A ANÁLISE DO FILME “ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA” A PARTIR DA CLÍNICA HUMANISTA DE ROGERS
Por: thaiimelo • 3/12/2022 • Trabalho acadêmico • 1.128 Palavras (5 Páginas) • 155 Visualizações
ANÁLISE DO FILME “ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA” A PARTIR DA CLÍNICA HUMANISTA DE ROGERS
O filme “Ensaio sobre a cegueira” conta a história de um surto de cegueira não convencional que atingiu uma cidade. Deduziu-se que não era convencional por ser uma cegueira clara, e não escura como a população tinha conhecimento. No entanto, assim que o governo toma conhecimento que do que está acontecendo e descobre que possivelmente é algo contagioso, pelo medo da contaminação eles adotam a medida de isolar os cegos em um manicômio, onde não há suporte para os mesmos. Contudo, há entre eles uma mulher que não perdeu a visão. Essa mulher foi fundamental na vida desses cegos, uma vez que, com plena visão do que ocorria, ela os ajudou na organização, deu-lhes força e apoio e caminhou ao lado deles no difícil e longo processo de libertação e recuperação da visão.
A partir dos estudos de Martin Buber, é possível perceber que a cegueira resultou em uma massificação do coletivismo, tendo em vista que foi um fenômeno que atingiu grande parte da população, retirando-as suas características próprias, desde que a submeteram a viver em condições insalubres e totalmente marginalizadas socialmente, isolando-as em um antigo hospício desativado, com condições sanitárias precárias e alimentos com quantidades reduzidas frente ao número de pessoas que ali estavam, tolhendo-as de todos os seus direitos enquanto humanos. Buber menciona, também, que o relacionamento “Eu-isso” é marcado pela frieza, pelo cálculo , logo seria uma relação enviesada pela racionalidade e pouco contato autêntico, sendo assim, é possível perceber essa atitude dentro do ambiente em que eles passam a viver, principalmente diante das atitudes da esposa do médico, que por conseguir enxergar tudo que está acontecendo (inclusive a traição do próprio marido), mesmo assim, mantém-se fria e calculista para conseguir manter a ordem no local. Percebe-se que ela pode ter utilizado a frieza como fuga, tendo em vista que por ser única a enxergar as coisas e ter total consciência de tudo que estava vivendo, se a mesma se permitisse sentir, poderia possivelmente desencadear vários problemas, como depressão e crises de ansiedade. Entretanto Martin Buber também fala sobre o Eu-Tu que acontece a partir de 3 esferas, a vida com a natureza que seria a funcionalidade na experiência vivida obrigatoriamente com o diálogo, uma relação que não precisa necessariamente ser medida por palavras, o segundo seria a vida com os outros e o terceiro a vida com Deus.
De acordo com a visão de Jean-Paul Sartre, o objeto de angústia do ser humano dar-se por três motivos: por ele se ver como um ser finito, por perceber-se abandonado em um mundo material e por ser incondicionalmente livre e, assim, responsável por seus atos. Diante do exposto, é possível enxergar certa agonia por parte das pessoas afetadas pela cegueira a partir do momento em que se veem impossibilitados de exercerem plenamente os seus direitos de liberdade e gozarem de seu conforto, sendo inseridos em um lugar de esquecimento quase que total por parte da sociedade e do governo. É possível compreender esse ponto a partir do momento em que negam atendimento médico a um homem que está ferido e com provável risco de infecção, o que futuramente acontece e esse homem vem a óbito por falta de tratamento. Outro ponto em que fica claro esse esquecimento é quando param de mandar a quantidade certa de refeição para as pessoas e é oferecida a possibilidade de ter um representante em cada ala, até que um homem se auto-intitula rei e começa a apreender o pouco de alimento que tem sido dado aos que ali estão. Esse “rei” começa a exigir absurdos em troca das refeições, como pedir que fossem doados objetos de valor e as mulheres de cada ala para serem usadas como objeto sexual.
Assim, se para Sartre, a liberdade é o que move o Ser Humano, sendo esse Ser feito e plenamente responsável por suas escolhas, a partir do momento em que se viram sem o direito à liberdade, aqueles que ali estavam pareciam ter se acomodado e passaram a se submeter a um regime imposto por uma pessoa sádica, que por mais que a moeda de troca fosse em relação a alimentação dos mesmos, estes cederam aos absurdos exigidos por ele. Apenas a partir do que pôde ser percebido como um “grito de socorro'' (momento em que ela mata o que se auto-intitulava rei) da única pessoa que enxergava no ambiente, foi que todos decidiram enfrentar o poder, arriscando a possibilidade de serem mortos.
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