Análise do Filme “O Enigma das Cartas”
Por: Alice Drumond • 12/10/2020 • Resenha • 775 Palavras (4 Páginas) • 1.105 Visualizações
Análise do Filme “O Enigma das Cartas”
Relato:
O filme “O Enigma das Cartas” conta a história de uma família lidando com a perda do patriarca e, foca-se no comportamento “sintomático” da filha mais nova, Sally, após o ocorrido. Apresenta, assim, um tencionamento entre a ciências objetivistas e a subjetividade do paciente e familiares.
Após 7 meses da morte do marido e patriarca, Ruth Matthews e filhos retornam para sua antiga casa nos EUA, ainda muito abalados. Percebe-se um estranhamento de Sally, filha mais nova, com toda a situação. Ela, que antes sempre foi uma garota comunicativa, feliz e expressiva, para de falar e se fecha, como se vivesse em seu próprio mundo.
Vários sinais expressam esta estranheza. O maior deles foi verificado na escola, onde Sally parecia não interagir de forma adequada com o ambiente e com as outras crianças. Ela sobe em uma árvore alta, é imitada por uma outra criança, que se machuca. Este episódio incentivou a escola a enviar um médico psiquiatra para a casa de Sally, para verificar seu comportamento.
O psiquiatra começa, então, a questionar os comportamentos de Sally desconfiando da possibilidade de autismo, pela semelhança dos sintomas apresentados. Pergunta a quanto tempo estava sem falar e a quanto tempo não abraçava a mãe ou demonstrava qualquer tipo de expressão. A mãe, por sua vez, defende que não há nada de errado com a filha. Procura entender Sally, conversando com a menina e buscando vivenciar sua experiência, entender sua singularidade, num envolvimento existencial na procura de que a filha lhe dissesse o que se passava. Sally, porém, não responde.
Em outro momento, aproveitando a distração da mãe, Sally pega cartas e fotografias da casa e constrói uma estrutura extremamente elaborada em formato espiral, o que surpreende a mãe, que tira várias fotos e mostra ao psiquiatra, acreditando que esta estrutura seria uma tentativa de comunicação. Porém, o médico vê esse ato, como outro possível sintoma. A mãe passa a acreditar, portanto, que a criança está se comunicando através das cartas e se empenha em tentar desvendar o código da estrutura construindo, então, um programa em 3D, com o objetivo de entrar no mundo da filha e compreender sua visão de mundo, sua singularidade.
Ainda nesta tentativa de entender os sinais da filha, Ruth constrói em proporções enormes, a estrutura que Sally havia elaborado com o baralho. Assim, as duas conseguem se comunicar e Sally consegue se despedir de seu pai e superar seu momento de luto. Percebe-se, portanto, que esses comportamentos, aparentemente sintomáticos, da criança em relação à altura eram tentativas de contato com o pai que, segundo sua crença estava sozinho morando na Lua. Superado isto, a criança volta a falar e a se expressar, retornando assim ao comportamento tido como normal.
Conclusões:
O filme, em questão, tenciona duas atitudes comumente tomadas em relação ao adoecimento infantil. O objetivismo e rigidez da visão biologicista, preocupada em tratar a doença sem a compreensão da subjetividade do paciente. E, por outro lado, a tentativa da mãe em compreender para além do biológico, mas os fatores psíquicos e sociais do comportamento da criança.
Sally apresentou diversas características que se assemelham ao autismo. Mas todas essas características também podem ser justificadas de maneira subjetiva. Sobre a perca da fala, por exemplo, pode ser relacionada com o que o seu amigo mexicano lhe disse, no início do filme, de que, algumas situações, para serem compreendidas, exige-se o silêncio. Esta, poderia, portanto, ser uma tentativa da criança de compreensão da morte do pai, a única maneira que encontrou para lidar com a perda. Sua fixação com a altura e com a lua, também pode estar relacionada, ao fato de este mesmo amigo ter lhe dito que seu pai, agora, morava sozinho na lua e a criança estaria, portanto, tentando fazer companhia ao pai, tentando chegar até ele.
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