A Transexualidadena infância
Por: Joales Silva • 24/9/2018 • Resenha • 3.180 Palavras (13 Páginas) • 146 Visualizações
Transexualidade na infância: Uma análise do filme La Vie In Rose
Em pleno século XXI, a temática da sexualidade e suas nuances, continua sendo um tabu. Despertando opiniões diferentes nas pessoas, quando questionados sobre essas questões, que são afetadas diretamente pelas crenças que o individuo carrega em sua bagagem de vida. Se a sexualidade em si, já causa polêmicas no meio social, a transexualidade na infância, carrega uma estigmatização. Considerada por uma parcela da população, como um transtorno mental, algo que forje do natural, imoral aos bons costumes.
O presente trabalho visa analisar as relações da sociedade/família, frente a esse assunto, mas também como a transexualidade se revela na infância. Para isto, optei por utilizar a obra cinematográfica, La Vie In Rose. Traduzida para o português: Minha vida em cor de rosa! Essa que estreou 1997, e foi dirigido Alain Berliner. A abordagem buscar entender, que por mais que o filme seja uma ficção, ele permite uma aproximação de aspectos da vida real, podendo funcionar como uma espécie de recorte da representação de uma determinada sociedade.
Os aspectos que engloba a sexualidade humana, vão muito mais além, de uma noção biológica, tendo em vista que essa é um fenômeno multideterminado, relacionado a outros fatores psicológicos e sociais. A maneira que o sujeito expressa sua sexualidade, em sua singularidade, recebe influência do processo de construção histórica e cultural em que ele encontra-se inserido. Sendo a sexualidade inerente ao ser.
Desde as importantes as postulações de Sigmund Freud, que retira a sexualidade da vinculação estritamente genital, ampliando sua manifestação e sua estruturação individual e social, defendendo a ideia de que as crianças também possuem sexualidade. Admite-se a importância da educação sexual das crianças. A sexualidade, então, não pode ser vista afastada das normas sociais e culturais que lhe atribuem sentido, de modo que ela é conhecida, reproduzida e reformulada pelos discursos sobre a sexualidade, chamados de processo de educação sexual, que segue regras e normas sociais.
A partir do século XVIII, o sexo das crianças e dos adolescentes passou a ser um importante foco do qual se dispuseram inúmeros dispositivos institucionais e estratégias discursivas. É possível que se tenha escamoteado, aos próprios adultos e crianças, uma certa maneira de falar do sexo, desqualificada como sendo direta, crua, grosseira. Mas, isso não passou da contrapartida e, talvez da condição para funcionarem outros discursos, múltiplos, entrecruzados, sutilmente hierarquizados e todos estreitamente articulados em torno de um feixe de relações de poder. (FOUCAULT, 1999, p. 32).
A construção do entendimento de gênero e da identidade sexual, no universo da infância, não se faz diferente. É através da simbolização, da cultura que aos poucos as crianças vão montando sua ideia do que é ser menina e menino. Logo elas estabelecem a relação que devem ter com as categorias de gênero que foram criadas.
Entre as diferentes abordagens sobre a transexualidade, um denominador comum entre elas são: o desacordo entre o sexo biológico e o sexo psicológico na transexualidade. Ou seja, as pessoas que se encontram nessa situação, anseiam viver como alguém do sexo oposto ao do seu nascimento.
Em alguns relatos, ouve-se: Possuo a alma de um sexo diferente do meu corpo. Todavia, apesar da necessidade vista por alguns para mudanças no corpo, as transexuais, como qualquer pessoa, tem suas peculiaridades e subjetividade que deve ser levada em consideração.
Nas ciências sociais, a transexualidade vem sendo entendida por meio das relações dos valores e normas socioculturais, em detrimento a relação da biomedicina. No âmbito da saúde, há variações na significação que dependem do referencial teórico-profissional e vivencial. Na medicina o aspecto principal levado em consideração é o biológico, apresentando como um transtorno que desvia da norma médica. Atuando cirurgicamente, adaptando o corpo ao que o sujeito entende ser, seu verdadeiro eu.
Desde 1993, pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10), as pessoas transexuais apresentam um Transtorno de Identidade Sexual (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1993). Posteriormente, em 1994, com a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM IV, o termo transexualismo, utilizado até então, foi substituído por Transtorno de Identidade de Gênero. Segundo Bento e Pelúcio (2012).
Cohen (1999) esclarece que o Código Internacional de Doenças (CID) é código de etiquetas, dizendo que o que definimos como doença é uma convenção, que pode ser modificada. O CID não deve ser empregado como se estivéssemos diante da verdade absoluta sobre o conceito de doença, como muitos o entendem. O CID apenas nos dá uma definição. Um exemplo claro disso, era a homossexualidade vista como doença. “Frente às pressões sociais das minorias, esse conceito foi revisto e, no atual código, deve ser entendida como opção sexual” (COHEN, 1999, p.37).
O sofrimento psíquico e os desconfortos gerados a partir da discordância entre o sexo biológico e o psicológico não são os únicos problemas enfrentados por essas pessoas. Dentro desse contexto, o desamparo e a vulnerabilidade são reforçados quando faltam apoio e suporte do Estado, principalmente nos casos em que os recursos financeiros são escassos (VIEIRA, 2012). Como também, a estigmatização dessa população pode causar adoecimento psíquico e gerar a não aceitação, principalmente nas crianças, quando estão se descobrindo, no processo de assimilação do que é tido de menino e menina e as demais coisas ligadas à sexualidade. A falta de informação sobre o tema, que deveria se fornecida pelo Estado fortalece o preconceito.
Adentrando na infância e a transexualidade nessa fase, temos como definição que: A infância é concebida como algo idílico, considerando que nessa fase está inserido apenas o direito de brincar, aprender, ler, escrever e se divertir, estando assim, a criança isenta de preocupações. (RODRIGUES E BARROS, 2016, p.299).
A singularidade da condição de crianças transexuais, bem como a dificuldade encontrada pelos pais no que se refere à aceitação drástica em dar adeus ao gênero biológico de seu (sua) filho (a) e ter que dar as boas vindas a uma nova identidade de gênero. A transexualidade infantil além de ser um assunto delicado, é também algo encoberto pela falta de informação e claro, pelo despreparo inicialmente vindo dos pais e posteriormente vindo da escola. A fase da infância pode ser vista pelo/as transexuais como algo ruim e que estes preferem anular de suas vidas, justamente pelo sofrimento vivido, pela imposição, e pela confusão em não se enxergar igual as demais crianças do sexo pertencente. Caracterizado por um persistente e intenso sofrimento por pertencer a um dado sexo, junto com o desejo de ser (ou a insistência de que se é) do outro sexo, a transexualidade hoje vem afirmando e se posicionando perante a sociedade. Segundo Rodrigues e Barros (2016, p.299).
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