Contando E Encantando Histórias De Vida Em Um Centro De Atenção Psicossocial
Trabalho Universitário: Contando E Encantando Histórias De Vida Em Um Centro De Atenção Psicossocial. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Neme • 18/9/2014 • 3.459 Palavras (14 Páginas) • 431 Visualizações
RESUMO
A Reforma Psiquiátrica tem provocado inúmeras mudanças na atenção ao portador de sofrimento mental, ampliando as formas de intervenção junto a essa população. Este trabalho teve por objetivo relatar a experiência de criação de um grupo de contação de histórias em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). Nesse grupo, por meio da apropriação de contos milenares, histórias do cotidiano e experiências de vida dos próprios participantes, é criado um espaço no qual cada um pode se aproximar de suas emoções, fantasias, pensamentos e medos de maneira metafórica e lúdica, potencializando possibilidades de compreensão do funcionamento psíquico. O grupo ocorre semanalmente, com 20 usuários de ambos os sexos, com duração de uma hora e vinte minutos. Nesse espaço de escuta, acolhimento, lembranças e ressignificação de sentidos, os participantes podem experimentar a si mesmos em outras possibilidades do existir, escrevendo também mais um capítulo da história de vida do próprio grupo.
Palavras-chave: Transtorno mental, Saúde mental, Reabilitação, Assistência à saúde, Grupos de autoajuda.
RESUMEN
La Reforma Psiquiátrica ha provocado diversos cambios en la atención al portador de sufrimiento mental, ampliando las formas de intervención junto a esta población. Este trabajo tuvo como objetivo relatar la experiencia de creación de un grupo de contadores de historias en un Centro de Atención Psicosocial (CAPS). En este grupo, a través de la apropiación de cuentos milenarios, historias cotidianas y experiencias de vida de los propios participantes, se crea un espacio en el cual ellos pueden aproximarse a sus emociones, fantasías, pensamientos y miedos de una forma metafórica y lúdica, potencializando posibilidades de comprensión del funcionamiento psíquico. El grupo funciona semanalmente, con 20 usuarios de ambos sexos, con duración de una hora y veinte minutos. En ese espacio de escucha, acogida, recuerdos y resignificación de sentidos, los participantes pueden probar a sí mismos en otras posibilidades del existir, escribiendo también más un capítulo de la historia de vida del propio grupo.
Palabras clave: Trastorno mental, Salud mental, Rehabilitación, Asistencia a la salude, Grupos de auto ayuda.
ABSTRACT
The Psychiatric Reform has caused numerous changes in care to patients with mental disorder, widening the forms and scope of treatments. This study aimed to present an experience report of the creation of a storytelling group at a Psychosocial Care Center (CAPS). In this group, through the world of ancient tales and participants' own daily stories and life experiences, patients can approach their emotions, fantasies, thoughts and fears in a metaphoric and ludic way, thus improving their chances of gaining a better understanding of their own psychic performance. The group has 20 participants of both genders, and meets weekly for one hour and twenty minutes. In this environment of listening, embracement, memories and review of meanings, participants are able to experience themselves in other possibilities of being. At the same time they write another chapter of the life story of the group itself.
Keywords: Mental disorders, Mental health, Rehabilitation, Healthy care system, Self-help groups.
Prólogo: para início de conversa
Apresentamos neste trabalho o relato de uma experiência de intervenção realizada junto ao Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) de um município do interior do Estado de São Paulo. Esse relato foi estruturado à semelhança de uma narrativa, composta por três partes: Prólogo, Desenvolvimento e Desfecho. A linguagem utilizada é propositalmente coloquial, próxima de uma conversa, uma vez que tentamos nos aproximar, tanto na forma como no conteúdo, do objeto de estudo deste trabalho, que é a narrativa empregada como recurso de cuidado em saúde mental. Para iniciarmos esse relato, julgamos necessário apresentar o contexto da instituição, isto é, o cenário no qual essa história se desenvolveu.
Os CAPS são dispositivos que desempenham função estratégica na rede extra-hospitalar. Tiveram grande expansão após a promulgação da Lei 10.216, em 2001, que redirecionou a assistência em saúde mental no Brasil. Esse instrumento legal foi criado como marco histórico de ampla mobilização social, consolidando movimento que, no Brasil, ficou conhecido como Reforma Psiquiátrica. Esse movimento compreende um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais(1) que busca, entre outras bandeiras, remodelar a assistência em saúde mental.
A expansão dos CAPS e de novas formas de intervenção, implementadas nesses equipamentos, objetivam reduzir a necessidade de internações psiquiátricas e propiciar uma rede de atendimento extra-hospitalar na comunidade de origem para as pessoas com transtorno mental. A missão social dos CAPS é fornecer acolhimento e atenção às pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território(1). Visto dessa perspectiva, o CAPS seria o núcleo de uma clínica ampliada, que promove a autonomia e convida o usuário à responsabilização e ao protagonismo nos diferentes estágios de sua trajetória de tratamento(1).
Seguindo esse objetivo de clínica ampliada, no município de Indaiatuba, SP, o serviço de saúde mental é organizado por meio de três instituições norteadoras do atendimento, a saber: Ambulatório de Saúde Mental, CAPS AD - para usuários dependentes de álcool e drogas - e CAPS II - destinado a portadores de transtorno mental.
No CAPS II existem em torno de 1200 pacientes cadastrados, sendo que, mensalmente, são atendidos aproximadamente 50 usuários em procedimento intensivo (mais de quatro atendimentos por semana), 80 em regime semi-intensivo (até três atendimentos por semana) e 200 em regime não intensivo (até três atendimentos ao mês). A equipe de saúde mental é interdisciplinar, composta por psiquiatras, clínicos gerais, enfermeiro, técnico de enfermagem, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. Além disso, foram firmadas algumas parcerias com a comunidade local e trabalhos voluntários, que proporcionam aos usuários atividades de educação física, yoga, tai chi chuan, biodança, dança do ventre, grupo de leitura e grupo de apoio psicológico.
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