EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: QUEM ENSINA E QUEM APRENDE?
Por: vanessadiasx • 21/6/2020 • Trabalho acadêmico • 3.100 Palavras (13 Páginas) • 211 Visualizações
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: QUEM ENSINA E QUEM APRENDE?
RESUMO
O presente trabalho é resultado de uma pesquisa bibliográfica sobre alfabetização de jovens e adultos e tem como objetivo refletir sobre como estão sendo efetivadas as práticas metodológicas com esse grupo em fase de alfabetização e mostrar os pressupostos teóricos de Paulo Freire, em se tratando do ensino e aprendizagem nessa faixa etária, que conduz a uma educação libertadora. Inicialmente, o texto aborda as características dessa clientela escolar. Em seguida, é feita uma exposição sobre métodos e práticas de alfabetização realizadas, atualmente, com esses educandos, não condizentes com uma educação transformadora. Por fim, traz as propostas metodológicas idealizadas por Paulo Freire para a alfabetização nessa idade. A temática em questão já é ressaltada em pesquisas no âmbito da educação popular, porém a abrangência de investigações nessa área se faz necessária, tendo em vista ampliar saberes e clarificar a visão dos educadores para a realidade atual.
Palavras-chave: EJA. Alfabetização. Ensino aprendizagem.
- INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) atende a uma enorme parcela da população. Pessoas que não tiveram oportunidade de estudar na época certa por falta de tempo, por terem tido outras necessidades mais urgentes ou, ainda, por problemas que enfrentaram durante o início da alfabetização, gerando o fracasso e a evasão escolar. Aliar o trabalho com os estudos, por vezes, é um entrave para alguns, o que traz, como consequência, a saída da escola. Outros aspectos, como os familiares, gravidez precoce, envolvimento com drogas, desmotivação, dentre outros, também podem ser as causas do abandono dos estudos.
A história da EJA é marcada por movimentos que procuraram suprir as necessidades políticas e educacionais de um grupo que vivenciava uma injustiça social representada pelo analfabetismo. Os estudantes da EJA são, em sua maioria, trabalhadores ou mesmo donas de casa que sentiram a necessidade de voltar à escola, não somente para aprender a ler e escrever, mas para dar continuidade aos estudos. Muitos também se inserem em classes alfabetizadoras por terem consciência de que sua integração e inserção no mercado de trabalho dependem do acesso à instrução. Há de se considerar que esses estudantes chegam à sala de aula após um dia cansativo de trabalho, carregados de saberes cotidianos, e que eles veem na EJA uma oportunidade de suprir uma falta que os impede de serem vistos em igualdade para com os outros, nas relações pessoais e/ou de trabalho.
Nessa área da educação, há vários problemas que impedem o adulto de aprender. Um deles é o tipo de trabalho desenvolvido sobre um processo pedagógico construído com base na escolaridade para crianças, assim podemos nos questionar quemsão os que aprende e quemsão os que ensinam? Sabemos que e preciso repensar a EJA sob a visão de uma prática pedagógica diferenciada em sala de aula, levando-se em conta o educando com suas peculiaridades.
A pesquisa pode ser o início de um trabalho inovador de alfabetização de adultos, realizado no coletivo, considerando as vivências locais e regionais dos educandos. Para Brandão (1981), essa pesquisa não parte do pressuposto de uma investigação científica, mas de algo criativo, viabilizando a descoberta da vida por meio da fala e do mundo através da palavra. O conjunto de material, criado com desenhos, palavras, frases e fotos, será um suporte em benefício da aprendizagem, em que o universo investigativo é o mundo de contexto.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Educação de Jovens e Adultos envolve uma problemática que, historicamente, vem desafiando os profissionais da área comprometidos com uma prática educativa problematizadora. Acreditamos que, nós educadores, devemos criar condições no processo ensino/aprendizagem que tornem a busca do conhecimento uma experiência significativa e que, através dela, ensinemos e aprendamos junto com os estudantes, valorizando a experiência vivenciada de maneira contextualizada, reflexiva e autônoma. Como afirma Paulo Freire (1996), jamais podemos perder a esperança em construir uma educação melhor, e para que isso aconteça devemos refletir sobre nossa prática, sobre as atividades desenvolvidas e como elas são utilizadas, uma vez que estas podem tanto levar à submissão, à conformação com a realidade, ou à transformação desta.
Acreditamos que as diferentes concepções sobre os processos do ensinar e do aprender podem, por vezes, gerar um distanciamento entre professores e alunos, interferindo na construção do conhecimento, pois creem que quem sabe e o professor, e em algumas situações isso se confirma, pois surgem muitas dúvidas sobre como superar as chamadas ¨práticas bancárias¨.
Conforme Freire (1987):
O caminho para um trabalho de libertação a ser realizado pela liderança revolucionária não é a propaganda libertadoral. Não está no mero ato de depositar a crença da liberdade nos oprimidos, pensando assim em conquistar a sua confiança, mas no dialogar com eles. Precisamos estar cientes de que o convencimento dos oprimidos de que estes devem lutar por sua libertação não é doação que se lhes faça alguns lustrados, mas resultado de sua conscientização. p.12
Esse tipo de educação é baseada na transmissão de conhecimentos de um professor que é identificado como o que sabe a um aluno como aquele que não sabe, sendo negada sua participação na construção do saber. Como antítese à educação bancária, Freire (1987) trará a concepção de educação libertadora que, mais tarde, vai se consolidar com o nome de Educação Popular, tendo claro que essa corrente pedagógica latino-americana emerge de muitos pilares em nosso continente (TORRES CARRILLO, 2008). Na Educação Popular se faz necessario valorizar cada situação de forma particular, estabelecendo vínculos de partilha e cooperação, auxiliando e respeitando o educando, ouvindo suas expectativas com vistas à conquista de autonomia, numa contínua busca pela emancipação.
Acreditamos que a Educação Popular pode contribuir para reacender ―a chama da esperança‖ das classes populares, pois propõe uma relação educativa que vai além do trabalho com conteúdos escolares, vai em busca da formação do homem-pessoa, ao invés de homemcoisa, do homem como um ser social comprometido com as causas de seu tempo, insatisfeito, curioso, sonhador, esperançoso e fundamentalmente transformador. (PEREIRA e PEREIRA, 2010, p.74)
Segundo tais autores, na medida em que acreditamos no potencial humano e estimulamos a participação de todos, a Educação Popular transforma-se em um laboratório de experimentação conjunta, em vários níveis de atuação, que vão se fazendo presentes encontrando meios de experimentar sua capacidade de pensamento, argumentação e criação. Vale ressaltar que, como afirmam as autoras (AUTORA e OUTRA, 2009, p.136), ao falarmos de Educação Popular, não estamos nos referindo àquela das classes populares, mas à educação com as classes populares, com elas compromissadas e com elas realizadas, mediante o diálogo.
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