A Arte Do Aconselhamento Psicológico
Artigo: A Arte Do Aconselhamento Psicológico. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: robquelgu • 24/8/2014 • 1.452 Palavras (6 Páginas) • 530 Visualizações
Com uma escrita clara e objetiva, Rollo May, famoso psicanalista e desenvolvedor da chamada “Psicologia Existencial”, introduz suas experiências como terapeuta e conselheiro neste livro repleto de ensinamentos àqueles que pretendem se lançar no que ele com muita razão denomina de arte do aconselhamento psicológico. Em suma o aconselhamento vai derivar da própria capacidade do aconselhador em compreender seu aconselhando. Parece uma tarefa fácil, porém, com o caminhar de seu livro, que pode ser considerado um “manual da Psicologia Existencialista” existem diversos cuidados a se tomar.
Na primeira parte, que May denomina princípios fundamentais, é feita uma concisa descrição da personalidade. O autor descreve sua visão da personalidade entendendo-a como dinâmica, criativa e sempre contínua em desenvolvimento e desta forma possuindo diversas facetas. Contudo, o autor lembra que os aspectos elencados são separados somente por uma questão puramente didática, pois na realidade todas as dimensões da personalidade se interagem e se complementam num todo de forma que não se pode dizer onde uma característica começa e onde outra termina. Um indivíduo saudável é na verdade alguém integrado tanto socialmente quanto consciente espiritualmente, pois para o autor, o objetivo final desta arte é justamente a busca de uma adequada funcionalidade da mente do paciente (1982).
A liberdade é o primeiro princípio abordado. Sendo este um conceito bastante amplo, o autor coloca a liberdade totalmente entrelaçado a questão da responsabilidade. Um bom exemplo é do indivíduo neurótico. Este pode ser entendido como alguém desprovido de liberdade, independente dele aceitar ou não esta sentença. Nestes casos, uma das funções principais do aconselhador desenvolver a capacidade de encaminhar junto com o sujeito rumo à aceitação de sua parcela de responsabilidade sobre seu presente e, consequentemente, sobre seu próprio futuro, já que as pessoas neuróticas são frequentemente aquelas que tendem a possuir uma personalidade determinista da vida. Segundo o autor, “a saúde mental significa uma restauração do senso de responsabilidade pessoal e, logo, uma restauração da liberdade”(MAY, 1982, 19).
No segundo capítulo “a procura de si-mesmo”, May segue seu raciocínio elencando outro grande motivo de buscas ao aconselhamento: a dificuldade de se aceitar a si próprio, ou o que o autor chama de dificuldade de individualizar-se. Pessoas neuróticas sofrem de uma crise em suas funções mentais, de tal forma que não conseguem uma individuação satisfatória. Da mesma forma, a busca por um melhor ajustamento, constitui um importante passo no processo de sua saúde mental. Assim, um dos fins do aconselhamento é fazer com o que a pessoa aceite suas limitações, suas fraquezas e suas derrotas, o que também a levará a uma maior responsabilidade pelo seu próprio futuro. São diversas as razões da pessoa não encontrar a si própria, porém, o que importa é o papel do aconselhador no desemaranhar desta confusão. Este objetivo será alcançado quando o aconselhando conseguir aceitar e integrar as diversas facetas de sua personalidade. Destarte, “é função do aconselhador auxiliar o aconselhando a achar o seu si-mesmo verdadeiro e então ajudá-lo a ter a coragem de ser esse si-mesmo” (MAY, 1982, p. 29).
May (1982, p. 29) apud Adler (p. 31), nos informa que “[...] um ajustamento social significativo é básico para a personalidade, pois é necessário que a pessoa se mova dentro de um mundo constituído de outras pessoas” (p.30). Desta forma, outra importante questão diz respeito à capacidade de integração social. Devido às dificuldades que muitas pessoas possuem em se integrar socialmente, a personalidade precisa ser trabalhada dentro de seu contexto social. Este aspecto é fundamental, pois todo ser humano, definido como biopsicossocial, tem seu universo obrigatoriamente ecológico, ou seja, um sistema constituído de outros subsistemas, onde todos se inter-relacionam: “[...] o neurótico se caracteriza especialmente pela incapacidade que tem de relacionar-se com as outras pessoas e o mundo social” (MAY, 1982 apud ADLER, p. 31). Desta forma, outra função do aconselhador é auxiliar o aconselhando a aceitar sua responsabilidade social, auxiliando-o a livrar-se de seu sentimento de inferioridade e ajudá-lo a dirigir seus esforços para fins socialmente construtivos.
A quarta dimensão da personalidade a ser trabalhada dentro do aconselhamento é a tensão espiritual. Calcada nas noções existenciais, esta é definida pelo autor como a incapacidade que as pessoas têm de viver o mundo natural em conjunto ao mundo espiritual. Qualquer extremo destes, por exemplo, o ateísmo ou o fanatismo, pode ser dito como uma espécie de “fuga da realidade”, e desta forma, é identificado como indesejável, pois ficará uma lacuna na personalidade do indivíduo. Como as tensões e os conflitos existenciais sempre existirão, May afirma que o desejado é a capacidade de transformação dos conflitos destrutivos em produtos construtivos. Aliado concomitantemente ao problema da tensão espiritual se encontra o sentimento de culpa, que permeia a personalidade de muitos sujeitos neuróticos. May define a culpa como “a percepção da diferença entre o que uma coisa é e o que esta coisa devia ser” (1982, p. 38). Para o autor, este sentimento não é por si só ruim, pois é algo inerente ao homem, a não resolução e, consequentemente o enrijecimento deste é que é o verdadeiro problema. O sentimento de culpa é algo inevitável na personalidade, pelo fato do mesmo estar inseparavelmente ligado à liberdade, autonomia e responsabilidade moral (MAY, 1982). Assim sendo, outro papel do aconselhador é “auxiliar o aconselhando
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