a psicologia cognitiva associada à educação, critica o construtivismo:
O método de alfabetização proposto pelo Ministério da Educação do Brasil hoje se enquadra em qual teoria? Como o senhor avalia a alfabetização brasileira?
Infelizmente, baseia-se na crença construtivista — chamo de crença porque contraria o conhecimento científico atual. No Pisa (programa internacional de avaliação de estudantes, na sigla em inglês), não houve variação significativa entre a primeira versão, de 2000, e a última, de 2012. O Brasil está muito abaixo da média dos países e quase 80 pontos abaixo de Portugal, que tem a mesma língua, o mesmo código ortográfico, e as diferenças de dialeto deveriam até ser mais favoráveis à alfabetização no Brasil. Só 1 em mil adolescentes brasileiros lê no nível mais alto de desempenho estabelecido pelo Pisa. A taxa de analfabetismo continua demasiado alta e, sobretudo, quase metade da população não lê de maneira competente. O Ministério da Educação não pode continuar a manter uma proposta de alfabetização que não alfabetiza.
Stanislas Dehaene, neurocientista francês, professor do Collège de France e diretor da Unidade de Neuroimagem Cognitiva do INSERM, em entrevista à Época no ano de 2012, condena o construtivismo como método de alfabetização e diz como os estudos com cérebro podem ajudar disléxicos a ler:
ÉPOCA – No Brasil, o construtivismo, que segue as premissas do método global para a alfabetização, é amplamente disseminado. Por que os sistemas que seguem o método global são ineficazes?
Dehaene – Verificamos em pesquisa com pessoas de diferentes idiomas que o aprendizado da linguagem se dá a partir da identificação da letra e do som correspondente. No português, a criança aprende primeiro a combinação de consoantes e vogais. A próxima etapa é entender a combinação entre duas consoantes e uma vogal, como o “vra” de palavra. Essa composição de formas, do menor para o maior, é feita no lado esquerdo do cérebro. Quando se usam metodologias para a alfabetização que seguem o método global, no qual a criança primeiro aprende o sentido da palavra, sem necessariamente conhecer os símbolos, o lado direito é ativado. Mas a decodificação dos símbolos terá de chegar ao lado esquerdo para que a leitura seja concluída. É um processo mais demorado, que segue na via contrária ao funcionamento do cérebro. Num certo sentido, podemos dizer que esse método ensina o lado errado primeiro. As crianças que aprendem a ler processando primeiro o lado esquerdo do cérebro estabelecem relações imediatas entre letras e seus sons, leem com mais facilidade e entendem mais rapidamente o significado do que estão lendo. Crianças com dislexia que começam a treinar o lado esquerdo do cérebro têm muito mais chances de superar a dificuldade no aprendizado da leitura.
Em relação à alfabetização, o sistema fônico (o popular “beabá”) é infinitamente melhor, com eficácia comprovada por 20 anos de pesquisas.
Nuno Crato, matemático, ex-ministro da Educação de Portugal, foi também um dos responsáveis pelo desmanche do sistema construtivista no país e estruturou a educação com métodos lastreados na neurociência, com avaliações, meritocracia e uma escola mais flexível, conseguindo com que Portugal subisse na classificação PISA.
Minha crítica bate de frente com uma linha muito celebrada nas escolas de hoje. É uma corrente que dá ênfase excessiva às atitudes e à formação cívica do aluno e deixa em segundo plano o conhecimento propriamente dito. Pergunto: como investir em formação cívica se o estudante não consegue nem ler o jornal? Vejo vários educadores por aí se perdendo em uma linguagem hermética, dúbia e demagógica — que é o mais puro “eduquês" — para falar sobre seus objetivos difusos para a sala de aula. Essa turma não só resgata como radicaliza teorias do passado para combater práticas na educação que já tiveram sua eficiência amplamente atestada pela ciência. Alguns me acusam de ser insensível ao dizer tais coisas, mas sou um entusiasta do saber científico e desprezá-lo, a meu ver, só prejudica o ensino. [...] Muitos batem na tecla de que prova faz mal. Acham que ela submete o aluno a um alto grau de stress, sem necessidade. Vão aí na contramão do que afirmam os grandes pesquisadores. Eles já sabem que, ao ser questionada e posta a refletir sobre um conteúdo, a criança consegue absorvê-lo melhor, avançando no conhecimento. Também a disciplina é um ponto em que a condescendência e a leitura enviesada de velhas teorias ofuscam a razão. Esse grupo de educadores admite que o aluno pode ser no máximo incentivado a respeitar a ordem na sala de aula, mas nunca, sob nenhuma hipótese, ele deve ser forçado a fazer isso. Nesse caso, não é preciso de muita ciência para saber que o resultado final será muita bagunça e pouco aprendizado. (Nuno Crato em entrevista à Revista Veja)
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