A INTERVENÇÃO DA INFÂNCIA
Por: Myllena Daylla • 30/10/2019 • Pesquisas Acadêmicas • 1.053 Palavras (5 Páginas) • 163 Visualizações
DESENVOLVIMENTO HUMANO E INVENÇÃO DA INFÂNCIA
Conforma evidenciado no texto, a infância é uma invenção da Modernidade. Desse modo a psicologia toma esse conceito como objeto de estudo, principalmente a psicologia do desenvolvimento. Várias abordagens psicanalistas e cognitivistas, retratam o quão importante é essa etapa estabelecida da vida, não só descrevendo os comportamentos das crianças que seriam tratados como normais, mas por esse motivo, consequentemente influenciando a intervenção e controle desse corpo.
Discutidos os mecanismos de controle da infância, o ambiente escolar é um dos mais importantes nesse processo. “A necessidade de organização do sistema escolar também torna a infância foco de discurso e de cuidados dos especialistas, que buscam revelar a verdade sobre a mesma” (HILLESHEIM; GUARESCHI, 2007, p. 82). Os psicólogos do desenvolvimento vão tratar de revelar a essência e verdade da infância, classificando e controlando essas pessoas com a finalidade de normatizar os seres humanos, a qual vem da preocupação com os tipos de conduta surgidos a partir do século XIX. A psicologia, como ciência, aparece nesse século e dessa forma há a responsabilidade dos especialistas em administrar os ademais comportamentos.
A apoderação da infância pelos psicólogos diz respeito a todo um arcabouço teórico desde o Iluminismo até a Modernidade. O estabelecimento da razão com característica determinante da sanidade, vinda de uma teoria cartesiana, é uma constituinte demasiadamente utilizada por muitos dos psicólogos, como Piaget, um cognitivista, que demonstra a aquisição de capacidades lógico-dedutivas em sua teoria sobre os estágios na infância até que a criança atinja seu potencial do raciocínio, cuja finalidade estaria na enfim experimentação mental, ou seja, utiliza da razão para explicar a “evolução” da criança até esta possuir o raciocínio mental maturado do adulto. Os estudos de Piaget foram empregados não só na psicologia, mas também na pedagogia, o que confirma mais ainda a participação do âmbito escolar na criação de uma determinada forma de sujeito. Outra teoria influente é a teoria de Darwin, essa é bastante evidente no funcionalismo que propõe a adaptação do indivíduo no meio “[...], a consciência como instância adaptadora é vista não somente como adaptada (produto da evolução filogenética), mas inclusive como adaptante (fator de evolução individual e solucionadora dos impasses na vida dos indivíduos) (FERREIRA; GUTMAN, 2013, p. 152).
As teorias psicanalistas, geralmente, tratam da relação pai/mãe com o bebê e o papel do meio (ambiental ou genético) interagindo com este, demonstrando quando há mudanças ou quando não há, alguns vão pontuar todas as etapas, já outros só realizam seus estudos na infância. Os principais objetivos desses teóricos são a descrição, a explicação, a previsão e a modificação do comportamento (Hillesheim; Guareschi, 2007, p.82). O problema com este tipo de normalização é que exclui os outros tipos de modos de vida, como é o caso da Teoria Psicossexual de Sigmund Freud, a criança padrão é utilizada e essa levaria ao adulto são e normal, estabelecendo um processo de homogeneização dos indivíduos. A classe social, os diversos tipificações de gênero, a raça social e dentre outros aspectos estariam excluídos dessa especificação do saber sobre a infância.
Para Sigmund Freud, a sua afirmação mais provocante foi a descoberta da sexualidade infantil. Sendo que a descoberta da importância da infância decorre da existência não só de uma sexualidade infantil, mas de um sujeito sexualmente desejante na infância. “Assim, a psicanálise passa a se conectar com a história do sujeito, de um ser que desde muito cedo escreve suas páginas com seus desejos, proibidos e realizados, admitidos e recalcados” (CORSO, pág. 106). Tudo aquilo que era imune na infância passa a ser ligado a ela, passando a ser compreendida como formadoras, constituintes da infância.
Ao se tornar pai e mãe nenhum conhecimento hereditário vem automaticamente. A paternidade inicia-se inspirada em seus antepassados, mas sempre com dúvidas e até mesmo neurose, formando assim suas próprias convicções. Dessa forma, as teorias utilizadas para compreender o mundo e concebidas pela criança, sejam as hipóteses cognitivas (herdeiras das primeiras), como teorizado por Piaget, sejam elas sexuais, como descoberto por Freud, são o instrumento por excelência do vir a ser da criança. Antes de surgir a teoria freudiana, a origem de determinada doença psíquica era buscada na história genética. Ao retroceder à infância a origem de sintomas, Freud faz da história individual de cada sujeito a responsável pelo seu vir a ser.
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