Aprimoramento Profissional Clínico-Institucional
Monografias: Aprimoramento Profissional Clínico-Institucional. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: pedrobueno • 17/4/2014 • 5.268 Palavras (22 Páginas) • 412 Visualizações
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic” Faculdade de Psicologia Aprimoramento Profissional Clínico-Institucional
DASEINSANALYSE: O HOMEM É LIBERDADE
São Paulo 2012
DASEINSANALYSE: O HOMEM É LIBERDADE
Trabalho de conclusão do Aprimoramento Clínico-Institucional realizado na Clínica Psicológica “Ana Maria Poppovic”, sob a Supervisão do Prof. Miguel Ângelo Yalente Perosa.
Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic PUC-SP
São Paulo
2012
Resumo
A Daseinsanalyse é uma abordagem da Psicologia que pensa o homem de outra forma em relação às ciências naturais. O presente trabalho aborda como a clínica daseinsanalítica atua como um instrumento de ampliação da compreensão do paciente acerca de sua própria vida, ou seja, de suas relações com o mundo e com os outros e de suas inúmeras possibilidades de modos-de-ser. Isto aponta para a questão da liberdade e da responsabilidade do homem, assuntos também abordados, por se mostrarem possivelmente emergentes na situação da psicoterapia.
Para este estudo, foi realizado revisão de literatura sobre os assuntos acima expostos, relacionando os autores estudados, chegando assim a conclusões relevantes para o tema em questão.
Palavras-chave: Daseinsanalyse, liberdade, responsabilidade.
Sumário Introdução..................................................................................................................05
Capítulo 1: A clínica daseinsanalítica......................................................................08 Capítulo 2: Liberdade e responsabilidade...............................................................14 Conclusão....................................................................................................................18
Referências bibliográficas..........................................................................................20
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Introdução
“Fenomenológico vem do grego ‘phainesthai’, que significa ‘mostrar-se’, ou clarear, sair do mistério, de recôndito para o aberto e neste se exibir” (p. 11-12, Boss, 1997, apud Cardinalli, 2000).
A Daseinsanalyse é uma abordagem da Psicologia que se propõe a pensar o homem de uma nova forma em relação aos outros enfoques. Em primeiro lugar, como explicita Heidegger (2001, apud Cardinalli, 2005), as ciências naturais colocam os fenômenos como objetos separados do sujeito – o homem, e se propõem a calculá-los e medi-los. Não raro o homem é também objetificado, como se pudesse ser calculado da mesma maneira. O autor explica que o homem é ser-no-mundo, ou seja, está sempre em relação com os entes, fenômenos e outros homens, e tem como condições ontológicas (constituintes do ser) a abertura, o ser-com o outro, a historicidade e a mortalidade, entre outros. Boss e Candrau (1976) também mencionam essas condições originais do ser humano:
Heidegger descreveu como existenciálias a abertura original ao mundo da natureza humana, a temporalidade do homem, sua especialidade original, sua afinação ou seu temperamento, seu estar-com-o-outro, sua corporeidade, seu caráter mortal. (...) Esta foi e permanece sendo uma tentativa puramente filosófica, isto é, destinada a determinar a natureza fundamental do ser-aí- humano (do Dasein) de um modo estritamente concernente a esta última. Além disso, o verdadeiro intuito de Heidegger não foi nunca o de esclarecer simplesmente a essência do homem. Visou na realidade, desde o início, esclarecer o sentido do Ser enquanto tal (p. 23).
Quanto ao conceito de abertura, Boss e Condrau (1976) explicam que o homem está a todo momento compreendendo o mundo à sua volta: “O ser humano é uma abertura transparente e estendida para o que se encontra no mundo, do mais próximo ao mais longínquo, tanto no sentido espacial quanto temporal” (p. 27). A ideia de abertura pode ser comparada a uma clareira, onde se pode ver o que vem ao encontro.
Assim o existir humano é sempre conforme sua natureza mais profunda (...) e pode enquanto abertura iluminadora estar tanto aqui como ali e se encontrar numa livre relação com aquilo que se oferece a ela na abertura iluminadora de seu mundo. Já que em sua essência o homem tem não somente a possibilidade de escolher ele mesmo que tipo de relação quer estabelecer com
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os diferentes entes que se apresentam a ele em meio a multiplicidade de dados do mundo, mas também porque lhe é necessário a todo momento tomar pessoalmente tais decisões, o ser humano – e só ele – deve ser qualificado de ser-si-mesmo (Boss; Condrau, 1976, p. 27)
Existir no modo ser-si-mesmo implica no sempre co-existir com outros. O homem não inicia existindo só para depois entrar em contato com o outro, ao contrário, o homem de início já co-existe perto das mesmas coisas de um mesmo mundo, sendo assim, sempre compartilhando “embora cada um a seu modo, para manter aberto este mundo ‘descoberto’” (Boss; Condrau, 1976, p. 27). O homem é sempre ser em relação, seja em forma de proximidade ou de afastamento, de um sentir-se tocado ou indiferente. Desta forma, a todo o tempo o homem se relaciona com aquilo que lhe vem ao encontro de uma determinada forma, com uma determinada disposição.
Ao contrário de outras abordagens que partem de conceitos teóricos sobre o desenvolvimento ‘adequado’ do homem, a Daseinsanalyse parte da compreensão do paciente a partir dele mesmo, a partir de suas relações dentro de seu mundo. Sendo o homem ser-no-mundo, é o seu modo de ser no seu mundo que será desvelado na psicoterapia. Estas formas de se relacionar se mostram no âmbito psicoterápico pela relação paciente-psicoterapeuta, “a partir do paciente concreto e da situação concreta do viver do paciente” (Cardinalli, 2000, p. 12). Heidegger (1987, apud Cardinalli, 2000) aponta que na psicoterapia deve-se ter em vista o paciente na sua facticidade, na sua cotidianidade, o que ele chama de ‘paciente concreto’ além de sua ontologia, do que é essencial ao ser humano.
Sobre a diferença entre a Daseinsanalyse e outras abordagens, Boss e Condrau (1976) esclarecem:
A ‘Daseinsanalyse’ não deve ser considerada como mais uma ‘escola’ que simplesmente se agrupa a todas que já existem.
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