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Ciência e senso comum

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Por:   •  5/4/2014  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.862 Palavras (12 Páginas)  •  797 Visualizações

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: Ciência e Senso Comum

Quantas vezes, no nosso dia a dia, ouvimos o termo psicologia? Qualquer um entende um pouco dela. Poderíamos até mesmo dizer que “de psicólogo e de louco todo mundo tem um pouco”. O dito popular não é bem este (“de médico e de louco todo mundo tem um pouco”), mas parece servir aqui perfeitamente. As pessoas em geral têm a “sua psicologia”.

Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Por exemplo, quando falamos que ele usa de “psicologia” para vender seu produto; quando nos referimos à jovem estudante usa seu poder de sedução para atrair o rapaz, falamos que ela usa de “psicologia”; e quando procuramos aquele amigo, que está sempre disposto a ouvir nosso problemas, dizemos que ele tem “psicologia” para entender as pessoas.

Será essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é de psicologia do senso comum. Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia . O que estamos querendo dizer é que as pessoas, em geral, têm um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado pela Psicologia científica, o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico.

É a psicologia científica que pretendemos apresentar a você. Mas, para fazer isto, iniciaremos pela exposição da relação ciência e senso comum; depois falaremos mais detalhadamente sobre ciência e assim esperamos mais detalhadamente sobre ciência e assim esperamos que você compreenda melhor a Psicologia Científica.

O senso comum: conhecimento da realidade

Existe um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a vida do cotidiano que tudo flui, que a coisa acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade. Nesse instante estou lendo um livro de psicologia, logo mais estarei numa sala de aula fazendo uma prova e depois irei ao cinema. Enquanto isso sinto um sono irresistível e preciso de muita força de vontade para não dormir em plena aula, lembro-me de que havia prometido chegar cedo para o almoço. Todos esses acontecimentos denunciam que estamos vivos. Já a ciência é uma atividade eminentemente reflexiva. Ela procura compreender, elucidar e alterar esse cotidiano, a partir de seu estudo sistemático.

Quando fazemos ciência, baseamo-nos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela. Afastamo-nos dela para refletir e conhecer além de suas aparências. O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximam-se e se afastam: aproximam-se porque a ciência se refere ao real; afastam-se porque a ciência afasta-se da realidade, transformando-a em objeto de investigação – o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real.

Para compreender isso melhor, pense na abstração (no distanciamento e trabalho mental) que Newton teve de fazer para, partindo da fruta que caía da árvore (fato do cotidiano), formular a lei da gravidade (fato científico).

Ocorre que, mesmo o mais especializado dos cientistas, quando sai de seu laboratório, está submetido a dinâmica do cotidiano, que cria suas próprias “teorias” a partir das teorias científicas, seja como sua maneira, seja como formas de “simplifica-las” para o uso do dia-a-dia, ou como sua maneira peculiar de interpretar fatos, a despeito das considerações feitas pela ciência. Todos nós – estudantes, psicólogos, físicos, artistas, operários, teólogos – vivemos esse cotidiano e as suas teorias a maior parte do tempo, isto é, aceitamos as regras do seu jogo.

O fato é que a dona de casa, quando usa a garrafa térmica para manter o café quente, sabe por quanto tempo o café permanecerá razoavelmente quente, sem fazer nenhum cálculo complicado e, muitas vezes desconhecendo completamente as leis da termo dinâmica. Quando alguém em casa reclama dores no fígado, ela faz um chá de boldo que é uma planta medicinal já usada pelos avós de nossos avós, sem, no entanto, conhecer o principio ativo de suas folhas nas doenças hepáticas e sem nenhum farmacológico. E nós mesmos, quando precisamos atravessar uma avenida movimentada, com o tráfego de veículos em alta velocidade, sabemos perfeitamente medir a distância e a velocidade do automóvel que vem em nossa direção. Até hoje não conhecemos ninguém que usasse máquina de calcular ou fita métrica para essa tarefa. Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso cotidiano é chamado de senso comum. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros, seria muito complicada a nossa vida no dia-a-dia.

A necessidade de acumularmos esse tipo de conhecimento espontâneo parece-nos óbvia. Imagine termos de descobrir diariamente Quando as coisas tendem a cais , graças ao efeito da gravidade; termos de descobrir diariamente que algo atirado pela janela tenderá a cair e não subir; que um automóvel em velocidade se aproximar-se-á rapidamente de nós e que, para fazer um aparelho eletrodoméstico funcionar precisamos de eletricidade.

O senso comum, na produção desse tipo de conhecimento, percorre um caminho que vai do hábito à tradição, a qual, quando instalada, passa de geração para geração. Assim, aprendemos com nossos pais a atravessar a rua, a fazer o liqüidificador funcionar, a plantar alimentos na época e de maneira correta, a conquistar a pessoa que desejamos e assim por diante.

E é nessa tentativa de facilitar o dia-a-dia que o senso comum produz sua próprias “teorias”; na realidade, um conhecimento que, numa interpretação livre, poderíamos chamar de teorias médicas, físicas, psicológicas etc.

Senso Comum: Uma visão do mundo

Esse conhecimento do senso comum, além de sua produção característica, acaba de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos pelos outros setores da produção do saber humano. O senso comum mistura e recicla esses outros saberes, muito mais especializados, e os reduz a um tipo de teoria simplificada, por produzindo uma determinada visão do mundo.

O que estamos querendo mostrar a você é que o senso comum integra, de um modo precário (mas é esse o seu modo), o conhecimento humano. É claro que isto não ocorre muito rapidamente. Leva um certo tempo para que o conhecimento mais sofisticado e especializado seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando utilizamos, por exemplo, termos como “rapaz complexado”, “ menina histérica”, “ficar neurótico”, estamos usando termos definidos pela psicologia científica. Não nos preocupamos

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