A Atualidade de Foucault e das sufragistas
Por: victorvmp • 11/6/2018 • Resenha • 756 Palavras (4 Páginas) • 262 Visualizações
Foucault e “as sufragistas” se atualizam na prática contemporânea
Para que se possa fazer uma articulação eficaz e relevante entre o filme “As sufragistas“ e a obra “As verdades e as formas jurídicas”, é necessário primeiramente, elencar alguns pontos cruciais da visão de Foucault os quais ele expõe de forma muito bem construída e embasada pelos contextos sociais que analisa em sua obra . Esses pontos são: o papel do capitalismo nas mudanças de formas de penalidade; o conceito de vigilância e as práticas extrapenais; a nomenclatura da sociedade contemporânea como “Sociedade disciplinar”, e por fim, como tudo isso se interliga formando o contexto presente em “as Sufragistas”.
Nota-se que o filme ,desde o começo, nos apresenta seu contexto social pós-revolução industrial, ou seja, período em que os ideais capitalistas estavam fortemente presentes como a normatização e padronização de certos comportamentos, propriedades privadas (Como o local em que a personagem principal Maud trabalhava) e as relações de poder entre patrão e empregado.
O que exatamente este contexto tem a ver com o que Foucault escreve em sua obra? Foucault deixa claro que as formas de penalidade, na teoria de Bentham seriam aplicadas a partir de leis bem definidas e universais e somente a partir da quebra dessas leis. Ao contrário disso o individuo não seria punido. É importante, também, salientar que na teoria citada o responsável por garantir as penalidades seria o órgão estatal, porém na prática é diferente. Passa-se a existir um movimento de vigilância social - os próprios indivíduos da sociedade começam a tomar para si a responsabilidade de manter um padrão de comportamento e fazer com que os outros cumpram tal padrão, ou seja, não só era vigiado e penalizado quem cometia um crime, mas quem tinha o potencial para cometê-lo. No filme podemos notar esta prática , claramente , quando as Sufragistas passam a ser fortemente vigiadas e a partir do momento que Maud é presa pela primeira vez. Ela passa a ser vista de forma diferente pela sociedade quando recebe o julgamento de seu patrão, de seu marido e da sociedade em geral, ou quando, por exemplo, é questionada se era uma sufragista ou não. A princípio ela nega imediatamente pelo medo das consequências sociais que este rótulo poderia trazer para ela.
Até aqui, pontua-se a questão dos padrões de comportamentos exigidos que eram mantidos por atividades extrapenais no contexto capitalista. Quanto à questão das propriedades privadas e a relação patrão-empregado, Foucault aponta para outra tendência importante que o capitalismo traz consigo por meio da ideia de propriedades privadas e concentração de capital.
Com o capitalismo vieram novas formas de riquezas e consequentemente novas formas de se protegê-la. Formas estas que ele compara com “Panopticon” por meio das ideias de “Giulius” as quais caracterizam a inversão do espetáculo em vigilância onde poucos vigiam muitos. Claramente no filme, vê-se a semelhança entre a estrutura de “Panopticon” (até mesmo arquitetônica) e o espaço físico (um lugar mais elevado) onde o patrão fica quando ele que ter uma visão ampla de seus empregados.
Em “As Sufragistas” quando Maud é presa diversas vezes cria-se um ponto de convergência com “As verdades e as formas jurídicas” pois na obra é destacado que na teoria penal de Beccaria e Bentham o método de punição que predominou como pouco eficaz era a prisão. O fato de não ser eficaz na teoria se explica pelo entendimento e motivação das penalidades serem diferentes na pratica. Na teoria a punição era aplicada para que o indivíduo que causasse dano à sociedade fosse excluído e reparasse o dano. Já, o que acontece é a tentativa de evitar o dano e suprimir comportamentos que fujam do padrão. No filme o fato das sufragistas serem presas o tempo todo, padronizadas na forma de vestir e uma delas presa em casa pelo próprio marido mostra essa tendência descrita por Foucault. Todas essas características sociais presentes no filme, descritas neste parágrafo e nos anteriores, as quais convergem com a obra escrita, descrevem o que Foucault chama de “Sociedade disciplinar”. Um nome bem sugestivo após a leitura deste texto.
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