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Artigo “Memória” de Carlos Alberto Mourão Júnior e Nicole Costa Faria

Por:   •  19/4/2024  •  Resenha  •  1.700 Palavras (7 Páginas)  •  103 Visualizações

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        O artigo “Memória” de Carlos Alberto Mourão Júnior e Nicole Costa Faria, publicado pela revista Psicologia: Reflexão e Crítica, possui como objetivo apresentar de maneira didática os processos de memória, oferecendo aos interessados no estudo uma visão panorâmica do assunto.

        Em uma primeira parte, os autores falaram acerca da conceituação e processos envolvidos. Segundo eles, é chamada de memória a capacidade que os seres vivos têm de adquirir, armazenar e evocar informações. É considerada um dos mais importantes processos psicológicos, uma vez que é responsável pela identidade pessoal e por nos guiar em nosso cotidiano. Além disso, ela também está ligada a outras funções corticais, como a função executiva e o aprendizado.

Foi salientado no texto que apesar dos avanços da neurociência ainda existem lacunas que não foram preenchidas. Nesse sentido, o que é de conhecimento concreto é que as informações ao chegarem no nosso cérebro formam um circuito neural – a informação, ao ser recebida, ativa uma rede de neurônios, que se for reforçada, possui como consequência a retenção dessa informação. Por esse motivo, a repetição é considerada uma estratégia necessária para a memória. A ativação contínua reforça esse circuito e torna mais fácil a posterior evocação da informação armazenada.

O processo de armazenamento foi dividido em três subprocessos: aquisição, consolidação e evocação. Aquisição – momento em que a informação chega até o sistema nervoso, o que ocorre por meio das estruturas sensoriais, as quais transportam a informação recebida até o cérebro. Consolidação – momento de armazenar a informação (esse armazenamento representa a memória), pode se dar de duas maneiras distintas:

  1. Através de alterações bioquímicas (também chamados de traços de memória) incluem dois tipos de alterações que ocorrem na circuitaria neural:
  1. Estruturais (morfológicas) - compreendem a formação de novas espinhas dendríticas (as quais permitem que um determinado neurônio receba mais aferências de outros neurônios) ou então a formação de novos prolongamentos axonais (os quais permitem que um dado neurônio transmita mais sinais para os neurônios com os quais ele se conecta). Podem ocorrer ainda alterações morfológicas que criam novos circuitos que anteriormente não existiam.
  2. Funcionais – formação de novos canais iônicos ou novas proteínas sinalizadoras, que otimizam a transmissão sináptica (Purves et al., 2010).
  1. Através de fenômenos eletrofisiológicos - ao tentarmos memorizar uma situação nova, determinados conjuntos de neurônios continuam disparando durante alguns segundos, retendo temporariamente a informação somente durante o tempo em que a mesma é necessária, extinguindo-a logo em seguida. Esse tipo de fenômeno tem duração extremamente efêmera e não forma traços bioquímicos.

Importante destacar que o processo de armazenamento só é possível devido à neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro de se transformar diante de estímulos do ambiente.

        Evocação – retorno espontâneo ou voluntário das informações armazenadas. A evocação (ou recuperação) envolve a organização dos traços de memória em uma sequência coerente no tempo (fenômeno chamado de integração temporal) e ocorre principalmente no córtex pré-frontal, através de um processo denominado memória de trabalho. Alguns autores apontam que existem dois tipos de recuperação frequentemente distinguidos: o reconhecimento e a recordação (Mourão & Melo, 2011b). No reconhecimento, estamos diante de um estímulo previamente conhecido e armazenado, o que implica em certo sentimento de familiaridade. Já na recordação, não há nada de familiar momentaneamente presente em nossa percepção consciente. Nesse caso, não estamos diante do estímulo previamente conhecido (o qual será recuperado). É como se recuperássemos voluntariamente uma informação armazenada.

        Na segunda parte do texto, foi feita a classificação das memórias, salientando a extrema dificuldade em fazê-lo. Por isso, optaram por apenas descrever como cada modalidade de memória se apresenta em nossa consciência.

  1. Memória Sensorial - (1) sua matéria-prima são as informações que chegam até nós pelos sentidos; (2) é ultrarrápida, ou seja, apresenta curtíssima duração (da ordem de poucos segundos), apesar da variação de tempo entre diferentes tipos de estímulos (a memória visual, por exemplo, é mais curta que a memória auditiva); (3) apresenta maior capacidade de armazenamento que a memória de trabalho, apesar de durar bem menos tempo que esta; (4) apresenta caráter pré-consciente, ou seja, ocorre antes que tomemos consciência da informação que os sentidos nos trazem; (5) tal qual a memória de trabalho, trata-se tão somente de um fenômeno elétrico nos neurônios, não produzindo alterações morfológicas ou funcionais nas sinapses (como ocorre com as memórias de longa duração) (Bear, Connors, & Paradiso, 2008).
  2. Memória de Trabalho - contextualiza o indivíduo e gerencia as informações que estão transitando pelo cérebro. Ela é fundamental na evocação das memórias e no processamento lógico de informações. Além disso, compara as novas informações que estamos recebendo com informações antigas, já consolidadas e armazenadas em nossa memória de longo prazo, confronta as informações que estão chegando ao cérebro pelas vias sensoriais com as informações que já estão arquivadas nos sistemas cerebrais que compõem a memória de longa duração (Andrade, Santos, & Bueno, 2004).

Segundo alguns autores, ela pode ser dividida em quatro componentes principais: (1) executivo central (que representa o sistema atencional do cérebro); (2) esboço visuoespacial (que gerencia e armazena temporariamente informações a partir de imagens, como se estivéssemos vendo algo mentalmente); (3) alça fonológica (que gerencia e armazena temporariamente informações a partir de sons, como se estivéssemos repetindo sons mentalmente); (4) retentor episódico (que gerencia informações já arquivadas em nosso cérebro, comparando-as com as novas informações que chegam através dos sentidos).

  1. Memória de Longa Duração - armazena informações por longos períodos de tempo, meses, anos ou até mesmo décadas. Possui capacidade de guardar informações por tempo indeterminado, bastando, para tanto, que a memória continue a ser reforçada com o passar dos anos. Os limites de sua capacidade de armazenamento são ainda desconhecidos, mas sabe-se que sua capacidade é muito grande (Bear et al., 2008). A memória de longa duração pode ser didaticamente dividida em duas categorias principais:
  1. Memória declarativa (também conhecida como memória explícita), que corresponde às memórias que estão prontamente acessíveis à nossa consciência e que podem ser evocadas através de palavras. Podemos subdividi-la em duas categorias:
  1. Memória episódica, que diz respeito a experiências passadas, a “episódios” de nossas vidas. Ela guarda informações relacionadas a um determinado momento no tempo, sendo, portanto, responsável pela nossa autobiografia;
  2.  Memória semântica, que diz respeito a conhecimentos não relacionados a tempo e espaço específicos. Trata-se de uma memória que não guarda momentos, mas sim fatos (e.g. o significado das palavras, os conhecimentos de biologia, as regras gramaticais de um idioma, símbolos etc.).

Essa subdivisão da memória declarativa é feita, pois parece que as memórias episódica e semântica se relacionam a diferentes áreas cerebrais, podendo ser afetadas de maneira distinta em diversas doenças que acometem o cérebro.

  1. Memória não declarativa (também conhecida como memória implícita), que correspondem às memórias que estão em nível subconsciente, não podendo ser evocadas por palavras, mas sim por ações. São incluídos os condicionamentos, as memórias motoras e o priming.

As memórias motoras são memórias relacionadas a procedimentos e habilidades motoras. São difíceis de serem aprendidas, pois necessitam de muita repetição para se tornarem consolidadas. Porém, uma vez consolidadas, se tornam automáticas, inconscientes e extremamente resistentes ao esquecimento. Já o priming é um tipo de memória induzida por pistas ou dicas.

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