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A Cora Coralina: “Sou feita de retalhos”

Por:   •  13/6/2019  •  Resenha  •  655 Palavras (3 Páginas)  •  3.679 Visualizações

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Cora Coralina: “Sou feita de retalhos”

 

Sou feita de retalhos.

Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.

      No pano de fundo da vida, na Roda de Samsara, cruzamos com inúmeros egos, cheios de experiência, que trocam suas vivências conosco, contribuindo com a construção do meu inconsciente pessoal.

Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior… Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade… Que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa.

    Nessa troca constante, vou adquirindo mais aprendizado, mais sensibilidade, mais afeto, vou edificando e corrigindo o meu ego e assim, através de minhas próprias experiências e “vivenciando” as de outros, vou me individuando.

E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados… Haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma.

     E esse trabalho da alma, o da individuação, é o trabalho de uma vida inteira... ao longo do trajeto vou coletando e absorvendo, como pequenos tijolos, as lições faltantes, mesmo sabendo que, ao final desse caminho, não terei absorvido tudo!

Portanto, obrigada a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias.

      Os conscientes, conseguem reconhecer o enorme presente divino da convivência, do encontro, dessa troca tão salutar, mesmo quando as sensações, nem sempre agradáveis ou confortáveis, teimam em se manifestar. Aprendem a reconhecer a lição que precisam tirar.

     Os inconscientes, ainda muito imaturos, postergam para outras vidas, a gloriosa tarefa de reconhecimento do divino em nós, de seu papel de crescimento, de independência da matéria e de amadurecimento. Não percebem o lugar que precisam ocupar no cenário da vida, onde eles também são peças importantes na construção do inconsciente coletivo. Perdem-se no meio de máscaras e egos, muitas vezes acovardados pelo medo de terem o maior e melhor encontro de sua existência: consigo mesmo!

      Mas cada um têm seu tempo e precisamos compreender e respeitar.

E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de “nós”.

     Ainda irá demorar algum tempo para que todos nós possamos acordar de nosso sono egóico. Até lá, precisaremos nos esforçar para que a nossa consciência nos dirija, e nos conduza ao verdadeiro paraíso, onde um dia, todos nós nos encontraremos: o nosso self!

                                                                          Campo Grande, 30 de abril de 2019.

                                                                                            Maria Paula Leite

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