Clínica médica. Por Rubens Bedrikow e Gastão Wagner de Sousa Campos
Por: 1Sapojovial • 3/9/2017 • Resenha • 599 Palavras (3 Páginas) • 258 Visualizações
Clínica médica
Por Rubens Bedrikow e Gastão Wagner de Sousa Campos
Resumo:
O texto de Rubens Bedrikow e Gastão Wagner de S. Campos, busca conceituar a Clínica que conhecemos hoje, trazendo definições propostas por alguns autores, principalmente Foucault. Apresentando um breve histórico que constituiu a Clínica que temos hoje, com suas qualidades e fragilidades em discussão. Trazendo a ideias de Campos GWS e outros, de uma Clínica mais “humanizada” como uma alternativa em potencial paras estas mesmas fragilidades. E por fim, concluindo-se na coexistência benéfica dos dois métodos.
De acordo com Foucault, A Clínica surgiu no século XVIII, durante surgimento da Ciência Moderna, quando o empirismo começava a prevalecer, e o fato observado se tornava mais importante que a explicação da doença. Um dos marcos dessa nova ciência foi a criação de uma nomenclatura a partir da descrição das doenças por Thomas Sydenham e Sauvages de Montpellier. E depois a classificação das doenças de acordo com classe, ordem e gênero, por Linné, modelo classificatório que persiste até hoje. Outro avanço fundamental foi o desenvolvimento da anatomia patológica, que permitiu correlacionar os sintomas às alterações dos órgãos examinados na necrópsia ou sob o olhar do microscópio. Tais mudanças deram origem a Clínica que predomina até hoje.
Esta Clínica se fundamenta unicamente no campo perceptivo, guiada pelo exercício do olhar. Para o autor, “quem deseja conhecer a doença deve subtrair o indivíduo com suas qualidades singulares. A doença é uma ocorrência localizada no corpo, que pode ser conceitualmente separada da pessoa doente”. O exame físico nada mais é do que um método de investigação do corpo e visa estabelecer a relação entre os fenômenos, os antecedentes e os distúrbios constatados, de forma a poder diagnosticar a doença.
É preciso reconhecer que essa Clínica defendida por Foucault, essencialmente empírica, mostrou-se eficaz para responder a vários desafios do processo saúde-doença. Por outro lado, ela se revela frágil para dar conta de demandas que não se enquadrem em diagnósticos anatômicos, funcionais ou etiológicos.
Com o desejo de conseguir uma maior potência da Clínica, surgiram novas iniciativas de “humanização” das práticas médicas, a “Medicina centrada na pessoa” – considerada como um todo, em suas necessidades emocionais e questões existenciais.
Sobre isso, a princípio McWhinney e Freeman diferenciam “doença” de “experiência com a doença”. De acordo com eles, a experiência é o modo único no qual cada pessoa é afetada pela doença. E a doença independe do indivíduo e obedece à lógica do raciocínio fisiopatológico. Para esses autores, uma das características essenciais da Medicina Humanizada é incorporar a experiência com a doença na abordagem do paciente.
Em 2008, a Organização Mundial de Saúde enfatiza a importância do cuidado centrado na pessoa e também aponta diferenças entre os problemas abordados nos níveis secundário e primário. Reconhecendo os limites do método clínico tradicional.
Sobre isso Campos não propõe trocar a doença pelo doente, mas ampliar o objeto de saber e de intervenção da Clínica, incluindo também o Sujeito e seu Contexto. Esta inclusão desafia a ciência positiva, que parte da regularidade das doenças e tem dificuldade de abordar a singularidade dos casos. Para ele, a medicina deveria ser ensinada e aprendida como uma arte de tratar o ser humano doente e não somente a doença.
Por isso, poderíamos analisar os diferentes métodos clínicos dispondo-os em duas grandes correntes: uma com ênfase na doença, e outra voltada para os significados, afetos e singularidades de cada pessoa. Crookshank aponta que os melhores médicos equilibram os dois métodos. E traz a concepção de que não existe uma única verdade e que diferentes métodos podem coexistir, potencializando-se mutuamente. Esta deveria ser uma das principais estratégias dos gestores da saúde.
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