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Resenha Do Filme "O Enigma De Kaspar Hauser"

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Por:   •  12/4/2014  •  779 Palavras (4 Páginas)  •  1.215 Visualizações

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Kaspar Hauser, desde a mais tenra idade, foi privado do convívio social. A partir daí sua triste trajetória nos aponta muitos resultados obtidos por sua privação cultural, pelo não desenvolvimento de sua linguagem. O fato de ter vivido muito tempo isolado de outras pessoas (até mesmo seu alimento era deixado à noite, quando dormia) trouxe a Kaspar Hauser graves conseqüências em sua formação como sujeito, como indivíduo.

Quando Kaspar é retirado do cativeiro e mesmo muito tempo depois, já com a linguagem desenvolvida é possível perceber através de seu olhar atônito, o espanto, o estranhamento frente à paisagem, frente às pessoas e suas reações.

Através do filme podemos fazer uma reflexão sobre o papel da cultura, o papel da linguagem em vários aspectos. Para Kaspar Hauser todas as frases são vazias de significado porque não viveu e experiência da linguagem nas relações intersubjetivas. A única exceção a princípio era a palavra cavalo que, para ele, tinha algum significado porque um cavalinho de madeira era sua única companhia no cativeiro. O vazio de significado que as frases têm para ele comprova ou demonstram de algum modo o que Habermas postulou a partir da virada lingüística e pragmática e refuta a idéia cartesiana sobre a apreensão mental do conhecimento e a desvinculação do homem em relação aos outros para chegar a esse fim. Se a teoria de Descartes se confirmasse, Kaspar conseguiria saber de todas as coisas, pois o mundo poderia ser conhecido sem a dependência de uma relação com ele ou com os outros homens.

O processo vivenciado por Kaspar vai de encontro à visão de Habermas porque exemplifica parte das idéias que este último postulou acerca da individuação.

Se pensarmos no conceito de insubstituibilidade no processo de individuação, podemos afirmar que Kaspar se sente insubstituível? Pelo menos a princípio, não. Não sabia, no começo, dizer nada de si mesmo. Mais tarde, com o desenvolvimento da linguagem, ele fará uso do pronome “eu”, ou falará de si, de sua vida. Mesmo assim, Kaspar demonstra sentir-se totalmente excluído, não reconhecido pelos outros. Com o decorrer da trama, Kaspar sofre um atentado e termina assassinado, bruscamente anulado em sua humanidade.

Passando ao conceito de autocompreensão, podemos afirmar também que seria impossível para Kaspar conhecer a si mesmo enquanto estava no cativeiro, pois somente podemos saber quem somos a partir de relações intersubjetivas. Por não possuir linguagem nesse período, ele não poderia conhecer a si mesmo ou sequer pensar, refletir sobre a situação que vivenciava. O pensamento é vazio de conteúdo pela ausência da linguagem. Mais tarde, já com a linguagem mais desenvolvida passará a escrever suas memórias em uma busca, uma construção dessa autocompreensão.

Pensando na autorealização, podemos afirmar com certeza que Kaspar jamais alcançou esse estado, pois não foi permitido a ele idealizar ou concretizar projetos de vida que pudessem ser reconhecidos pelos outros. Com o desenvolvimento da linguagem, Kaspar passa a perceber que o que interessava aos demais eram os enigmas em torno de sua história pessoal e não por sua pessoa.

No princípio da trama, quando Kaspar Hauser é levado aos policiais nos é dado perceber que o fato de não falar, não reagir frente a nenhuma espécie de estímulo é o suficiente para que não possa

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