Ciencias
Ensaios: Ciencias. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: jhonjhonap • 24/3/2015 • 5.208 Palavras (21 Páginas) • 232 Visualizações
PESQUISA QUALITATIVA: REFLEXÕES
SOBRE O TRABALHO DE CAMPO
ROSÁLIA DUARTE
Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
rosalia@edu.puc-rio.br
RESUMO
Este trabalho discute algumas das dificuldades mais freqüentemente enfrentadas por pesquisadores
em trabalhos de campo, no que diz respeito ao uso de metodologias de base qualitativa.
Procura-se apresentar, no decorrer do texto, problemas que envolvem, por exemplo,
a delimitação do universo de pesquisa, a definição de critérios para a seleção dos sujeitos
a serem entrevistados, elaboração de roteiros de entrevistas e sua realização, organização e
análise de dados qualitativos, entre outros, visando contribuir com as discussões relativas à
adoção desse tipo de metodologia no campo educacional.
PESQUISA QUALITATIVA – TRABALHO DE CAMPO – PESQUISA ETNOGRÁFICA –
METODOLOGIA DE PESQUISA
ABSTRACT
QUALITATIVE RESEARCH: REFLECTIONS ON FIELD WORK. This work discusses some
of the most frequent difficulties faced by researchers doing field work in their use of qualitative
based methodologies. The text aims to present problems such as defining the research
universe, defining criteria to select who will be interviewed, developing and carrying out
scripts, organizing and analyzing qualitative data etc. as a contribution to the discussion of the
use of this type of methodology in the field of education.
140 Cadernos de Pesquisa, n. 115, março/ 2002
INTRODUÇÃO
Uma pesquisa é sempre, de alguma forma, um relato de longa viagem empreendida
por um sujeito cujo olhar vasculha lugares muitas vezes já visitados. Nada
de absolutamente original, portanto, mas um modo diferente de olhar e pensar
determinada realidade a partir de uma experiência e de uma apropriação do conhecimento
que são, aí sim, bastante pessoais.
Contudo, ao escrevermos nossos relatórios de pesquisa ou teses de doutorado,
muitas vezes nos esquecemos de relatar o processo que permitiu a realização
do produto. É como se o material no qual nos baseamos para elaborar nossos
argumentos já estivesse lá, em algum ponto da viagem, separado e pronto para ser
coletado e analisado; como se os “dados da realidade” se dessem a conhecer, objetivamente,
bastando apenas dispor dos instrumentos adequados para recolhê-los.
Não parece ser assim que as coisas se passam. A definição do objeto de pesquisa
assim como a opção metodológica constituem um processo tão importante
para o pesquisador quanto o texto que ele elabora ao final. De acordo com Brandão
(2000), a tão afirmada, mas nem sempre praticada, “construção do objeto” diz respeito,
entre outras coisas, à capacidade de optar pela alternativa metodológica mais adequada
à análise daquele objeto. Se nossas conclusões somente são possíveis em razão
dos instrumentos que utilizamos e da interpretação dos resultados a que o uso dos
instrumentos permite chegar, relatar procedimentos de pesquisa, mais do que cumprir
uma formalidade, oferece a outros a possibilidade de refazer o caminho e, desse
modo, avaliar com mais segurança as afirmações que fazemos.
REFLEXÕES SOBRE O TRABALHO DE CAMPO
De modo geral, durante a realização de uma pesquisa algumas questões são
colocadas de forma bem imediata, enquanto outras vão aparecendo no decorrer
do trabalho de campo. A necessidade de dar conta dessas questões para poder
encerrar as etapas da pesquisa freqüentemente nos leva a um trabalho de reflexão
em torno dos problemas enfrentados, erros cometidos, escolhas feitas e dificuldades
descobertas.
Este trabalho surgiu da necessidade de partilhar algumas informações e reflexões
acerca do recurso à pesquisa qualitativa que, apesar dos riscos e dificuldades
que impõe, revela-se sempre um empreendimento profundamente instigante, agradável
e desafiador.
Cadernos de Pesquisa, n. 115, março/ 2002 141
A SELEÇÃO DE SUJEITOS EM ABORDAGENS QUALITATIVAS
De um modo geral, pesquisas de cunho qualitativo exigem a realização de
entrevistas, quase sempre longas e semi-estruturadas. Nesses casos, a definição de
critérios segundo os quais serão selecionados os sujeitos que vão compor o universo
de investigação é algo primordial, pois interfere diretamente na qualidade das
informações a partir das quais será possível construir a análise e chegar à compreensão
mais ampla do problema delineado. A descrição e delimitação da população
base, ou seja, dos sujeitos a serem entrevistados, assim como o seu grau de
representatividade no grupo social em estudo,
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