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A Psicopatologia no Filme Bicho de 7 Cabeças

Por:   •  20/9/2023  •  Resenha  •  1.309 Palavras (6 Páginas)  •  90 Visualizações

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        O filme “Bicho de Sete Cabeças”, dirigido por Lais Bodonzky, foi baseado no livro “O Canto dos Malditos”, história real de Austregésilo Carrano Bueno, com apenas 17 anos na época retratada no longa.

Bicho de Sete Cabeças, traz à tona discussão acerca de “saúde mental” em uma época que não era comum fazê-lo. Esse longa desvela a falta de diálogo e compreensão de pais com seus filhos, expõe ainda, a violência e abusos físicos e psicológicos sofridos por indivíduos portadores de “doença mental” internados em hospitais psiquiátricos. Vem também revelar uma política de construção da loucura e o tratamento de internos com práticas violentas, coercitivas e desumanas, evidenciando a necessidade de rápida transformação nas políticas da saúde mental.

        O filme retrata os anos de 1974, quando Neto - protagonista do longa – um adolescente de 17 anos de idade, e desta forma considerado pela legislação civil da época relativamente incapaz – ou seja, havia a necessidade de ser assistido por seus pais ou seu representante legal nos os atos da vida civil. Aqui, vale ressaltar que o fato de ser assistido diferencia do ser representado. Ser representado é intrínseco aos menores de 16 anos – os absolutamente incapazes – que somente seus representantes podem manifestar sua vontade em juízo, celebrar contratos em seu nome, etc., atendendo aos interesses do representado. O adolescente de 16 a 18 anos, - relativamente capazes - são assistidos: os seus assistentes caminham junto ao assistido, de forma que um não substitui a presença de outro, os atos são praticados em conjunto, só se tornando válidos quando ambos manifestarem sua vontade. No caso de Neto, essa prerrogativa não foi atendida, evidenciando aqui o primeiro vício do processo. Porém, antes disso, encontramos diversos pontos a serem destacados.

Neto, era um típico adolescente, com características comuns de rebeldia, conflito geracional, crise de identidade, entre outras. O filme retrata inicialmente a falta de diálogos e relacionamento assertivo entre o pai – Wilson – e o filho – Neto, não havendo entre eles nenhuma intimidade. Neto não se enquadrava no modelo de vida que seu pai conservador, classificava como padrão, forma de vida ideal e moral, consequentemente, causando vários atritos no relacionamento familiar.

        O pai de Neto, não mostrava empatia, não o apoiava e nem ao menos se esforçava em compreendê-lo, ao invés de julga-lo. Sua mãe era passiva e submissa.  Na psicologia, sabe-se que os adolescentes quando não são forçados a seguir um padrão rígido de “perfeição” estabelecido, quando não são cobrados em excesso, e com eles é mantido um diálogo empático, há uma maior chance de compreensão e obediência por parte dos mesmos.

        No longa, Neto e os seus, representam a típica família tradicional de classe média, onde o adolescente vive entre a escola, os amigos, skate e maconha - o que era comum naquela época -, incomodando dessa forma a instituição familiar. Após ser preso por pichação e o pai encontrar um cigarro de maconha em suas coisas, ele é então levado para as dependências de uma instalação manicomial para ser internado para o tratamento de “dependência química”.

Porém, não houve um aceite de Neto em relação a internação, sua voz não se fez ouvir. Nem ao menos foi examinado por um médico ou psiquiatra, ou informado sobre seu tratamento, ele foi apenas submetido a um internamento involuntário e em conseguinte sofreu torturas e eletrochoques. Não houve para com ele qualquer traço de dignidade. Kant, em sua sapiência disse: “Coisas têm utilidade, seres humanos têm dignidade”. E aqui, essa palavra deve ser entendida como existência enquanto ser humano e todas peculiaridades nela inseridas.  Podemos observar então, que embora o direito a dignidade seja reconhecido no âmbito tanto do Direito Internacional como do Direito Nacional, o que se observa é que esse direito não foi atendido. Desta forma, Neto, sendo ainda que relativamente incapaz e usuário regular ou não de maconha, como ele assim o disse, tinha o direito a ser informado e não poderia ter sido coagido a um tratamento para o qual sequer fora examinado por um profissional, e que não o consentiu. Nesse caso, o filme e a história de vida de Austregésilo, revelam não apenas a violação da integridade física dele, mas principalmente a violação de sua dignidade enquanto pessoa.

Neto sente na pele a realidade vivenciada nessas instituições psiquiátricas, onde os pacientes são tratados com desumanidade, de forma cruel e corrupta. Os familiares, ao tentar encontrar uma solução, uma vez que pensam estarem perdendo o controle sobre o adolescente, acabam por confiar completamente no sistema manicomial, se tornando seus cúmplices, e de suas práticas cruéis de tortura. Neto sofreu violências físicas e psicológicas por parte dos enfermeiros, tomou toneladas de remédios e eletrochoques, resultando em uma robotização do protagonista, que foi transformado em “coisa”, sendo apenas retirado desse ambiente quando já havia demasiadas sequelas psicofísicas.

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