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Análise do filme "Um sonho de liberdade" - Psicologia e Análise Institucional

Por:   •  24/11/2020  •  Resenha  •  2.310 Palavras (10 Páginas)  •  1.110 Visualizações

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AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA E ANÁLISE INSTITUCIONAL – P2

Michel Foucault, Erving Goffman

1. A partir do filme UM SONHO DE LIBERDADE

Construa um texto explicativo, exemplificando com cenas do filme as idéias principais dos autores estudados em nossa disciplina. Para isso utilize os conceitos de:

a)   Foucault: Arqueologia do saber, Genealogia do Poder, relação entre saber e poder, panóptico, biográfico, técnica penitenciária, arquipélago carcerário e, corpos dóceis e úteis, resistências, produção da delinquência e sua função política e econômica.

                Foucault propõe a Arqueologia do Saber, como forma de compreender a formação do discurso e dos saberes a partir da escavação do solo epistemológico. Contrária à Metafísica, que procura uma verdade soberana, a Arqueologia procura olhar para as condições históricas das possibilidades do saber como produto histórico dentro de possibilidades. A Arqueologia do poder propõe a leitura dos documentos, buscando mudanças nas concepções dos saberes através do tempo. Ao compreender que o discurso só é colocado em vigor através de relações de oposição e força sobre outros discursos, Foucault propõe a Genealogia do poder, que procura compreender o porquê de certos discursos terem se tornado superiores aos outros. Dessa forma, os saberes tornam-se instrumentos de poder,  que validam os dispositivos das prisões-entre outros- e o discurso de “delinquentes”. Fazer genealogia, é então exercitar a produção de conhecimento que venha a desestabilizar, com uma intenção tática, os discursos dominantes.

                A partir do método, Foucault descobre que há uma relação íntima entre os saberes e poderes, a ponto de defini-los como uma coisa só, os dispositivos de poder e os discursos de saber têm uma relação de coincidência, em que um produz o outro, por exemplo: o dispositivo de poder “prisão” reforça o discurso de saber “delinquentes”, que consequentemente, reforça as prisões e assim por diante. No filme “Um Sonho de Liberdade”, há um exemplo disso no julgamento como verdades jurídicas, que são saberes utilizados como uma lógica que condena Andy como criminoso, isso reforça o dispositivo de poder do judiciário e do Juiz, da prisão, que reforçam consequentemente o discurso punitivo.

                Dentro da análise do sistema penitenciário, o panóptico reforça as relações de poderes-saberes na prisão. O panóptico está inserido nas penitenciárias como forma de vigilância dos detentos, na arquitetura, é uma torre alta, na qual é possível enxergar todos que estão abaixo, dessa forma, todos se comportam como se estivessem sendo vigiados a todo tempo. De acordo com Foucault, a estrutura panóptica exista não apenas nas prisões, mas foi levada às escolas, fábricas e sociedade em geral, ou seja, no que chamou de “sociedade carcerária”, na qual o poder estabelecido é inversamente proporcional à confiança nas pessoas, assim aumentando as relações de poder e submissão. No filme, quando Andy precisa fugir, ele coloca um boneco em seu lugar, de forma com que o guarda (que está o vigiando o tempo todo) não perceba que a cela está vazia, esse é um exemplo claro do poder do panóptico, no qual o indivíduo que está sendo vigiado precisa ser enxergado o tempo inteiro.

Foucault denomina o biográfico como sendo um conjunto de registros a respeito do prisioneiro: seus dados pessoais, sua procedência, seu nível de instrução, a espécie de delito que cometeu, suas passagens pela polícia, ou seja, o registro da história pessoal pautada no levantamento de dados necessários ao estudo do crime e da delinquência. No filme analisado, o personagem Tommy foi preso por roubo no ano de 1965, tendo passado anteriormente por um reformatório.

Além do biográfico, a técnica penitenciária e o delinquente são realidades que produzem ao mesmo tempo e no prolongamento uma da outra; implica no isolamento, em trabalhos destituídos de significado e na modulação da pena. Todos esses aspectos formam o penitenciário. No filme, é possível analisar que o isolamento não é total, tendo em vista que os presos demonstram uma certa organização; o isolamento só se concretiza totalmente quando os presos são colocados em suas celas. Como diz Foucault, “a solidão realiza uma espécie de auto-regulação da pena, e permite uma como que individualização espontânea do castigo: quanto mais o condenado é capaz de refletir, mais ele foi culpado de cometer seu crime; mas mais também o remorso será vivo, e a solidão dolorosa; em compensação quando estiver profundamente arrependido e corrigido sem a menor dissimulação, a solidão não lhe será mais pesada” (FOUCAULT, 1986). Assim, os presos acabam sendo solidários uns com os outros e acabam se organizando, corrompendo até os guardas, destruindo o caráter positivo instrumental da solidão.

Sobre corpos dóceis de acordo com Foucault,

“O corpo humano entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma ‘anatomia política’, que é também igualmente uma ‘mecânica de poder’ está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com as técnicas de rapidez e eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim, corpos submissos e exercitados, ‘corpos dóceis’” (FOUCAULT, 199. p. 110).

A partir disso, é possível observar que uma vez institucionalizado e “docilizado”, o prisioneiro pode em algum momento, se acomodar com a sua condição diante do sofrimento, encontra desconforto neste sentimento e dá significado a sua dor. Afinal a vida é sofrimento, e sobreviver é encontrar significado na dor, e se de algum modo, a vida tem sentido, há propósito na dor e na morte. (FRANKL, 1984). Dentro do universo do filme analisado, o sofrimento está dissociado do desejo de vida. Isso ocorre com Brooks, um personagem idoso, que está preso há 50 anos e, por isso, já estava totalmente institucionalizado. Pode-se perceber isso pelo fato de ao ganhar sua liberdade, ele não consegue se desvincular do ambiente penitenciário e se adaptar à sociedade, uma vez que se viu em um mundo muito diferente do mundo que conhecia antes de ser condenado.

 Dentro da prisão, o mundo era estável, diferente do ambiente que ele se deparou naquele momento. O personagem vivia uma “liberdade fictícia”, pois, embora estivesse fora do ambiente do presídio, se mantinha preso às regras estabelecidas lá dentro. Para ele, o mundo agora era dinâmico, o que fez com que encontrasse muitas dificuldades para se adaptar; isso se deve por sua idade avançada e um alto nível de institucionalização. Assim, Brooks comete suicídio, pois julgava ser uma melhor alternativa ao invés de enfrentar o desafio de se adaptar à uma nova vida, não conseguindo ressignificar e encontar sentido.

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