A FUNÇÃO ANALÍTICA E CAPACIDADE NEGATIVA
Por: Camila Guimarães • 20/11/2017 • Resenha • 4.351 Palavras (18 Páginas) • 929 Visualizações
UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ
Camila Guimarães
Gustavo Rocha
Thamyrys Eliedne dos Santos
FUNÇÃO ANALÍTICA E CAPACIDADE NEGATIVA
PROCESSOS PSICOTERÁPICOS: ABORDAGEM PSICANALÍTICA II
Taubaté – SP
2017
Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?
Álvaro de Campos / Fernando Pessoa
Nesse capítulo o autor dá continuidade a reflexão sobre “A identidade do analista: função e fatores”.
Até então foi apontada a importância da identificação e a capacidade do analista de nomear o que está acontecendo, tanto para o analisando quanto para si mesmo e como continuidade diz que agora irá “negar tudo o que foi afirmado antes”. Negar no sentido de explorar, de ir além daquilo que é conhecido. “Dito de outra forma, há muito mais coisas desconhecidas do que a teria psicanalítica nos permite conhecer e nomear”, o que também poderá ser chamado de “Inominável”.
Bion correlaciona a “capacidade negativa” as funções e diz, em sua teoria do pensar, que o pensamento tem tudo a ver com a frustração, dessa forma se pode transcender aos fenômenos, para reconhecer o “Ó”. Utilizando de uma citação de Milton no Paraiso Perdido, define-se “Ó” como “infinito, informe, inominável” ou ainda como o desconhecido. Por mais e melhor que se tente descrever algo, ainda será insatisfatório diante do desconhecido, sendo esse inominável, e tal frustração é um aspecto essencial em nossa paradoxal tentativa de relacionamento com O.
A função negativa é integrante da “função do analista” assim como a função alfa, a rêverie, a compaixão e a nomeação sendo nessa ordem a função negativa a última.
O paradoxo de “Ó” se refere as suas duas faces. Esse pode ser lido tanto como Oh que é infinito, como 0 (zero) e ambas as leituras tem uma face de frustração. Em zero, se zera o conhecimento e no infinito é preciso reconhecer que tal conhecimento é limitado. Assim se apresenta uma dinâmica na qual tudo que é afirmado num primeiro momento depois é negado.
A frustração desse relacionamento com “Ó” pode ser sentida emocionalmente, porém não com os órgãos do sentido, pois a psi lida com uma dimensão muito maior do ser humano, porém o conhecimento a respeito das capacidades da mente humana é limitado, o autor refere a existência de fenômenos como telepatia, mas ainda não se pode explica-los.
É possível ter considerações impressionante a respeito da energia atômica e suas repercussões na energia cerebral, mas ainda pouco se sabe sobre a relação corpo-mente, e menos ainda sobre o relacionamento com “Ó”.
Para Bion “Ó” é um símbolo para se referir a Realidade Última, que por sua vez se refere a experiência em si, sem interpretações, mesmo que não conhecido. “ O que sabemos são os fenômenos, mas por trás deles encontra-se o “Ó” que não é objeto de percepção. “Ó” não é objeto de conhecimento mas de ser”.
Voltando para o tema da negação, o que será negado? Tudo que já é conhecido, mas para que estudar se será negado? Negar o que não é conhecido é negar nada e ao contrario Bion propõe a negação de tudo e para que essa seja verdadeira deve ocorrer após uma afirmação verdadeira. Para que não seja uma negação infantil, é preciso conhecer muito bem o que foi afirmado, pois quem nega sem conhecer não sabe o que está negando. Só é possível enxergar o desconhecido quanto já se sabe tudo que é conhecido.
Bion refere a essa atitude de madura, a chama de sabedoria, e cita a frase “O sábio sabe que não sabe” e quem não é sábio, acha que sabe o que não sabe.
O autor cita Samuel Beckett, que foi analisando de Bion, prémio Nobel de literatura escreveu 130 paginas na tentativa “frustrada” de dizer o que é inominável, “dizer sem dizer nada”.
O texto de Beckett representa uma expressão artístico-Literária, para representar uma expressão filosófica cita Jacques Derrida, pois são autores que reconhecem que a negação vai muito além da afirmação. Derrida propõe o método da desconstrução do discurso, tanto para o consciente como para o inconsciente. Na prática psicanalítica pode se dizer que quando o analisando chega na primeira sessão, ele tem uma construção dele mesmo e que em grande parte da analise será focada na desconstrução de tal construção. Bion vai além dizendo que há uma terceira fase a de reconstrução. É preciso zerar em “direção a Ó”, mas reconstruir “de acordo com Ó”.
Para completar os três modelos epistemológicos, propostos por Bion, para lidar com os objetos psicanalíticos, o modelo cientifico-filosófico com Derrida, o modelo estético-artístico com Beckett e agora o modelo místico religioso com “Mestre Eckhart”, e a teologia negativa. Para Bion esse último modelo é o que melhor consegue exprimir a relação com a Realidade Última, inominável.
A teologia vivencia uma experiência semelhante a experiência do “Ó” para a psicanalise Bioniana em relação a Deus, o primeiro Incognoscível, inominável. A teologia afirmativa faz afirmações em relação a existência de Deus e seus atributos, a teologia negativa nega tais afirmações de forma a perceber que toda a descrição que a inteligência humana consegue elaborar sobre Deus está muito aquém daquilo que Deus realmente é. Eckhart diferencia Deus de Deidade, sendo Deus tudo o que se diz sobre ela, mas não é ela. Assim também pode-se dizer em relação a psicanalise, ela é tudo que se diz sobre a Realidade Última da Mente, mas não é ela.
Por fim o autor cita um poeta, Fernando Pessoa conhecido por seus heterônimos, que escreveu O eu profundo e os outros eus. E diz que o eu profundo continua misterioso e relaciona a frase do poeta Tudo vale a pena se a alma não é pequena, com psicanalise: Vale a pena fazer psicanalise. . . se a alma não é pequena.
Bion propõe os três modelos epistemológicos utilizados em Conferências Brasileiras, colocando-os a disposição da psicanalise em uma correlação extremamente rica.
Muniz se refere as Conferencias Brasileiras como um legado de Bion aos psicanalistas Brasileiros e cita, o seguinte trecho:
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