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Por:   •  12/2/2014  •  1.101 Palavras (5 Páginas)  •  239 Visualizações

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Um dos distúrbios de ansiedade, a doença faz parte da vida de 3% da população mundial. Mas tem tratamento:

De repente o coração dispara. O peito aperta, as mãos transpiram e os braços começam a formigar. A cabeça gira e parece que tudo treme por dentro. Como se não bastasse, o ar some e é necessário respirar mais rápido para não se sufocar. Parece que a morte está chegando. Se ao menos desse para sair correndo ou, quem sabe, segurar a mão de alguém... Impossível controlar a avalanche de sensações, o imenso pavor.

A cena acima é uma típica crise de síndrome do pânico, doença que não escolhe conta bancária, cor da pele nem país, prefere as mulheres na proporção de três para um e faz, ou fará, parte da vida de 3% da população mundial.

Medo desproporcional:

A síndrome é caracterizada pela repetição de crises que surgem aparentemente sem motivo, chegam ao pico em 10 minutos e duram cerca de 40. Vive-se um medo desproporcional. A pessoa pode até pensar que está tendo um infarto e correr ao pronto-socorro. Mas será liberada pelos médicos por estar bem clinicamente. Seu problema é outro. "A cabeça tira conclusões erradas", explica Márcio Bernik, coordenador do Laboratório de Ansiedade do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Rotina limitada:

As conseqüências são terríveis. Há sempre o temor de uma nova crise e o indivíduo passa a evitar situações que acredita desencadear o problema. Cerca de dois terços dos pacientes desenvolvem a agorafobia, medo de locais públicos. Receiam passar mal e não encontrar socorro.

O transtorno do pânico não é privilégio da vida moderna. Já teve vários nomes, como síndrome do coração do soldado, por causa da Guerra Civil Americana (1861-1865), em que surgiram alguns casos. O médico austríaco Sigmund Freud a enquadrou na neurose da angústia. Só nos anos 80 a doença teve o diagnóstico bem definido (veja o quadro à direita).

Fatores biológicos, genéticos, ambientais e psicológicos mesclam-se durante o ataque. Sabe-se que há problemas com certos neurotransmissores, porque as crises melhoram com drogas capazes de regulá-los. Os mecanismos acionados pelo cérebro, porém, são pouco conhecidos. "Provavelmente não existe um centro do pânico", explica o psiquiatra Renato Ramos, da Universidade de São Paulo (USP). "Várias estruturas cerebrais devem estar envolvidas."

Estudos indicam que existem de 17% a 35% de fatores genéticos. "Herda-se a vulnerabilidade", conta o psiquiatra Francisco Lotufo-Neto, da Faculdade de Medicina da USP. É aí que entram o estresse e a dificuldade para resolver os problemas.

Segundo Rosana Laiza, presidente da Associação Nacional da Síndrome do Pânico, é possível definir um perfil de quem desenvolve a doença. "Normalmente é uma pessoa perfeccionista, que não relaxa e quer controlar tudo", conta, baseada nos cerca de mil casos encaminhados à Associação nos últimos 16 anos. "Também é agarrado à imagem da mãe."

A ação dos remédios:

Há quem questione a conclusão. "É complicado avaliar alguém depois de doente", rebate a psicóloga Lígia Ito, do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Polêmicas não faltam. Afinal, trata-se da cabeça, de emoções.

Apesar das divergências, há tratamento. Começa com remédios, principalmente antidepressivos, que atuam sobre os neurotransmissores (veja o infográfico à direita). "Há várias opções e o médico seleciona aquele que irá causar menos efeitos colaterais conforme o paciente", explica a psiquiatra Helena Calil, da Universidade Federal de São Paulo.

Segundo pesquisa do Hospital das Clínicas paulistano, se tirada a droga após um ano de tratamento, 20% dos pacientes ficam bem, 40% têm recaída imediata e outros 40% recaem depois de uma situação de estresse. Há quem seja medicado por toda a vida.

Depois de medicado, inicia-se a terapia de auxílio. O paciente se expõe, sistematicamente, a uma das situações que teme, como enfrentar uma fila. Mede o grau de ansiedade a cada tentativa e aprende técnicas de relaxamento. "Também o ajudamos a confrontar os pensamentos catastróficos com a realidade", conta a psiquiatra Valéria Lauriano, de São Paulo.

"No lugar de pensar que o avião vai cair, lembramos que é um transporte seguro." Quando a pessoa chega ao objetivo sem sentir desconforto, escolhe outra situação que antes a aterrorizava. "Tudo é feito aos poucos", avisa Lotufo-Neto. "Além disso, indicamos psicoterapia para reacomodar problemas com relacionamentos e auto-imagem." Faz sentido: quem tem pânico questiona sua capacidade de enfrentar o mundo e se sente inferiorizado.

"Quem passou pelo problema sempre fica com alguma coisinha", acredita Antônio Santos. "Como o sujeito que comia coalhada assoprando a colher porque certa vez tinha se queimado com leite quente." Mas é difícil medir as seqüelas psicológicas — saber se o indivíduo está agitado por causa da doença do passado ou porque, como todo mundo, tem seus momentos normais de ansiedade.

Investigação psicológica:

Rosana Laiza também indica o relaxamento autógeno, técnica de autocontrole que possibilitaria regular o batimento cardíaco. E aplica a psicoterapia para resolver os males que estariam no fundo das crises. "Levamos o paciente a entrar em contato com sua infância."

Para o psiquiatra e psicanalista Oswaldo Ferreira Leite, do Hospital das Clínicas de São Paulo, "é importante não dispensar uma investigação psicológica, além dos outros tipos de tratamento".

Remédios, terapia comportamental, relaxamento autógeno, psicoterapia e psicanálise. Seja qual for o caminho, o importante é saber que existem saídas. "É possível encontrar ajuda e ser feliz", garante a dona de casa Lya Williams, de 50 anos. Com análise, terapia e medicação, ela livrou-se das crises que a atormentaram de 1988 a 1994. Como Lya, muitas vítimas podem recuperar a paz.

Conheça os sintomas:

Os sinais do pânico podem ser confundidos com os de hipertireoidismo, asma, diabete, epilepsia, dependência de drogas, alterações cardíacas e alcoolismo. Só quando esses males são excluídos é que se começa a pensar para valer na hipótese da síndrome.

O fato de alguém entrar em pânico não significa que tenha o distúrbio. Afinal, 10% da população está sujeita a ter uma crise ou outra de terror algum dia. O que caracteriza a doença, porém, é enfrentar mais de três ataques por mês.

Além disso, é preciso sentir pelo menos quatro dos seguintes sintomas: falta de ar, tontura, tremores, palpitação, sudorese, náusea, formigamento, despersonalização (sensação de deixar o corpo), ondas de calor ou de frio, desrealização (tudo parece um filme), medo de enlouquecer ou de morrer e urgência de ir ao banheiro.

Como amenizar os ataques:

É possível amenizar os ataques de medo. "Deve-se pensar que o desconforto vai passar e fazer respiração abdominal, mais profunda e demorada, para evitar tontura, tremor e formigamento", ensina a psiquiatra paulista Valéria Lauriano. "O ideal é treinar os movimentos em casa, deitado e com um livro sobre a barriga."

A psicóloga Rosana Laiza, presidente da Associação Nacional da Síndrome do Pânico, indica mudanças no estilo de vida. "É bom controlar o estresse e ser mais flexível consigo e com os outros".

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