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A Analise 50 Tons de Cinza

Por:   •  1/9/2020  •  Artigo  •  815 Palavras (4 Páginas)  •  428 Visualizações

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Já dizia Freud (1905) em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” que as pessoas ditas “normais” não estão tão distantes dos considerados perversos. A verdade é que o filme “Cinquenta Tons de Cinza” aborda questões que, embora não muito comuns, parecem angariar admiradores, sobretudo mulheres, no mundo todo. Seria perverso o comportamento de Christian, personagem principal da obra?

Da conceituação do termo “perversão”

Ao longo da história, dentro da própria psicanalise, o termo “perversão” sofreu inúmeras modificações quanto ao seu conceito. Freud (1905) identificou como perversão, em linhas gerais, tudo aquilo que de diferia do coito fálico-vaginal para a obtenção de prazer. Nessa linha, apresentou ao perverso uma estrutura psíquica própria, uma forma particular de se relacionar com o mundo e obter prazer.

Falar em perversão no viés psicanalítico, vale lembrar, não possui relação com o uso coloquial da palavra “perversidade”. Conhecemos esta palavra comumente sendo designada a um tipo de comportamento imoral e/ou ilegal, o que não necessariamente diz respeito a condições psíquicas. Dessa forma, a perversão aqui analisada é aquela conceituada dentre a clínica psicanalítica, cuja caracterização organiza a personalidade do indivíduo no que diz respeito à obtenção de prazer.

Na psicanálise, o perverso possui um desejo sexual que foge à “normalidade” e o realiza sem sentimento de culpa (aqui, principalmente, distingue-se o perverso do neurótico, na medida em que este reprime/ recalca seus desejos angustiantes). Normalmente, o perverso destina seu prazer em um objeto ou parte do corpo não genital.

Do ponto de vista clínico, a perversão é subdividida em três estruturas com base na forma de relação do perverso para com o outro e a, principalmente, a forma de obtenção do prazer: o fetichismo, o sadismo e o masoquismo.

O Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-IV™), publicado pela Associação Psiquiátrica Americana, determina tais perversões como parafilia, caracterizada “por anseios, fantasias ou comportamentos sexuais recorrentes e intensos que envolvem objetos, atividades ou situações incomuns e causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo”. Em destaque ao final do trecho transcrito, é preciso atenta-se que para um diagnóstico de parafilia deve haver sofrimento do autor pela sua condição ou comprometimento do curso normal de sua vida não-sexual. Desse modo, as práticas que se restringem ao relacionamento sexual não trazendo sofrimento e não prejudicando outros setores da vida, não ensejam tal diagnóstico.

Sobre o filme “Cinquenta Tons de Cinza”

No filme ora estudado, Christian, personagem principal, possui posturas sexuais que trouxeram grandes discussões, sobretudo no mundo psicanalítico. Em uma rápida e leiga observação, as condutas de Christian obtendo satisfação sexual baseado na tortura das mulheres com as quais se relaciona sexualmente, parecem descrever um quadro sadista.

No sadismo, a satisfação sexual é alcançada por meio do sofrimento (psicológico ou físico) do parceiro. Trata-se de prazer pela dominação e imposição de sofrimento. Nesse caso, o consentimento da vítima, embora possa interferir em considerações criminais sobre os atos, não é analisado do ponto de vista psicanalítico, visto que as duas formas de dominação (com ou sem consentimento) podem caracterizar o sadismo.

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