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Análise dos Processos Cognitivos

Por:   •  3/6/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.680 Palavras (7 Páginas)  •  291 Visualizações

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Introdução

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise de caso, a partir de um conto retirado do livro “O homem que confundiu sua mulher com um chapéu.” de Sacks (1994), as autoras escolheram por atuar com o conto denominado “A doença de Cupido” e a partir da leitura do mesmo, procurou-se identificar na história os aspectos estudados nas disciplinas de Psicologia Cognitiva e Psicodiagnóstico.

A personagem principal do conto é uma idosa de noventa anos, portadora da doença neurossifilis e que desde o ano anterior a consulta relatada, apresenta comportamentos mais erotizados e interesse por pessoas do sexo masculino mais jovens. Mas que devido ao seu julgamento moral e das opiniões reprobatórias dos amigos, em relação ao seu comportamento apresentado na velhice, resolve buscar ajuda médica, mas ao mesmo tempo apresenta o dilema de não querer a cura, por estar se sentindo mais “viva”, do que há vinte anos atrás.

Sendo assim, o caso de Nafasha, apresenta elementos ricos para a elaboração de análise de seus processos cognitivos, hipóteses diagnósticas e elaboração de bateria de testes. O que permitiu que as autoras também, pudessem aplicar os elementos teóricos estudados em um caso que envolve uma idosa, em um momento da sua história, que muitas vezes é julgado como sendo o final da vida, em que o sujeito acaba por ser desrespeitado em sua subjetividade, seus desejos e no seu constante processo de construção da própria identidade.


Descrição do Caso

Nafasha K, é uma mulher de noventa anos, que depois dos seus oitenta e oito anos, procurou a clínica, afirmando que havia acontecido uma mudança em sua vida. Mudança essa que a paciente diz ser muito “deliciosa” e que ela adorou, a fazia se sentir mais vigorosa, mais viva e jovem novamente. Se interessando por homens mais joviais, julgando se sentir mais assanhada.

Nafasha foi questionada pelo profissional que a atendia, sobre o que ela estava sentindo, e se isso era um problema. A idosa respondeu, que no início dessa mudança, se sentia extremamente bem, fazendo ao profissional a seguinte indagação: “Por que eu deveria achar que havia algo errado?”. Nafasha continua o seu relato destacando que com o passar do tempo os seus amigos começaram a se preocupar com o seu comportamento, no inicio diziam que ela estava radiante, que havia ganhado uma vida nova, mas depois começaram a pensar que aquilo não ficava bem a ela, questionando-a se suas atitudes eram condizentes com a sua idade.

A paciente deixou-se influenciar, sem questionar o que estava acontecendo. Até que percebeu estar com oitenta e nove anos, mas toda essa mudança vem acontecendo a um ano, pois sempre foi reservada com seus sentimentos, agora estava extravagante e próxima do fim de sua vida.

A paciente questiona em relação ao, “o que poderia justificar essa súbita euforia?”. A parti do momento em que pensou nessa euforia a sua vida assumiu um novo aspecto. Chegando a dizer a si mesma que estava doente, entretanto se sentia muito bem, chegando a conclusão que só poderia estar doente. “Doente? Emocionalmente? Mentalmente?” foi indagada no consultório, ela respondeu que a doença não era emocional e sim física. Era algo em seu corpo, em seu cérebro, que estava a deixando eufórica, então ela pensou, é a “Doença do Cupido”.

Para explicar a origem desse doença Nafasha relembrou os tempos da juventude, a cerca de setenta anos atrás em que trabalhava em um bordel, nessa época ela e muitas outras moças que atendiam no local contraíram a bactéria da Sífilis, que denominaram a doença como sendo a “Doença do Cupido”. Passado algum tempo Nafasha se casou, e foi o marido em sua visão o responsável por ajudá-la a se afastar do antigo estabelecimento e a tratar da doença, pois, nessa época ainda não fazia usos de medicação.

Desde a sua chegada ao consultório a paciente tinha certeza quanto ao diagnóstico de sua doença. Foram então realizados exames, que detectaram que o liquido espinhal era positivo, o que significava que a idosa era portadora da neurossífilis, então sendo levantada a questão do tratamento.

Entretanto, Nafasha, afirmava não saber se gostaria ser tratada, pois mesmo sendo uma doença, essa a fazia se sentir bem, mais viva e assanhada, do que relação aos últimos vinte anos, sendo divertido. Relatando também que para ela quando uma coisa boa vai longe demais a deixa de ser boa, já que estava tendo algumas tendo ideias e impulsos, como se estivesse bêbada, porém não chegou a dá maiores detalhes dessas situações. A busca da paciente por ajuda se deu então pela vontade de que a doença piorasse, mas não querendo ser curada totalmente, pois seria horrível do mesmo modo, uma vez que não se sentia plenamente viva antes de contrair as bactérias.

Durante o tratamento clínico, foi receitado a Nafasha o remédio Penicilina, que tinha como função a eliminação das espiroquetas.  Mas para o médico responsável nada poderia ser feito para reverter às alterações cerebrais, as desinibições que a doença provocava. Para o profissional, a paciente tinha dupla vantagem, desfrutava de uma branda desinibição, liberada de pensamentos e impulsos, sem ameaça alguma a seu auto controle ou risco adicional para seu córtex. O que causava em Nafasha uma esperança de viver, assim, reanimada, até os cem anos, chegando a comentar que por isso era, “preciso dar crédito ao cupido”.

Análise dos Processos Cognitivos

Durante o seu encontro com o especialista clinico Nafasha, apresenta um discurso bem elaborado, coerente e firme, em relação ao que relata sobre a sua vida. A idosa aparentemente após a descoberta da doença, limitou-se em relação a vida sexual de forma anula-la, talvez o fato de considerar o marido como sendo alguém que a salvou, do ambiente da prostituição contribuiu ainda mais para que não mais alimentasse o seu desejo. Em relação aos aspectos orgânicos que envolve a doença de neurossifilis, Nafasha não apresenta ter dificuldades com a memória de longo prazo, chegando a citar fatos marcantes da sua vida de décadas anteriores. Diante disso Anderson (2004), afirma que as nossas memórias mesmo que achemos ter sido esquecidas, as mesmas continuam armazenas, podendo as mesmas se tornarem “acessíveis”, a partir das experiências que vivemos.

Tendo o valor que é direcionado a memória tem grande influência na sua manutenção, pois se terá a atenção voltada a aquilo que realmente lhe interessa, esse é um processo de acordo com Weerd et al, citados por Sternberg (2008), limitado e seletivo em relação a quantidade de estímulos como por exemplo, ambientais, sociais e culturais do quais estamos expostos. A manutenção dessas memórias sofrem a influência de diversos fatores, Anderson (2004), explica que o esquecimento está ligada a dois fatores: o enfraquecimento da força do registro, e a interferência em memórias, que acontecem quando as novas memórias apreendidas acabam por ocultar as que foram formadas a mais tempo. Sendo então o esquecimento “(...) provocado por enfraquecimento da força dos registros e pela interferência de outras memórias” (ANDERSON, p.125,2004).

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