Entrevista Doença
Tese: Entrevista Doença. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: d.eeh02 • 29/8/2014 • Tese • 5.761 Palavras (24 Páginas) • 183 Visualizações
Entrevista nº 11
Descreva-me a sua experiência de doença.
Posso começar desde o inicio?
Sim. Como já teve várias experiências pode falar como é que foi detectada a doença e depois falar de um ou outro internamento; aquilo que achar que é importante.
Está bem.
Como são vários é difícil canalizar tudo só num!
É. Isto começou tudo em 2001, comecei assim com uma febre, muito grande e a partir daí, com mialgias que nunca mais passaram… até hoje. E então, recorri a vários médicos, que não me ligaram nenhuma (risos). Fui à neurologista, que me mandou tomar umas vitaminas, se não passasse para voltar ao médico de família; depois num episódio de febre de 39 e tal recorri ao hospital, fiquei lá internada e o diagnóstico foi uma depressão. Com febre de 39 e tal! Que isto era tudo psicológico, por eu ter… pronto, estar longe de casa e isso tudo, uma mudança. Eu fiquei assim, um bocado..pronto, estranhada, porque pelo meu feitio, não achava que fosse uma depressão e as quedas e tudo, achei um bocado estranho. E então recorri a uma série de médicos, até psiquiatra e tudo, que me disse que não tinha nada, não achava nada de … de patologia psiquiátrica e pronto, entretanto, fui a um neurologista cá de Coimbra, a pagar, que me encaminhou á minha médica que é agora a Drª MC, que ela pegou em mim e pronto, começou a fazer exames e isso tudo e começou…por fazer, fiz vários exames, biopsias musculares, porque os meus sistemas avariaram todos,
o sistema gastro-intestinal, coração, urinário e tudo, e ela pegou em mim e pronto. Até o diagnóstico certo ainda não se sabe muito bem. Estão virados para uma desautonomia, mas ainda não sabem ao certo o que é. E até hoje, pronto (tristeza). Ela tem-me tratado com corticoide, uma vez por mês, faço megadoses, que melhoro!!Melhoro o quadro, uma a duas semanas ando melhor e mais nada. E medicamentos virados por exemplo, medicamentos para a hipotensão, medicamentos para quê? Ah, para as náuseas também. E também faço auto-algaliação, faço retenção urinária e pronto, é mais ou menos isto. Depois, o que eu sinto? Cada vez que vou ao médico? No inicio, toda a gente olha para mim como se estivesse doida, não acreditam mesmo, eu sinto isso, que não acreditam. E então, por isso, cada vez que fico doente, eu só quero ir à neurologia lá dos HUC porque já me conhecem e sabem que quando me queixo, é mesmo porque aconteceu alguma coisa. E assim, mais nada. Não me ocorre agora.
Como é que eu me sinto com enfermeira?
Quando vou fazer algum exame ou assim, não sou informada sobre nada do que me vão fazer, esquecem que sou uma pessoa e, nesse momento não sou, não estou lá como enfermeira e necessito totalmente do apoio, como qualquer pessoa, ser informada e isso tudo, e pronto.
E sente que esse apoio lhe é dado, nessas circunstâncias?
Não! Não.
Como é que avalia a postura dos profissionais?
Alguns é com muito receio, de que eu possa estar ali a avaliá-los. Como é que eles trabalham, para mim, tanto faz. Às vezes ser enfermeiro, dizer que é enfermeiro, eu nunca digo, para já, que sou enfermeira!.
Porquê?
Porque acho que não é … eu sou uma doente, não tem que me tratar diferente por ser enfermeira, não é? Eu acho! Não quero nem passar à frente dos outros, nem … só por ser enfermeira, acho que não.
È essa a sua postura?
É! não devo ser tratada diferente!!!(afirmativa) Só por ser enfermeira, não acho que não!
Mas no serviço de neurologia, onde já a conhecem, possivelmente sabem que
é enfermeira? Nota algum tratamento diferente?
Ah! Isso sim. No inicio não notava, mas agora sim porque já temos uma relação de anos. Sinto que sim, ser enfermeira até bom, pronto, somos colegas, pronto, é .. sinto-me bem lá naquele serviço. Eu ser enfermeira, neste momento, também ajuda.
De que maneira é que ajuda?
Pois na relação, na nossa relação, até quando estou lá internada, aquele serviço é muito triste, no geral; neurologia, é tudo AVC’s , problemas já, por vezes, muito graves, as pessoas inconsciente e em estado vegetal praticamente e quando eles entram lá no quarto, pronto, brincamos; eles brincam comigo; e eu ser enfermeira também ajuda porque falamos praticamente a mesma
linguagem, nós fazemos as brincadeiras sem que os utentes, coitadinhos, saibam, mas isso é bom. Mas o resto não, não noto mais nada, não.
Por exemplo, em termos de prestação de cuidados, acha que é tratada na
mesma forma que os outros doentes da unidade?
Sim. Sim. Eu acho que não, pelo menos naquele serviço não noto diferença.
Em termos de ser tratada, ser cuidada por eles; o que sente nesse momento? Ao assumir o papel de doente?
Ao ser enfermeira acho que é pior. Como eu me sinto, porque sinto que me vai acontecer; por exemplo quando, tenho ficado inconsciente e tenho que ser algaliada, é difícil não é?, vou ser algaliada pelos meus colegas; acho que é diferente, seria muito melhor não saber, eu acho!, era melhor não saber!!Ignorar o que é que me vão fazer.
Pelo que eu estou a perceber, o facto de termos conhecimentos, pode não
facilitar a experiência de vivência de doença.
É. Às vezes é!. Eu acho que sim.
Tem assim algum exemplo que se lembre?
Por exemplo, uma vez que fui à urgência, que se enganaram nas minhas análises até acho que já lhe tinha contado, tinha uma creatinina de 6/7 e não sei quê e andava com dormência dos pés e das mãos, e fui à urgência e disseram-me que estava muito
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