COMENTÁRIO DO FILME: BICHO DE SETE CABEÇAS

COMENTÁRIO DO FILME: BICHO DE SETE CABEÇAS

O filme bicho de sete cabeças relata o drama vivenciado por uma família tradicional de classe média, no qual o filho mais novo (Neto) é tratado pela família como um viciado em drogas, após o pai encontrar um cigarro de maconha na sua roupa, associando ao seu comportamento agressivo e a vida desregrada do adolescente.

A família, preocupada com o olhar da sociedade para o problema, resolve interná-lo forçadamente em uma clínica de psiquiatria na tentativa de esconder os impasses familiares, para que assim a sociedade não julgue seu filho como um viciado, denegrindo a imagem da família perfeita.

Neto é traído pelo pai, quando vão a uma clínica visitar um amigo e lá se dá de cara com enfermeiros forçando-o a ser internado e a tomar medicações. O ato covarde do pai de jogá-lo numa clínica torturante sem dialogar com o filho para saber o que realmente estava acontecendo e quais medidas deveriam tomar para reverter o comportamento do jovem, deixa o filho profundamente magoado.

A clínica mostra a realidade das dos hospitais de internação do século XX, o qual os pacientes são tratados sob condições subumanas, a base de calmantes como um paliativo ao problema, onde em momento algum há o diálogo do paciente com o médico psiquiatra, simplesmente os internos são tidos como loucos e isso basta para que sejam torturados com eletrochoques, humilhação e castigos, caso alguém se revolte com o método utilizado para “corrigir” as falhas impostas pela sociedade.

A equipe de trabalho da clínica usa métodos inadequados para tratar o problema, isto é, se ele existir, pois em momento algum houve uma investigação se Neto era ou não viciado em drogas e se precisava de intervenções medicamentosas. Ao chegar à clínica, ele é tratado de maneira objetiva, analisando somente o problema “droga”, não trabalhando o contexto social e mental do paciente.

Neto não aceita essa maneira arcaica de tratamento e tenta a todo o momento sair daquele ambiente, se comportando agressivamente com a equipe de trabalho que o obriga a tomar os calmantes, não existindo diálogo contínuo para tentar solucionar o problema e saber se ele quer e precisa realmente ser tratado.

Depois de passar por várias torturas, a família resolve tirá-lo da clínica não sabendo que já era um pouco tarde e que nada tinha sido acrescentado a Neto como pessoa física e social em todo esse tempo passado lá, apenas recordações de rancor, mágoas e traumas das torturas e humilhações vividas naquele ambiente hostil.

O problema do paciente do filme deveria ser tratado com o diálogo dos pais, avaliando a perspectiva familiar, o contexto social e moral do indivíduo, a sua conduta no ambiente em que vive e as relações interpessoais construídas. Além disso, poderia ser usado um apoio profissional psicológico para trabalhar de maneira subjetiva e complexa, ou seja, analisar o ser na sua totalidade de vida humana, a sua maneira de pensar e agir.