A Adolescência e a Identificação
Por: lacasaguiarpsi • 16/8/2019 • Trabalho acadêmico • 1.473 Palavras (6 Páginas) • 277 Visualizações
Adolescência e a identificação
“Há em cada adolescente um mundo encoberto, um almirante e um sol de outubro” (Dom casmurro, Assis, machado de, 1985)
É inevitável a influência dos fatores sócio-histórico-culturais no comportamento e nas características do adolescente, mas “existe um embasamento psico-biológico que lhe dá características universais”(Aberastury e Knobel,1992, p. 25) como por exemplo o redespertar da sexualidade, além disso a adolescência se apresenta como um período de conflitos na vida da maioria dos indivíduos, até mesmo através do senso-comum podemos ver essa fase como sinônimo de rebeldia e um desejo de caminhar contra todo o embasamento cultural a qual foi criado até então, podemos vê-la como uma turbulência, como um adoecimento, uma semi-patologia que irá decorrer dos processos de luto e identificação ao qual todos passamos, essa semi-patologia acompanhada de micro-depressões são justamente os meios de defesa para evitar o estabelecimento de um estado mais grave, por isso, segundo Anna Freud apud Aberastury e Knobel (1992, p. 27) , a anormalidade nessa fase é saudável, e é causada pelos lutos da fase infantil, do desejo e necessidade de saber quem é e que papel ocupa, da necessidade de ter uma identidade própria e livre.
A formação da identidade é a fase mais importante da adolescência, é o passo crucial para construção de um adulto produtivo e maduro, criar uma identidade “implica em definir quem a pessoa é, quais são seus valores e quais as direções que deseja seguir pela vida” (Erikson apud Ferreira, Farias, e Silvares, 2003, p. 107)
A identidade é uma concepção de si, composta de crenças, valores e metas, com as quais o indivíduo está comprometido e esse sentimento de identidade dá-se de duas maneiras; a primeira é perceber-se de determinado modo no sentido de ser, e de espaço, e a segunda maneira é perceber que os outros reconhecem isso. Ferreira, Farias, e Silvares, (2003, p. 108)
Identificação- Em primeiro lugar, identificação é a forma original de ligação emocional com um objeto, em segundo lugar, de maneira regressiva, se torna o substituto para uma ligação objetal libidinosa, através da introjecção do objeto no ego; e, em terceiro pode se manifestar com qualquer nova percepção de uma qualidade comum, partilhada com alguma outra pessoa, que não é objeto do instinto sexual (dicionário de termos de psicanálise de Freud, 1975, p. 95)
Desde o nascimento o indivíduo tem a necessidade de buscar identificações, na maioria das vezes essa vem dos pais, mas é na adolescência que ele tem a necessidade do distanciamento dos genitores, uma vez que sua a identidade teve como base as relações objeto parentais, ele busca se afastar para estabelecer-se como um ser individual. Com os pais já incorporados à sua personalidade “a criança entra na adolescência com dificuldades, conflitos e incertezas que se magnificam nesse momento vital, para sair em seguida à maturidade estabilizada com determinado caráter e personalidade adultos” (Aberastury e Knobel,1992, p. 30) Com essa citação é fácil imaginar a turbulência que o adolescente passa, ao mesmo tempo em que está fazendo o luto pelo corpo infantil, pelas responsabilidades infantis ele sente-se na obrigação de estabelecer uma identidade adulta, escolher uma profissão que irá acompanhá-lo para o resto da vida, as bases de seu caráter, o quê, e como vai ser, todas as tomadas de decisões aparentam ter o peso de uma escolha eterna, por isso não raro encontramos adolescentes que mudam de estilos constantemente, e até adotam diferentes estilos simultaneamente, como por exemplo a prática crescente de musculação, propagandas e “figuras exemplos” são internalizadas, músicas e vídeos são inspirações para um estilo de vida baseado em conseguir corpos cada vez maiores no menor tempo possível, ao mesmo tempo em que o indivíduo pode adotar identificações como de roqueiro,cantor sertanejo ou hippie, nesses exemplos podemos notar por um lado a mudança de estilo como forma de eliminar o peso das decisões eternas- necessidade de estabelecer uma personalidade para seguir o resto da vida- e por outro lado podemos notar uma incorporação completamente oposta às do núcleo familiar, nessa necessidade de estabelecer uma identidade adulta eles reproduzem, imitam ou estabelecem conluios conscientes e inconscientes, como forma de contestação e de auto-afirmação. Levisky (1995, p.3)
A identidade é um conceito interno de estabelecer-se e do “saber quem sou” e nessa busca por identidade o indivíduo irá buscar a mais favorável, o adolescente incorpora elementos da personalidade do grupo a quem pertence, isso gera uniformidade uma identificação coletiva, pois traz segurança e aceitação, nesse desejo processo de criação de identidade e a busca da separação da identificação com os pais, como forma de ser individual, o adolescente terá que se auto-afirmar e isso “ é um componente necessário e desejável dentro do processo de desenvolvimento da identidade do adolescente. Ele se faz presente através da rebeldia, da revolta, de manifestações agressivas mitigadas e mais ou menos toleradas pelo restante da sociedade (idem 1995, p.6) e independente da cultura ou da época em que se encontra o adolescência irá ter características universais, e essa é uma delas, a auto-afirmação se faz presente através da rebeldia, da revolta e manifestações agressivas, um exemplo claro dessa atitude na contemporaneidade poderia ser a discussão com pais, uso de álcool como elemento provocatório ou atitudes introvertidas como forma de protesto, já em uma sociedade e época mais conservadora, como a colonial, onde essas atitudes seriam inadmissíveis o adolescente encontraria outro modo
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